Palavra e ação
Dom Bosco defendeu uma concepção de pedagogia que tem como seus principais meios educativos a “palavra” e a “ação”, porque uma e outra, testemunhadas pela história, têm uma influência eficaz sobre a razão e a livre vontade do homem, elementos essenciais do ato educativo. A palavra ilumina, exorta, é veículo da verdade; a ação, ao invés, pode proporcionar para o jovem um sentimento que o incita a assumir e até superar os bons exemplos oferecidos pelo assistente. Para Dom Bosco a assistência era ao mesmo tempo instrução e exemplo, isto é, fatores positivos envolvendo a educação, significando muito mais que vigilância e disciplina.
Os assistentes eram pessoas que agiam em sentido educativo, exercitando uma ação construtiva. Prova de tal crença encontramos no Regulamento quando ele escreveu: “a presença dos Assistentes entre os alunos não seja somente material, mas eficazmente educativa”. Dom Bosco, em 11/03/1869, ao ministrar uma conferência para os salesianos, afirmou: “Eis, pois o meu desejo: que vocês procurem estar sempre em meio aos jovens em tempo de recreio, conversem, divirtam-se com eles, deem-lhes bons conselhos” (MB. IX). Ao solicitar que os assistentes estivessem sempre em meio aos jovens, de uma forma direta, Dom Bosco mostra que a assistência é uma síntese da palavra e da ação/exemplo.
Prevenção
A assistência, no sistema preventivo, apresenta outra face: aprevenção. Para Dom Bosco o importante era prevenir e não remediar o mal: “Assistindo se previne suficientemente o mal e não há necessidade de reprimir” (M.B. XVI). Ao colocar a prevenção como chave de rara importância em seu sistema, Dom Bosco defende, de modo radical, o combate ao mal e a abolição dos castigos.
A não aceitação do castigo por parte de Dom Bosco nos anos 1800, no qual a “disciplina era o som da vara”, foi uma das ideias audazes defendidas por ele e que hoje continua sendo uma excelente proposta para a Pedagogia. De fato, o castigo, hoje, se encontra codificado na maioria absoluta das nações como elemento a ser excluído em qualquer instituição educativa.
É bom salientar também, que as razões da abolição do castigo no sistema preventivo não estão sustentadas pelos pensamentos das diferentes correntes definidoras de modelos de escolas. A abolição dos castigos defendida por Dom Bosco está sustentada na teoria da bondade originária ou na “impecabilidade” do jovem.
Presença educativa amorosa
Para Dom Bosco, a assistência não é vista como parte de um sistema no qual imperam somente os meios coercitivos. Ela é, ao invés, presença educativa amorosa, instrumento da mais sensível caridade que se traduz em Amorevolezza.
Para Dom Bosco o assistente é o pai, amigo, irmão maior, que deixa falar muito e que fala pouco e é a presença animadora, alguém que o jovem pode dar a mão na busca por novos horizontes. É por isso que o assistente se faz pequeno sem diminuir-se, curva-se sem perder a dignidade, e também participa dos atos de piedade com os jovens. Neste ponto, assistente e jovem encontram-se nos deveres, como membros de uma mesma família.
Confiança
No sistema preventivo a convivência contínua entre assistente e jovem é a condição sine qua non para que as ações educativas estejam revestidas deconfiança e possam produzir relações voltadas para a promoção e o amadurecimento da juventude. Dom Bosco, em 10 de maio de 1884, na célebre carta enviada de Roma, afirmou: “A confiança põe uma corrente elétrica entre os jovens e os superiores, os corações se abrem e se fazem conhecer as necessidades e até mesmo os defeitos” (M.B. XVII).
Neste espírito de confiança Dom Bosco coloca também a eficácia de seu sistema. Para ele, a confiança, fundamento da familiaridade, é o alvo das ações educativas. Ações que devem demonstrar sempre um caminho simples e revolucionário que vai do acolhimento ao amor, da familiaridade ao afeto, à confiança, à consolidação de uma obra libertadora e, por fim, à sustentação de uma obra transmissora do valor ”verdade”.
A Palavra é, na proposta original de Dom Bosco, para a assistência, aquilo que é recomendado para o nascer e o consolidar de um projeto de amadurecimento do jovem, e que o levará a um comportamento que traduza sempre o “bom cristão e o honesto cidadão”, isto é, o “sujeito” moral e espiritualmente correto. Porém, de acordo com Dom Bosco, é preciso que a Palavra venha acompanhada da Ação, isto é, do exemplo. Palavra por palavra, discurso vazio, sem sintonia com a experiência de vida, o vento da irrelevância condena-a ao exílio nos porões da insignificância.