A escola católica na América Latina tem muitos referenciais comuns, embora tenhamos de escutar nossas particularidades, pois é aí que nos enriquecemos. É o que afirma o padre salesiano Oscar Emilio Lozano, secretário-executivo do Departamento de Cultura e Educação do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Padre Lozano esteve em São Paulo nos dias 13 a 15 de janeiro, para o 24º Congresso Interamericano de Educação Católica (Ciec), evento no qual foi moderador de alguns dos debates. Na ocasião, ele concedeu entrevista ao Boletim Salesiano e falou sobre a identidade da escola católica na América Latina e a contribuição salesiana para a educação no continente.
Boletim Salesiano – Qual é a importância deste 24º Congresso Interamericano de Educação Católica?
Pe. Oscar Emilio Lozano – Encontros como este são importantes porque representam marcos, ou pontos de parada, no caminhar educativo da América Latina. São momentos em que se pode refletir e ver como está o caminhar educativo, como vão as propostas que se fizeram, quais são os desafios e dificuldades que se tem. Por si implica que todo um continente pare e olhe para si mesmo, e isso já tem uma grande importância.
BS - O que há de comum nas escolas católicas de países tão diferentes?
Pe. Lozano– Diria que são duas coisas. Uma é que tradicionalmente nossos países tiveram uma história da escola católica, e isso nos dá identidade no sentido de referenciais comuns. Somos católicos, evangelizamos na educação, porque temos estes e estes princípios. Isso nos identifica. De outra parte há algo que é parecido, afim, que é que as realidades nacionais cada vez tendem a se parecerem mais no que se refere à educação, porque as legislações de nossos Estados estão cada vez mais se uniformizando. Na cobertura total, na restrição à educação privada e, dentro da educação privada, a restrição a certos parâmetros de nossa confissão de fé. Então há realidades que, por terem certos matizes em comum, nos unificam. A escola católica da América tem sim um referente comum, embora tenhamos de escutar nossas particularidades, pois é aí que nos enriquecemos.
BS – Quais são os desafios para a educação católica hoje na América Latina?
Pe. Lozano -Um é sempre o tema da identidade: o que faz com que uma instituição possa se proclamar católica? Outro grande desafio neste momento é de que maneira se participa da situação mundial, porque o modelo de escola que se criou no Ocidente está em crise. Nós fazemos parte dessa crise e, como Igreja, temos de pensar, ou repensar, como vamos orientar o acompanhamento formativo das várias gerações. Uma terceira questão é a formação dos professores. Esse é um enorme desafio, porque a escola não é apenas a estrutura física e o currículo, a escola e o fazer educativo passam por quem educa. Então temos de ter educadores católicos cientes de que essa profissão é uma vocação dada pelo Mestre Jesus. E nós temos o dever, como pastores, de acompanhá-los, organizá-los, prepará-los, para que sejam uma força verdadeiramente transformadora no campo educativo, seja nas escolas católicas ou no ensino público. E um quarto desafio seria o das tecnologias. A educação hoje não passa tanto pela aula tradicional e sim por essa multiplicidade nesse continente que se chama de multimídia ou de internet. São desafios grandes, mas há experiências, há gente caminhando e creio que podemos seguir adiante.
BS - Aqui no Brasil temos a Rede Salesiana de Escolas, que buscou enfrentar esses desafios formando uma rede. Essa é uma tendência?
Pe. Lozano -Cada vez se faz mais consciência disso, e se toma consciência pela necessidade. Muitas instituições e carismas estão dizendo: “Não podemos sozinhos”. A consciência da necessidade das redes está crescendo, porém a realidade vai mais devagar, porque não apenas se quer uma rede, mas deve-se entender como fazer. É uma mudança de mentalidade, e necessita de tempo. Acredito que uma das grandes reflexões que se fizeram nesse congresso foi esta, a da necessidade de trabalharmos em rede. Além de tudo é esta a nossa proposta evangélica: somos comunhão.
BS - Como a Família Salesiana pode contribuir com a área da educação na América Latina?
Pe. Lozano – Temos a ESA (Escola Salesiana América) que é uma grande referência no continente. Além disso, nosso carisma é jovem e do âmbito educativo, então há muito em que podemos contribuir. Mas vamos contribuir também na medida em que soubermos inculturar o carisma salesiano na América. Temos o exemplo da Rede Salesiana de Escolas. Mas temos outros muitos exemplos bonitos: o trabalho dos salesianos e das salesianas nas periferias, com os meninos em situação de rua, com o mundo do trabalho. Em tudo isso há uma contribuição importante dos salesianos, que não devemos abandonar.
Nossa vocação é formativa, educadora, e não precisamos limitar o carisma ao institucional. Dom Bosco estaria procurando novos caminhos, Madre Mazzarello também, dentro dos novos pátios multimídia, no mundo da noite, no mundo do trabalho produtivo, das redes e associações. Porque às vezes percebo que nosso discurso se restringe a falar de colégios e o colégio é uma instituição importante, sem dúvida, mas o nosso carisma não se limita a isso. Há hoje muitas dificuldades no campo das escolas, mas ninguém pode tirar o carisma educativo que está dentro de nós.
O que é o Celam
O Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) é um organismo da Igreja Católica fundado em 1955 pelo Papa Pio XII. Ele presta serviços de colaboração, formação, pesquisa e reflexão às 22 conferências episcopais da América Latina e Caribe. O Celam é organizado com uma Secretaria-geral e departamentos, para cuidar das áreas de: Comunicação eclesial e diálogo, Missão e espiritualidade, Vocações e ministérios, Família e vida, Cultura e educação, Justiça e solidariedade e Comunicação e imprensa. Mais informações estão disponíveis (em língua espanhola) no site: www.celam.org