Ontem
Quando o grupo de salesianos partiu da Itália para a Patagônia, na Argentina, para a primeira expedição missionária salesiana, em 11 novembro de 1875, cada um dos missionários, guiados por João Cagliero, levou consigo um folheto com algumas recomendações de Dom Bosco. Tratava-se de conselhos, sugestões, “lembranças especiais”, escritas a mão e autografadas por Dom Bosco; eram “temas para um verdadeiro tratado de pastoral missionária prática”. Dentre as recomendações, Dom Bosco afirmava: “Lembra-te de que Deus quer os nossos esforços pelas crianças pobres e abandonadas”, e fazia um pedido para que os missionários dessem atenção especial aos mais jovens e necessitados: “Cuidai de modo especial dos doentes, meninos, velhos e pobres”.
Dom Bosco fez em vida o envio de 153 jovens missionários, entre sacerdotes, salesianos irmãos e clérigos. Um número representativo, não só em termos absolutos, mas também pelo fato de que representavam 20% dos salesianos daquele tempo. Após a Patagônia, outras regiões da América do Sul foram abraçadas pela presença de missionários salesianos, como: Uruguai, Chile, Equador e Brasil, onde os salesianos chegaram em 1883. Mais tarde, em 18 de junho de 1894, outros missionários salesianos desembarcaram em Cuiabá, Mato Grosso. Eram cinco jovens missionários, que logo iniciaram suas atividades na Paróquia São Gonçalo. As Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) também estão celebrando agora os 120 anos de presença missionária na região. Em 1914, a Santa Sé confiou aos salesianos a Prefeitura Apostólica do Rio Negro, e os primeiros missionários chegaram à região amazônica. As FMA iniciaram os trabalhos na região um pouco depois, em 1923, data em que foi instalada a primeira casa em São Gabriel da Cachoeira.
Hoje
As “Expedições Missionárias” permanecem como tradição, e todos os anos o Reitor-mor repete o gesto de Dom Bosco. Ao longo dos anos, o envio missionário cresceu não apenas em número de pessoas que decidem levar o carisma salesiano para todas as partes do mundo, mas também na extensão para outros ramos da Família Salesiana e para jovens leigos que abraçam essa vocação.
No Brasil, a dimensão missionária permanece como uma das atividades centrais de salesianos e salesianas, especialmente nas missões indígenas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Alto Rio Negro, no Amazonas. É um trabalho marcado pela centralidade na educação e na promoção dos direitos humanos, em regiões muitas vezes com grande carência de recursos – inclusive recursos públicos.
Mas a ação missionária no país não se restringe aos indígenas. Ao contrário, ela perpassa várias atividades que incentivam a juventude a abraçar a missão junto aos que mais necessitam. Um exemplo é a ampla participação na Semana Missionária: na edição de 2014, a Semana reuniu mais de 500 jovens, provenientes de 20 casas salesianas de São Paulo. A atividade, promovida anualmente pela Inspetoria Salesiana de Nossa Senhora Auxiliadora, foi iniciada na cidade de Lorena, em 1994, e hoje leva esperança e alegria para comunidades carentes, por meio da visitação às casas com orações, celebrações comunitárias e atividades recreativas com crianças e jovens. O exemplo é atualmente seguido também em outros estados, do Sul ao Norte do país, onde salesianos e salesianas organizam atividades de voluntariado missionário juvenil, geralmente nos períodos de férias escolares.
Numeroso também é o número de jovens que se propõem a viver uma experiência missionária fora do Brasil, nas chamadas missões ad gentes. Um dos casos mais recentes nesse sentido é do grupo que participará das Expedições Missionárias no Peru e no continente Africano, em 2016. Embora a data esteja distante, esses jovens já estão se preparando por meio de encontros, nos quais recebem informações sobre as regiões onde atuarão e formação específica para a ação missionária.
Mas nem sempre essa etapa de preparação pode ser vivida pelo missionário. Foi o que aconteceu com a irmã Valéria Timóteo, FMA, que desde 2010 está em Porto Príncipe, Haiti. Irmã Valéria decidiu ir para lá quando viu na televisão as primeiras imagens do terremoto que assolou o país. “Analisei-me e vi que tinha alguns requisitos para essa nova missão, tão inesperada e dura. Mas humanamente me sentia pequena diante da realidade a vir (...)”, conta. Hoje, após mais de cinco anos, irmã Valéria acredita que a Família Salesiana ainda tem muito trabalho no país, já que a população jovem é a maioria e necessita de formação e de esperança.