Um padre idoso e um menino

Quinta, 28 Junho 2018 09:32 Escrito por 
Um padre idoso e um menino Nino Musio
Na vida de uma pessoa os encontros são sempre importantes. Com o adolescente João Bosco não foi diferente. Ele mesmo narra em suas memórias este encontro enigmático com o velho padre João Calosso.    

Ao retornar das missões populares que aconteciam em uma paróquia vizinha dos Becchi, João Bosco encontrou um padre idoso que caminhava lentamente e com passos firmes. O padre o abordou e perguntou se ele havia entendido alguma coisa das pregações dos missionários. João não apenas disse que sim, como também repetiu algumas pregações. O padre ficou perplexo. Começou assim um diálogo de amigos. No final o padre o convidou a estudar com ele, na sua casa paroquial.

 

Este esquema de encontro é enigmático e fundamental em várias narrativas de Dom Bosco. Foi assim com Miguel Magone, com Dom Rua, com Bartolomeu Garelli, com Domingos Sávio e com o jovem seminarista José Cafasso que, mais tarde, se tornaria seu confessor e grande amigo.

 

Pedagogia do encontro

Isto tem um grande significado pedagógico e evangelizador, pois no próprio sonho dos 9/10 anos, Dom Bosco também o narra em forma de um diálogo, de um encontro com um senhor majestoso e uma bela senhora. Assim se molda uma pedagogia do encontro da vida salesiana. Elemento fundamental, no meu modo de ver, para toda nossa prática pastoral educativa com os jovens.

 

O poço onde buscamos água verdadeira está aí, na capacidade de abordar o outro, de estar com o outro e de iniciar um diálogo rompendo as barreiras da virtualidade. Não basta ter jovens seguidores nas redes sociais, precisamos encontrá-los e ver seus rostos, sentir sua presença e crescer com eles no diálogo formativo.

 

Um bom tecido

Pois bem. Com padre Calosso e Joãozinho Bosco foi assim. Eles caminharam dialogando. O padre perguntava sobre sua família, seus estudos, sua vida cotidiana e Joãozinho logo deu a ficha de todos. Com a forma muito simples e própria de um adolescente ele comentou que seu irmão Antônio não queria que ele estudasse. Padre Calosso percebeu que ali tinha um bom tecido, que daria para fazer uma boa roupa para Deus, e começou logo a fazer a costura.

 

Domingos Sávio teve a mesma sensação quando encontrou Dom Bosco e leu na porta de sua sala o letreiro: Dá-me almas, fica com o resto. Ele entendeu que Dom Bosco queria apenas que o jovem fosse salvo e se colocou imediatamente nas mãos do confessor e diretor espiritual.

 

Fonte de vida e sabedoria

Este é o poço do Sistema Preventivo de educação e evangelização. A água que brota de dentro do educador passa pelo jovem que ele encontra e se transforma numa fonte que jorra para a vida em plenitude. É puramente evangélica esta intuição de Dom Bosco, narrada nos encontros que ele tivera com jovens a partir daquele enigmático diálogo com o velho padre Calosso, seu mestre e amigo.

 

Uma amizade tão profunda que, quando morreu Calosso, Joãozinho entrou em um colapso emocional, depressão, e quase morreu também. Ele perdeu, com a morte do mestre, o contato com a fonte, com a água da sabedoria de Calosso, com a presença paterna. Foi um duro golpe, mas ele se reergueu. Porém, nunca esqueceu aquela fórmula de encontro e a guardou para toda a vida sabendo adaptá-la e até repetí-la nos vários encontros que teve durante a vida.

 

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Um padre idoso e um menino

Quinta, 28 Junho 2018 09:32 Escrito por 
Um padre idoso e um menino Nino Musio
Na vida de uma pessoa os encontros são sempre importantes. Com o adolescente João Bosco não foi diferente. Ele mesmo narra em suas memórias este encontro enigmático com o velho padre João Calosso.    

Ao retornar das missões populares que aconteciam em uma paróquia vizinha dos Becchi, João Bosco encontrou um padre idoso que caminhava lentamente e com passos firmes. O padre o abordou e perguntou se ele havia entendido alguma coisa das pregações dos missionários. João não apenas disse que sim, como também repetiu algumas pregações. O padre ficou perplexo. Começou assim um diálogo de amigos. No final o padre o convidou a estudar com ele, na sua casa paroquial.

 

Este esquema de encontro é enigmático e fundamental em várias narrativas de Dom Bosco. Foi assim com Miguel Magone, com Dom Rua, com Bartolomeu Garelli, com Domingos Sávio e com o jovem seminarista José Cafasso que, mais tarde, se tornaria seu confessor e grande amigo.

 

Pedagogia do encontro

Isto tem um grande significado pedagógico e evangelizador, pois no próprio sonho dos 9/10 anos, Dom Bosco também o narra em forma de um diálogo, de um encontro com um senhor majestoso e uma bela senhora. Assim se molda uma pedagogia do encontro da vida salesiana. Elemento fundamental, no meu modo de ver, para toda nossa prática pastoral educativa com os jovens.

 

O poço onde buscamos água verdadeira está aí, na capacidade de abordar o outro, de estar com o outro e de iniciar um diálogo rompendo as barreiras da virtualidade. Não basta ter jovens seguidores nas redes sociais, precisamos encontrá-los e ver seus rostos, sentir sua presença e crescer com eles no diálogo formativo.

 

Um bom tecido

Pois bem. Com padre Calosso e Joãozinho Bosco foi assim. Eles caminharam dialogando. O padre perguntava sobre sua família, seus estudos, sua vida cotidiana e Joãozinho logo deu a ficha de todos. Com a forma muito simples e própria de um adolescente ele comentou que seu irmão Antônio não queria que ele estudasse. Padre Calosso percebeu que ali tinha um bom tecido, que daria para fazer uma boa roupa para Deus, e começou logo a fazer a costura.

 

Domingos Sávio teve a mesma sensação quando encontrou Dom Bosco e leu na porta de sua sala o letreiro: Dá-me almas, fica com o resto. Ele entendeu que Dom Bosco queria apenas que o jovem fosse salvo e se colocou imediatamente nas mãos do confessor e diretor espiritual.

 

Fonte de vida e sabedoria

Este é o poço do Sistema Preventivo de educação e evangelização. A água que brota de dentro do educador passa pelo jovem que ele encontra e se transforma numa fonte que jorra para a vida em plenitude. É puramente evangélica esta intuição de Dom Bosco, narrada nos encontros que ele tivera com jovens a partir daquele enigmático diálogo com o velho padre Calosso, seu mestre e amigo.

 

Uma amizade tão profunda que, quando morreu Calosso, Joãozinho entrou em um colapso emocional, depressão, e quase morreu também. Ele perdeu, com a morte do mestre, o contato com a fonte, com a água da sabedoria de Calosso, com a presença paterna. Foi um duro golpe, mas ele se reergueu. Porém, nunca esqueceu aquela fórmula de encontro e a guardou para toda a vida sabendo adaptá-la e até repetí-la nos vários encontros que teve durante a vida.

 

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