Cidadania digital segundo os documentos da Igreja

Segunda, 11 Mai 2020 11:25 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Cidadania digital segundo os documentos da Igreja iStock.com
Embora seja um tema relativamente novo, a cidadania digital é algo que aparece muito claramente no magistério da Igreja. Há uma rica bibliografia que aborda a temática sob diversos ângulos e que permitem ao cristão se posicionar diante das redes sociais com autonomia e criticidade.  

A Igreja não condena nem idolatra o mundo digital, mas o coloca como espaço de relação tal e qual o mundo real e para o qual a pessoa precisa ser educada a conviver, conforme veremos a seguir.

 

Na 50ª. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, o Papa Francisco coloca que “o ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral”. Para o Papa Francisco, “em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos, mas é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha”. Portanto, a cidadania digital é algo que faz parte do nosso cotidiano e que pode ser um espaço de crescimento mútuo de toda a sociedade.

 

Empoderamento social

Nesta mesma linha de pensamento, na Exortação Apostólica Christus Vivit o Papa Francisco afirma que “o mundo digital é um contexto de participação sociopolítica e de cidadania ativa, podendo facilitar a circulação duma informação independente capaz de tutelar eficazmente as pessoas mais vulneráveis, revelando as violações dos seus direitos”. Uma posição de leitura positiva que permite ver o que há de bom nesta praça, enquanto espaço de construção da cidadania.

 

De fato, a internet possibilita que àqueles que nunca puderam ser ouvidos que agora tenham espaço e possam expressar-se livremente. Isso constitui uma possibilidade de empoderamento político sem precedentes. Encontramos canais disponíveis para as reinvindicações sociopolíticas e para a reinvindicação dos direitos humanos de forma muito simples e que permitem o engajamento de milhões de pessoas na mesma causa.

 

Encontro com Deus

É importante perceber também que o ambiente da rede não é apenas um espaço de empoderamento social e político, mais ainda, é um espaço de encontro com Deus, em que segundo o Papa Bento XVI permite aos cristãos estar “oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era «digital», os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral”.

 

Por outro lado, não podemos cair numa visão simplista, acreditando que todos os problemas serão resolvidos pela acessibilidade oportunizada pelas redes sociais. Elas trazem consigo inúmeros problemas que não podem ser omitidos. Num de seus discursos o Papa Francisco coloca: “O ambiente digital é também um território de solidão, manipulação, exploração e violência, até ao caso extremo da dark web. Os meios de comunicação digitais podem expor ao risco de dependência, isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta, dificultando o desenvolvimento de relações interpessoais autênticas. Difundem-se novas formas de violência através das redes sociais, como o cyberbullying; a web é também um canal de difusão da pornografia e de exploração de pessoas para fins sexuais ou através do jogo de azar”.

 

Emergência educativa

A Igreja não ignora que as redes sociais podem ser instrumentalizadas de modo a proporcionar a manipulação e a ideologização da sociedade, bem como, formar para um isolamento que tende ao individualismo e distanciamento do sofrimento do outro. Isso pode acontecer dependendo do uso que se faz destes meios. Não quer dizer que eles sejam maus em si.

 

No documento Educar Hoje e Amanhã, Uma paixão que se renova, está escrito: “Particularmente os jovens precisam de ser ensinados, ‘não só a comportarem-se como verdadeiros cristãos, quando são leitores, ouvintes ou espectadores, mas também a saber utilizar as possibilidades de expressão desta linguagem total que os meios de comunicação põem ao seu alcance. Sendo assim, os jovens serão verdadeiros cidadãos desta era das comunicações sociais, de que nós conhecemos apenas o início’ uma era em que os mass media são vistos como ‘parte de uma cultura ainda em desenvolvimento, cujas plenas implicações ainda são compreendidas imperfeitamente’”.

 

Vivemos uma verdadeira emergência educativa, em que nos damos conta de que é necessária uma ação educativa consistente que trabalhe com o mundo digital, educando as crianças, adolescentes e jovens e andarem dentro da rede como verdadeiros cidadãos, conscientes de seus valores, da dignidade humana e do sonho de Deus para a humanidade. É um trabalho árduo do qual a Igreja não pode abrir mão e precisa encontrar meios para atingir esta nova geração.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).

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Cidadania digital segundo os documentos da Igreja

Segunda, 11 Mai 2020 11:25 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Cidadania digital segundo os documentos da Igreja iStock.com
Embora seja um tema relativamente novo, a cidadania digital é algo que aparece muito claramente no magistério da Igreja. Há uma rica bibliografia que aborda a temática sob diversos ângulos e que permitem ao cristão se posicionar diante das redes sociais com autonomia e criticidade.  

A Igreja não condena nem idolatra o mundo digital, mas o coloca como espaço de relação tal e qual o mundo real e para o qual a pessoa precisa ser educada a conviver, conforme veremos a seguir.

 

Na 50ª. Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, o Papa Francisco coloca que “o ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral”. Para o Papa Francisco, “em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos, mas é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha”. Portanto, a cidadania digital é algo que faz parte do nosso cotidiano e que pode ser um espaço de crescimento mútuo de toda a sociedade.

 

Empoderamento social

Nesta mesma linha de pensamento, na Exortação Apostólica Christus Vivit o Papa Francisco afirma que “o mundo digital é um contexto de participação sociopolítica e de cidadania ativa, podendo facilitar a circulação duma informação independente capaz de tutelar eficazmente as pessoas mais vulneráveis, revelando as violações dos seus direitos”. Uma posição de leitura positiva que permite ver o que há de bom nesta praça, enquanto espaço de construção da cidadania.

 

De fato, a internet possibilita que àqueles que nunca puderam ser ouvidos que agora tenham espaço e possam expressar-se livremente. Isso constitui uma possibilidade de empoderamento político sem precedentes. Encontramos canais disponíveis para as reinvindicações sociopolíticas e para a reinvindicação dos direitos humanos de forma muito simples e que permitem o engajamento de milhões de pessoas na mesma causa.

 

Encontro com Deus

É importante perceber também que o ambiente da rede não é apenas um espaço de empoderamento social e político, mais ainda, é um espaço de encontro com Deus, em que segundo o Papa Bento XVI permite aos cristãos estar “oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era «digital», os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral”.

 

Por outro lado, não podemos cair numa visão simplista, acreditando que todos os problemas serão resolvidos pela acessibilidade oportunizada pelas redes sociais. Elas trazem consigo inúmeros problemas que não podem ser omitidos. Num de seus discursos o Papa Francisco coloca: “O ambiente digital é também um território de solidão, manipulação, exploração e violência, até ao caso extremo da dark web. Os meios de comunicação digitais podem expor ao risco de dependência, isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta, dificultando o desenvolvimento de relações interpessoais autênticas. Difundem-se novas formas de violência através das redes sociais, como o cyberbullying; a web é também um canal de difusão da pornografia e de exploração de pessoas para fins sexuais ou através do jogo de azar”.

 

Emergência educativa

A Igreja não ignora que as redes sociais podem ser instrumentalizadas de modo a proporcionar a manipulação e a ideologização da sociedade, bem como, formar para um isolamento que tende ao individualismo e distanciamento do sofrimento do outro. Isso pode acontecer dependendo do uso que se faz destes meios. Não quer dizer que eles sejam maus em si.

 

No documento Educar Hoje e Amanhã, Uma paixão que se renova, está escrito: “Particularmente os jovens precisam de ser ensinados, ‘não só a comportarem-se como verdadeiros cristãos, quando são leitores, ouvintes ou espectadores, mas também a saber utilizar as possibilidades de expressão desta linguagem total que os meios de comunicação põem ao seu alcance. Sendo assim, os jovens serão verdadeiros cidadãos desta era das comunicações sociais, de que nós conhecemos apenas o início’ uma era em que os mass media são vistos como ‘parte de uma cultura ainda em desenvolvimento, cujas plenas implicações ainda são compreendidas imperfeitamente’”.

 

Vivemos uma verdadeira emergência educativa, em que nos damos conta de que é necessária uma ação educativa consistente que trabalhe com o mundo digital, educando as crianças, adolescentes e jovens e andarem dentro da rede como verdadeiros cidadãos, conscientes de seus valores, da dignidade humana e do sonho de Deus para a humanidade. É um trabalho árduo do qual a Igreja não pode abrir mão e precisa encontrar meios para atingir esta nova geração.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).

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