Desde as suas origens, o carisma salesiano se propõe o objetivo de “formar bons cristãos e honestos cidadãos”, segundo as palavras do próprio Dom Bosco. Formar o honesto cidadão implica criar processos que levem a pessoa a agir com responsabilidade, criticidade e coerência de vida em qualquer situação. Com o advento da cultura digital, a formação para a cidadania digital é uma consequência imediata do agir educativo salesiano.
O Quadro Referencial da Pastoral Juvenil dos Salesianos coloca a necessidade de atuar com projetos orientados para criar processos comunicativos, ou seja, não basta propor atividades ou ações isoladas, é preciso gerar processos que facilitem a formação para a cidadania digital necessária a fim de que o jovem possa atuar de forma significativa nos lugares onde se encontra.
Linhas operativas
O documento aponta ainda algumas linhas operativas de intervenção que merecem ser relembradas aqui:
- Formação para o uso crítico e educativo dos meios de Comunicação Social e das novas tecnologias;
- Envolvimento na produção de mensagens e conteúdos destinados especificamente aos jovens, utilizando os meios à disposição;
- Valorização da comunicação social como novo espaço de associação dos jovens;
- Promoção e apreço de todas as formas e expressões de comunicação como a música, o teatro, o cinema, a televisão, a fotografia, os cartuns, as multimídias e outras expressões da arte, com uma clara finalidade educativa e evangelizadora.
Educomunicação
Também as Linhas Orientadoras da Missão Educativa das Filhas de Maria Auxiliadora trazem a perspectiva comunicativa como um elemento primordial na educação salesiana e apresentam a Educomunicação como prática transversal do carisma.
Segundo o documento, “ela orienta as comunidades educativas a assumir com maior consciência os aspectos comunicativos do Sistema Preventivo, a entrar com inteligência e competência na nova cultura digital, para dar um aporte significativo à qualidade da comunicação. As novas linguagens tecnológicas requerem educadoras e educadores capazes de captar suas potencialidades de humanização e, ao mesmo tempo, de evidenciar seus pontos vulneráveis para ajudar os jovens a utilizá-las de modo crítico e criativo”.
Tanto para as Salesianas, quanto para os Salesianos, educar para a cidadania digital é uma necessidade e um compromisso dos quais não é possível se omitir. Em um contexto sociocultural em que o ambiente digital passa a ser um lugar habitado e parte do cotidiano, a educação precisa tratar desta temática para ajudar os jovens a movimentarem-se com maior liberdade e responsabilidade nesse ambiente.
Em uma sociedade democrática, o uso e o acesso às tecnologias constituem um primeiro elemento que precisa ser pensado e os educadores e instituições salesianas precisam lutar por este direito, engajando-se nas ações voltadas para a democratização dos meios. Além do direito ao acesso, a sociedade democrática, marcada pela liberdade de expressão, precisa ser pautada pela responsabilidade com que se comunica algo.
Fake news
Neste sentido, é interessante trazer presente o atual debate em torno das fake news, que levanta uma série de questões éticas e cidadãs e que aponta à necessidade primordial de educar para o uso consciente e responsável da comunicação. Existe uma clara necessidade de formação das pessoas para o uso adequado dos meios, exigindo não apenas a formação de valores humanos e democráticos, mas também a capacidade de análise crítica dos conteúdos oferecidos e difundidos nas diferentes mídias.
Para tanto, são fundamentais o conhecimento e a capacitação para que a pessoa esteja em condições de discernir o que é fato e o que é uma manipulação da verdade em favor de interesses particulares. Daí a necessidade de uma educação de qualidade e de uma formação integral que levem o sujeito a interpretar a realidade, partindo do ponto de vista daqueles que são os mais fracos e inexpressivos na sociedade.
Assim, educar para a cidadania digital é um compromisso da educação salesiana e está ligado ao desejo de construção de um mundo segundo os critérios evangélicos, tendo em vista a construção do Reino de Deus no aqui e agora de nossa história.
Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).
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