Constitui também um conjunto de experiências e relações humanas, construído pessoal e comunitariamente, que pode permitir ao jovem encontrar Deus, realizar o seguimento de Jesus Cristo na iluminação do Espírito Santo, tendo como objetivo a definição de um serviço voltado para os seus semelhantes e a instauração do processo de salvação.
É no cotidiano que o jovem pode descobrir o Senhor da Vida. Pode descobri-lo na vida familiar, no trabalho, no lazer, enfim, nos fenômenos sociais que representam a rede de significados para o existir da pessoa humana. É nele que o jovem deve tecer seus projetos de salvação, mediado por uma série de ações educacionais e formativas. Na rede de significados é onde está presente o Senhor da Vida, que o projeto de Dom Bosco deve realizar-se para conduzir o jovem à verdadeira maturidade humana.
O cotidiano é para a espiritualidade salesiana um campo fértil para a materialização do seu carisma, porquanto é nele que estão os jovens, destinatários da salvação frente às urgências do Reino que está chegando.
O educador salesiano e a sintonia com o cotidiano
Para nós, educadores salesianos, estar em sintonia com o cotidiano é de fundamental importância. Nele viveremos lado a lado com a juventude, fazendo-a perceber que o motor de nossa ação, de nosso agir pedagógico e pastoral, é a presença de Deus e de seu amor em nossas vidas.
Esta percepção do Senhor da Vida é geradora de oportunidades riquíssimas para que o jovem desenvolva uma opção radical, madura, sensível pelo seu agir histórico; desenvolva uma vocação identificada com um real compromisso com o outro, com a justiça, a paz, a comunhão, o amor, enfim, com atitudes capazes de proporcionar uma abertura competente para a construção de homens novos, ou seja, a construção de uma sociedade que reflita o “Céu na Terra”.
Aprofundar a percepção da presença do Senhor da Vida no cotidiano é uma das mais importantes facetas da espiritualidade salesiana, uma das mais desejadas metas de qualquer comunidade educativa envolvida com o projeto operativo de Dom Bosco.
Exigências para a percepção do Senhor da Vida por parte dos jovens
Para que a percepção do Senhor da Vida constitua uma verdade, algo de fácil compreensão por parte dos jovens, devemos, em primeiro lugar, buscar a transformação da vida de nossa comunidade educativa, tornando-a profundamente evangélica, onde o proclamar-se cristão não represente um discurso vazio, de intencionalidades individualistas/personalistas e, sim, uma abertura às exigências práticas das Bem-Aventuranças e à Graça do Glorioso Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em segundo lugar, precisamos aprofundar nossas reflexões e vivências sobre o Mistério da Encarnação, isto é, sobre a condição humana de Jesus, sua realidade histórica, postura de servidor na relação com o Plano de Deus para a humanidade.
As duas exigências irão, processualmente, servir de sustentação para a existência de uma nova comunidade educativa; com a finalidade do projeto operativo de Dom Bosco: a formação do “bom cristão e do honesto cidadão”.
A comunidade educativa como espaço vivo da espiritualidade salesiana
A comunidade educativa deve, inicialmente, acolher responsavelmente os jovens, respeitando suas individualidades, escutando suas necessidades, valorizando sua cultura e prestigiando a linguagem que envolve seus projetos de vida. Assim a comunidade educativa irá oportunizar diferentes caminhos na trajetória histórica da juventude. Tal postura com relação à materialidade da existência juvenil, do mundo jovem, será determinante para que, posteriormente, os educadores possam fazer a integração entre vida e fé.
É na comunidade educativa que o jovem terá oportunidades mais eficazes de, integrando vida e fé, cultivar os valores que determinarão uma personalidade sadia e integral. Uma personalidade capaz de torná-lo uma pessoa contemporânea, aberta aos desafios da realidade e agente das mudanças estruturais necessárias para a consolidação da sociedade desejada.
É na comunidade educativa, onde todas as forças envolvidas devem estar comprometidas com o repensar o EU frente ao OUTRO, redefinindo identidades e assentando novas relações para a salvação dos jovens, que a espiritualidade salesiana deve estabelecer:
· O diálogo constante entre a definição e consolidação de um projeto de vida e o cotidiano, a realidade juvenil.
· A busca do real sentido da vida, reduzindo toda experiência de solidão, anonimato, invisibilidade, individualismo e impessoalidade a uma expressão, sem valor, do cotidiano.
· A vivência da experiência de Deus, no seguimento de Jesus, para que todas as transformações que a sociedade necessita aconteçam e façam da vida uma “deliciosa prova” da eternidade.
José Augusto Abreu Aguiar é professor da Rede Salesiana de Escolas, no Instituto Nossa Senhora da Glória, em Macaé, RJ.