O Projeto Operativo de Dom Bosco tem como um de seus principais referenciais talvez o mais próximo de todas as ações educativas desenvolvidas nas escolas e oratórios, o Protagonismo Juvenil. Em suas intencionalidades, esse projeto busca consolidar um conjunto de ações voltadas para o crescimento e o desenvolvimento da juventude, visando dotá-la das habilidades sociais e da competência social necessárias para um posicionamento mais consciente e criterioso diante das complexidades e dos desafios da vida.
Hoje, mais do que nunca, sabemos que existem “gritos” expressivos dos jovens exigindo participação, autonomia e cidadania, enfim, protagonismo. Porém, o que está em jogo é a questão de como consolidá-los, fazê-los ecoar no coração e na mente dos jovens.
Acredito que os “gritos” da juventude poderão ser consolidados, poderão tornar-se dados indissociáveis de nossa cultura, quando nós, pais e educadores, optarmos, com radicalidade, por um trabalho educativo voltado ao desenvolvimento das habilidades sociais e da competência social de nossos jovens.
Significado
Você, leitor ou leitora do Boletim Salesiano, parte fundamental de nosso diálogo (in)formativo, deve estar começando a se perguntar sobre o significado das habilidades sociais e da competência social. Considero que as habilidades sociais e a competência social estão profundamente identificadas com o que chamamos de "assertividade".
A assertividadeé uma atitude, uma orientação interna e fundamental, que o ser humano deve desenvolver, estando associada à sua capacidade de criar e defender uma postura ou argumento, apoiando-se na confiança em si mesmo e no próprio juízo, sem que esteja submetido ao modismo, ao socialmente aceitável ou popular. Ela também inclui a capacidade para defender direitos próprios, respeitar os direitos alheios, não ser agressivo e ser distinto das demais pessoas.
Sendo assim, a assertividadeé concebida como uma atitude que proporciona a conquista de habilidades, chamadas sociais, características do comportamento do ser humano, não universais, variando de acordo com a situação vivida ou com a pessoa que as adota. Tal atitude, ao proporcionar a conquista das habilidades sociais, contribui para a formação de personalidades sólidas, menos expostas às pressões e manipulações do meio e com condições para definir um projeto de vida autônomo, competente socialmente. As principais habilidades sociais estão relacionadas à comunicação, à civilidade, à cidadania, ao trabalho, à expressão de sentimentos positivos. Enfim, às classes de comportamentos existentes no repertório dos indivíduos e que proporcionam um desempenho socialmente competente (competência social).
Segundo Michelson, em sua obra Las habilidades sociales em la infancia: evoluación e tratamiento (Martínez Roca, 1987), podemos afirmar que a pessoa competente socialmente é aquela que adquire um conjunto de comportamentos, verbais e nãoverbais, oportunizadoras de uma interação com o meio sem que provoquem consequências danosas na esfera social. Para Michelson, é competente socialmente quem consegue conquistar as chamadas habilidades sociais.
Aquisição
Os jovens, para aprender e adquirir as habilidades sociais, para tornarem-se competentes socialmente, devem ser respeitados e alimentados por direitos que conhecemos como assertivos Dentre eles, os pais e educadores devem estar atentos para incentivar nos jovens:
· A clareza para julgar sobre suas próprias emoções, pensamentos e comportamentos e, sobretudo, se são responsáveis pela solução dos problemas vividos pelos outros.
· A coragem para mudar de opinião, sempre que se fizer necessário.
· A tranquilidade para assumir erros, sendo responsáveis pelos mesmos.
· A firmeza de admitir que não sabem, que não entendem alguma coisa, sem experimentar humilhação.
· A independência com relação aos outros, sem abrir mão de um relacionamento baseado na solidariedade.
· A autenticidade para serem eles(as) mesmos(as).
· A capacidade de atuar de maneira autônoma, sem dar satisfação de seus comportamentos quando estiverem conscientes de seus atos.
Respeitando e alimentando os direitos assertivos, pais e educadores ajudarão a preparar jovens capazes de resistir às pressões sociais e a toda tentativa de manipulação emocional que, com certeza, atrapalham o desenvolvimento humano harmônico.
Alimentar, fazer brotar, respeitar os direitos assertivos, na relação com os jovens, é fundamental para que possamos consolidar nos mesmos personalidades fortes, marcadamente presentes no mundo, geradoras das mudanças necessárias nas estruturas que sustentam a nossa sociedade.
Ao assumirmos, como seguidores fiéis de Dom Bosco, a proposta de trabalhar o protagonismo juvenil, a partir do entendimento das habilidades sociais e da competência social, em conexão com o conceito de assertividade, assumimos uma proposta educativa dinâmica, que é capaz de preparar o jovem para o planejamento, a intervenção e a modificação dos fenômenos sociais; uma proposta que faculta ao jovem a oportunidade de tornar-se sujeito, construtor de si mesmo e das relações com o mundo e as pessoas.