Você certamente já escutou alguém na sua família ou escola falar, com certa preocupação: “Meu filho estuda com a TV ligada, escutando música, falando com colegas no MSN, navegando na internet. Ele está estudando mesmo?”. Dias atrás um educador me dizia com toda sinceridade e certeza possíveis: “Não tenho dúvida que a geração internet tem acesso a mais informação que a minha geração, porém eles não são bem formados”. E recordo daquela professora de Português que na reunião de professores desabafava: “Os alunos de hoje não sabem escrever direito porque só usam computadores”.
No campo oposto há aqueles que apostam no uso das novas tecnologias e acreditam que a educação está passando por um grande momento de transformação. Para esse grupo, o presente e o futuro da educação passam pelo uso das novas tecnologias e pela interação delas com os diversos modelos educativos.
Sabemos do imenso e crescente impacto que a internet tem na vida das pessoas. Esse impacto é maior para os chamados nativos da internet; as crianças, jovens e adultos que cresceram em contato com o computador e com a internet.
No entanto, para os educadores e pais, para quem tem uma visão mais positiva ou não das novas tecnologias, surgem questões sérias e necessárias: Como a geração internet está aprendendo? Como integrar informação com formação? Está na hora de repensar algumas práticas e orientações educacionais? Como utilizar adequadamente as tecnologias virtuais na educação presencial?
Do giz ao mouse e da lousa à tela
A passagem do famoso giz para a tela do computador representa um salto no uso de tecnologias na educação. Mas não é algo novo. No Brasil, desde a década de 1950 já havia tentativas bem sucedidas de uso de tecnologias nas escolas e universidades. Na década de 70, educadores começaram a elaborar conceitos procurando superar uma visão funcionalista e integrando o uso das tecnologias com os postulados básicos das teorias de aprendizagem. Nos anos 80, o uso da informática na educação foi ampliado e no início do novo século, com a política da inclusão digital, tornou-se necessário e obrigatório o investimento em novas tecnologias. Mais recentemente, com a expansão e popularização da internet e do uso em rede de portais educativos compartilhados, temos vários avanços e experiências que gostaria de citar e sugerir para educadores e pais.
Primeiro, é importante organizar nas escolas uma política consistente e contínua sobre como utilizar as novas tecnologias na educação. Essa política pode ser desenvolvida, por exemplo, a partir de um estudo com os educadores sobre como integrar as novas tecnologias ao ensino presencial. Várias escolas têm construído as suas bibliotecas digitais a partir de produções multimídias. Livros, revistas e vídeos podem ser melhor aproveitados por meio da criação de material digital para ser publicado em sites ou no You-Tube, por exemplo. Através de MSN, Orkut, Facebook e e-mails, a interação entre os professores e entre educadores e estudantes pode facilitar trabalhos e projetos de pesquisa.
O conceito de trabalhar e produzir em rede de modo interativo é fundamental para educadores e estudantes. Tenho observado como os estudantes gostam de explorar o universo online, buscando endereços de sites novos, organizando as informações de acordo com sua curiosidade e interesse e, sobretudo, expressando seu espírito de inventividade. Don Tapscott, em sua pesquisa sobre como os estudantes estão aprendendo na era da internet, demonstra com dados e evidências que os estudantes de hoje não querem meramente repetir conceitos, mas sim explorar e re-inventar as coisas. Aprendem melhor quando se envolvem no aprendizado em rede. Um exemplo disso é a participação de estudantes na Wikipédia.
Recentemente, a Wikipédia, a maior enciclopédia online, celebrou seus dez anos de existência. A Wikipédia tem cerca de 400 milhões de usuários e a meta é chegar a 1 bilhão. Uma das estratégias para isso consiste em diversificar e ampliar os colaboradores em nível mundial. Com cerca de 17 milhões de verbetes, redigidos de modo colaborativo por pessoas voluntárias de todo o mundo, a Wikipédia demonstra como na era da internet o conhecimento pode ser produzido e compartilhado.
Educar para o uso criativo e responsável das novas tecnologias
A internet está influenciando também o modo dos educadores gerenciarem uma escola, no sentido de uma gestão mais compartilhada, envolvendo os educadores, pais e estudantes nas decisões e no processo formativo. Na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa, várias escolas e universidades estão desenvolvendo projetos educativos que são modelos de integração das novas tecnologias na produção de conhecimento e na educação das novas gerações.
É possível e necessário utilizar as tecnologias digitais na educação presencial, assim como integrar a educação à distancia com a educação presencial. O papel do educador competente, que cria relações de amizade e sentido de pertença, será sempre necessário nesse novo cenário educativo. Cada escola deve desenvolver projetos que ajudem os estudantes a criar momentos para favorecer a análise crítica e criativa diante do excesso de informações e das complexas e intermináveis avenidas de interesses ideológicos que atravessam o universo online. Faz-se urgente uma educação que ajude o estudante a valorizar a disciplina, o relacionamento humano, a espiritualidade, o senso de solidariedade e da beleza no universo online. No âmbito das políticas públicas, a inclusão digital é uma urgência em um país que quer crescer com padrões e indicadores consistentes e realistas.
Para uma geração que prima pelos pela qualidade do aprendizado, pelos resultados e pelo crescimento pessoal e da sociedade, associar novas tecnologias à educação torna-se um direito, uma oportunidade e uma responsabilidade para todos nós.
Cada escola, a partir da sua realidade, com a participação de professores e estudantes, pode criar e fortalecer o uso de novas tecnologias. Listamos aqui algumas propostas concretas.
• Procurar conhecer melhor a linguagem e as ferramentas das redes sociais, e participar com os estudantes de momentos online;
• Familiarizar os estudantes com os programas de busca online;
• Difundir e utilizar a Wikipédia;
• Criar o site da escola, dos estudantes de uma determinada sala de aula, grupos de estudo e pesquisa;
• Utilizar imagens, vídeos, som, entrevistas, mapas relacionados com conteúdos dados na sala de aula;
• Incentivar, com o acompanhamento do professor, o intercâmbio com estudantes de outras escolas;
• Organizar com os estudantes uma lista de portais relacionados com temas atuais;
• Produzir vídeos sobre atividades sociais, culturais e pastorais da escola e publicá-las no You-Tube, portais e ambientes virtuais;
• Promover com os alunos e professores oficinas sobre como utilizar as novas tecnologias na sala de aula;