Lucas tem 16 anos, vem de família de classe B e cursa uma escola confessional em São Paulo. Quando tinha 12 anos, ganhou seu primeiro computador. Lucas faz parte de uma rede social que teve inicio no ano passado e, como seus colegas, investe nos relacionamentos pessoal e profissional fora dos círculos sociais e comunitários tradicionais. Está ligado ao relacionamento colaborativo de sua geração e, através da internet, participa das chamadas comunidades virtuais, que atraem e envolvem milhões de adolescentes e jovens.
Esse novo estilo de comunidade expande-se rapidamente. Mas por que os jovens buscam essas novas comunidades? O modelo antigo de reunir-se nas escolas, Igrejas e centros juvenis está sendo superado?
Tradicionalmente a comunidade é vista como o conjunto de pessoas situadas e organizadas em estruturas de família, bairros, grupos e agremiações, e sustentadas socialmente por vínculos afetivos e sentido de pertença. As reuniões de grupos de jovens, os encontros de lideranças e os momentos de partilha, formação e estudos sempre seguiram esse padrão. Com a sociedade de informação e as redes sociais, esse modo de se encontrar, social e comunitariamente, está mudando.
Através das redes sociais, as pessoas estabelecem laços de proximidade além do espaço geográfico e criam relacionamentos de intimidade sem proximidade física. Com a comunicação virtual, a velocidade quebra as barreiras geográficas e a interatividade favorece um modo ativo e participativo de relacionamento.
O que são as redes sociais
As redes sociais incluem as redes de relacionamento (como Facebook, Orkut, Twitter, My space) e redes profissionais (Linkedin) ou comunitárias (muitas vezes mantidas por ONGs). Em geral, seus membros têm como interesse a partilha de informações e a troca de conhecimento. Com as novas tecnologias, as redes sociais se ampliam, amadurecem e se fortalecem. E, em muitas situações, tornam-se verdadeiras comunidades nas quais os vínculos são tão reais quanto nos relacionamentos tradicionais.
O novo conceito de comunidade na era da internet está associado à percepção das pessoas em relação às oportunidades de relacionamentos no universo online e do poder que estas adquirem ao encontrar pessoas a partir de um click no computador. Essa maneira de viver e conviver diariamente com o computador ligado à internet gera um impacto psicológico e social.
Quando interagimos com o computador, envolvemo-nos no universo online por meio dos nossos sentidos, desejos, afetividade e imaginação. Esse envolvimento, motivado pelo desejo de buscar outras pessoas para se relacionar, partilhar informações e estabelecer vínculos sociais e políticos, amplia consideravelmente o conceito de comunidade.
Existem, porém, pesquisadores que questionam até que ponto as redes sociais refletem o dia a dia das pessoas e permitem de fato um relacionamento. E há aqueles que vão mais além, sugerindo que dificilmente as relações nas redes sociais substituem as de uma comunidade geograficamente situada.
Pesquisa
Um estudo recente e inédito realizado pela agência de publicidade americana Razorfish e divulgado no Brasil pela revista Exame (20 de outubro de 2010) revela que nos últimos três anos 45 milhões de pessoas da classe C começaram a acessar a internet. Foram entrevistadas quatro mil pessoas em todo o Brasil e, entre os objetivos da pesquisa, estava saber quanto tempo as pessoas passam navegando na internet, como se comportam e o que buscam no universo online.
Os autores do artigo, Renata Agostini e Carolina Meyer, sugerem que “os integrantes da classe C tendem a reproduzir na web o mesmo sistema de redes de ajuda que permeia seu cotidiano offline”. Isso significa que as pessoas usam a internet para ajudar umas às outras a obter um emprego, para consultar preços de mercadorias e para dar informações sobre saúde, viagens, educação e investimentos. Portanto, as novas comunidades online complementam e ampliam a comunicação real ¬ estão justapostas e não em oposição.
Para o jovem Lucas e milhões de internautas, as redes sociais e as comunidades virtuais fazem parte do novo pátio e do novo universo comunitário de relações. Estar na rede é ser socialmente correto. Essa tendência deverá crescer cada vez mais com a popularização da internet e com o aumento do uso de celulares interativos.
Com as facilidades da comunicação online e da nova mentalidade e comportamento dos internautas, o conceito de comunidade tradicional começa a se transformar. O que significa essa mudança para os pais, professores e pastoralistas que cresceram nos padrões das comunidades geograficamente definidas?
Na era da internet, é fundamental e necessário estabelecer um diálogo aberto e interativo com crianças adolescentes e jovens. Conversar com eles sobre como usar de modo crítico, participativo e educativo as novas ferramentas sociais da rede, beneficiando-se com o relacionamento e participação nas comunidades virtuais, mas valorizando ao mesmo tempo os encontros nas comunidades geográficas da escola, da família e da Igreja.
Como funcionam as redes sociaisAtravés do Facebook, Twitter, Linkedin, MySpace, Google Buzz, Orkut, blogs e e-mails, milhões de pessoas postam diariamente textos, frases, vídeos, fotos e músicas, popularizando essas ferramentas digitais, incorporando novas plataformas de navegação e formando mundialmente as redes sociais.
Com o avanço das tecnologias interativas como o Twitter, o Flickr e o MySpace, é possível organizar os conteúdos por meio de um aplicativo (como o Yoono, Flock, TweetDeck) e enviá-los para essas redes específicas ou quaisquer outras (alguns desses programas precisam ser instalados no computador). Essas ferramentas têm permitido o crescimento do marketing online, por meio do qual as pessoas são identificadas e avaliadas a partir da sua formação acadêmica, experiência profissional e de suas preferências e tendências ¬ como o que gosta de comprar, quanto ganha, que tipo de ambientes frequenta, que tipo de amigos prefere e onde faz investimentos.
Como as redes sociais contribuem para a construção de comunidades
As redes sociais podem contribuir para a construção de comunidades de diversas formas.
• Ao constituírem novas oportunidades de relacionamento;
• Ao possibilitarem acompanhar os acontecimentos sociais e políticos diariamente por meio de trocas de noticias, links e material no You-tube, Twitter etc.;
• Ao favorecerem a associação com pessoas de outras culturas e países, por meio da postagem de noticias, fotos e experiências de voluntariado a serviço dos mais necessitados;
• Ao incentivarem o intercâmbio com outros pesquisadores, permitindo o acesso a sites com resultados de pesquisas e o acompanhamento de blogs profissionais, portais de universidades, conferências e palestras;
• Ao tornarem possíveis contatos com novos profissionais e novas empresas por meio da rede social corporativa(Linkedin);
• Ao tornarem possível a publicação e divulgação de criações artísticas e marcas pessoais como músicas, poesias, vendas de produtos, eventos das comunidades e escolas;
• Ao permitirem que colegas que têm um mesmo interesse em alguma área se juntem para estudar por meio de pesquisas comuns (Google imagens, Wikipédia, Jogos Avaliativos como o Farmville), ou ainda para treinamento em realização de testes como Enem e Enade;
• Ao servirem como ferramentas para criar um banco de dados pessoal, organizando publicações em sites de empresas e estudos científicos;
• Ao permitirem a afiliação a grupos eclesiais, movimentos juvenis e movimentos políticos.