Caio é uma criança de 10 anos. Para o aniversário de casamento dos pais, com habilidade tirou fotos com sua máquina digital, fez o download e, por meio do programa de power point, produziu um pequeno “filme” e o apresentou para os convidados que vieram para a festa de aniversário.
Nicole é uma adolescente de 14 anos. Digitaliza imagens, já consegue manipulá-las em photoshop, fez o seu próprio site e blog.
Alessandro, 17 anos, organizou uma rede de seguidores no Orkut, está fazendo marketing de um produto para uma empresa por meio do e-marketing, tem cerca de 150 seguidores, amigos e contatos virtuais. Alessandro faz administração e já está organizando seu próprio negócio.
Essa geração que cresce com as mãos no mouse, ligada à internet e às redes sociais, está revelando, cada vez mais, ser formada por aprendizes inovadores e empreendedores que entram mais cedo no mercado profissional. Isso significa que, futuramente, o mundo dos negócios vai estar nas mãos deles. A nova geração investe naquilo que faz parte de seu mundo e que eles mais gostam: relacionamento online, rede sociais, conexão com pessoas e grupos de interesse.
Linkedin é uma rede social online, fundada em 2002, que atualmente tem cerca de 100 milhões de usuários. Nessa rede qualquer pessoa pode organizar seu perfil, manter-se em contato com empresas, possíveis parceiros, estabelecer malas diretas com esses grupos. Os mais recentes números divulgados pela Linkedin colocam o Brasil, onde a rede teve maior crescimento, com aumento de 428% de usuários, o México, 178% e a Índia, 76%.
A revista Época de 30 de maio desse ano, na sua edição 680, elegeu 40 nomes, com menos de 40 anos, que representam o futuro do Brasil na área de empreendedorismo. A popularidade destes novos empresários foi medida e avaliada com base nas conexões que eles têm nas principais redes sociais. Na escala de avaliação, Alessandro Lariu, Diretor da M. Erickson, tem 469 seguidores, amigos ou contatos virtuais em sua rede social Facebook. Di Ferrero, vocalista da banda NX Zero, tem cerca de 451.593 no Twiter. Thalita Rebouças, escritora, tem cerca de 143.520 no seu Twitter. Antonio Ermírio Neto, criador da Voz, tem cerca de 500 contatos no Linkedin.
Influenciar pelo relacionamento e colaboração
No Brasil, essa nova mentalidade empreendedora está presente nas diversas classes sociais. Um estudo recente da agência de publicidade americana Razorfish, divulgado no Brasil pela revista Exame (edição 978, 20/10/2010, paginas 35-45), revela que nos últimos três anos, 45 milhões de pessoas da classe C começaram a acessar a internet. Uma das conclusões desse estudo sugere que as redes sociais estão se tornando não somente centro de relacionamento entre as pessoas, mas também rede de trabalho e cooperação profissional.
O que explica esse novo fenômeno de jovens inovadores e empreendedores na chamada era da informação e das redes sociais? Relacionamos, a seguir, algumas explicações possíveis.
- A Interatividade natural com as novas tecnologias: as crianças e jovens, cada vez mais, têm computadores em casa, carregam seus laptops para a escola, estão sempre conectados nos escritórios, nos carros e nos momentos de lazer. Para eles, as tecnologias digitais são parte do dia a dia.
- Eles fazem o que gostam: a geração internet considera trabalho e divertimento como elementos interativos. Criatividade e descontração convivem naturalmente. Há um envolvimento prazeroso e criativo que incita o espírito inventivo e a curiosidade por novas possibilidades.
- A internet é tecnologia, é relação e é modo de viver: a internet é uma parceira fundamental para o sucesso dessa geração no mundo profissional. É um tipo de mídia que não exige grandes investimentos e tem alcance mundial. Enquanto, no passado, as pessoas concorriam, no mercado profissional, com a idade e experiência, ou precisavam passar vários anos em uma universidade para conquistar um diploma, a geração internet segue uma dinâmica rápida e fluida para estabelecer seus negócios. Eles sabem que é importante aprender e aplicar o conhecimento na vida prática, interagir com os outros e fazer de uma ideia um projeto, um negócio, uma realidade.
- Imaginação criativa e construção da lógica digital e interativa: eles seguem a lógica da sequência da linguagem informática e de rede da internet. O modo de processarem as informações e imagens digitais, a velocidade de navegar entre um sítio e outro, as múltiplas opções de fazer download, integrar imagens e sons, o imenso espaço nos pendrivers para armazenar e partilhar informações favorecem o espírito criativo e inovador. A liberdade de navegar em um ciberspace com milhões de sites, a competição que enfrentam para ser sempre melhores nos ambientes de trabalho fazem com que essa geração se movimente mais rápido, estabeleça redes de relacionamento e exerça forte influência no estilo de vida da sociedade.
- Novas habilidades e competências interativas: essas habilidades e competências com as novas mídias oferecem à geração internet maior flexibilidade, criatividade e outros meios de aprender e se profissionalizar.
- A construção de uma cultura nova de relacionamento e colaboração: uma pesquisa realizada por Don Tapscott com 10 mil pessoas que cresceram na era digital revelou que a nova geração de profissionais está mudando os ambientes de trabalho, ao qual trazem um estilo colaborativo, exigência de qualificação, flexibilidade, senso empreendedor, sentido de inovação e obtenção de melhores resultados.
- Uma atitude inovadora e empreendedora nos ambientes de trabalho: os membros da geração internet chegam ao mundo do trabalho com uma nova postura. São donos de uma cabeça aberta, ávidos por aprender e interagir com colegas no trabalho, para expandir a empresa nas redes sociais colaborando com seu crescimento.
Liderar pela competência e resultados
No passado, os critérios para estabelecer se um jovem estava preparado para entrar no mundo do trabalho dependiam de se ele sabia escrever corretamente um oficio, uma carta ou um memorando. As novas gerações têm mais oportunidades para acesso a informações e maiores possibilidades de ascensão e escolhas profissionais. Por isso, não procede o argumento de que os membros da geração internet não gosta muito de trabalhar, que não têm disciplina ou que são despreparados. Evidentemente que esses problemas existem, como existiam no passado, porém, experiências de resultados positivos demonstram a competência das novas gerações.
Pela primeira vez na história, um adolescente ou um jovem, utilizando um computador ligado à internet, é capaz de criar seu próprio negócio e estabelecer uma rede de amigos, colaboradores, clientes e empreendedores. Com certeza, o futuro dessa geração, aos poucos, vai mudando a cultura de como trabalhar, gerenciar as empresas, sejam elas públicas ou privadas. Essa nova mentalidade está mudando o modo das pessoas trabalharem nas instituições educacionais, nas indústrias, nas fábricas, nos setores de distribuição de mercadorias, de marketing e avança rapidamente.
O aumento contínuo e rápido dos jovens empreendedores no mercado profissional e a modernização das empresas através das novas tecnologias da informação e redes socias indicam que em breve, o novo poder empreendedor estará nas mãos da geração do Caio, da Nicole e do Alessandro.