Correio do Estado: o senhor, há menos de um mês, foi empossado 18° presidente da Missão Salesiana de Mato Grosso. O que merecerá continuidade de sua parte e quais são seus novos planos para os próximos seis anos de gestão?
Padre Gildásio: como presidente da Missão Salesiana de Mato Grosso, eu gostaria de dar continuidade ao trabalho que já está sendo realizado pelos salesianos. Praticamente, as universidades, os colégios, as obras sociais já têm planos estratégicos e eu gostaria de dar continuidade a eles, valorizando as pessoas, os atores deste trabalho e apresentar para eles também algumas propostas para o fortalecimento da Missão Salesiana e também uma modernização de nosso trabalho em alguns ambientes. Isso significa mexer com a parte de infraestrutura, a formação continuada de nossos educadores, significa o uso de novas tecnologias e um trabalho de gestão compartilhada em busca da qualidade.
Correio do Estado: o senhor poderia explicar qual é a abrangência desta Missão Salesiana de Mato Grosso?
Padre Gildásio: a Missão Salesiana, que no último dia 18 de junho completou 120 anos, começou em 1894, com cinco salesianos que vieram da Itália, um deles era um bispo, dom Lasagna. Eles foram para Cuiabá e iniciaram o trabalho de educar e evangelizar. Depois, vieram para Campo Grande e Oeste de São Paulo, Lins e Araçatuba. Foram criando esta grande Rede Salesiana de educação.
Correio do Estado: a Igreja tem passado por diversas mudanças. Depois que o Papa Francisco assumiu no lugar do Bento XVI, outras congregações também vivem momentos de trocas. Recentemente o senhor participou do Capítulo, que escolheu o novo sucessor de Dom Bosco e reitor-mor dos Salesianos, o padre espanhol Ángel Fernandez Ártime. O que muda dentro da Igreja com essas trocas?
Padre Gildásio: é um momento de mudança e renovação na Igreja. A eleição do Papa Francisco, um papa latino-americano, um papa do povo, de fato demonstra que nós estamos vivendo um momento novo dentro da igreja. É um papa que procura pedir para os padres irem ao encontro das pessoas. A igreja católica precisa caminhar com os tempos. Eu estava participando do Capítulo, entre fevereiro e abril. Ele nada mais é do que um pequeno conclave dos salesianos, onde nós nos reunimos com mais de 120 presidentes das províncias, das inspetorias salesianas, discutimos o futuro da congregação e também elegemos um novo superior, que é o sucessor de Dom Bosco. Ele é uma pessoa jovem, nasceu na Espanha, trabalhou na Argentina, conhece o Brasil e é uma pessoa com uma cabeça nova. Então, nós temos hoje cabeças novas, corações novos, visões novas na direção da igreja. Isso manda uma mensagem para todos nós e eu penso que é um momento muito especial para a igreja.
Este novo caminho contrasta com o que vemos na igreja mundial, comandada por pessoas com idade avançada, pressupondo que dela não sairia nada novo. Mas parece que não é nada disso. Mas nós não esperávamos que o Vaticano pudesse indicar um papa da América Latina, um papa jesuíta pela primeira vez na história. E mostra, realmente, que existe a parte política na igreja, sim, como em qualquer instituição, mas existe a presença do Espírito Santo que guia a Igreja e isso dá para nós o sentido de renovação através dos tempos.
Correio do Estado: a Missão Salesiana completa 120 anos de sua chegada em Mato Grosso do Sul/Mato Grosso neste ano. Qual o trabalho desenvolvido para os jovens e menos favorecidos? O ponto forte da congregação é mesmo a educação?
Padre Gildásio: Exatamente. Qual é a grande marca dos salesianos? Nós educamos evangelizando e evangelizamos educando. Isto é, os salesianos se preocupam não somente com a parte de evangelização, de falar sobre Deus com os jovens, mas também para preparar para ser um profissional, para ter uma boa profissão, para ser um bom cidadão, para ser competente. Por isso nós temos escolas, universidades. Os salesianos trabalham na comunicação social, na cultura. Portanto, a grande originalidade dos salesianos é esta preocupação também com a educação. Isso foi uma grande visão, uma grande intuição de Dom Bosco. Ou seja, onde você fala de Deus, você tem que falar também do pão. Quando você fala em Jesus Cristo, você tem que falar também do trabalho. Onde você fala do evangelho, você tem que falar também da dignidade humana; onde você fala de religião, você também tem que promover a paz e a solidariedade. E Dom Bosco teve esta intuição.
Correio do Estado: o senhor, ao lado do arcebispo de Campo Grande dom Dimas participou da elaboração do Diretório de Comunicação da CNBB. O resultado torna o Brasil o segundo país do mundo a contar com esse documento. O que ele traz de benefícios para a Igreja?
Padre Gildásio: Este documento, Diretório de Comunicação da CNBB, é um instrumento de trabalho que os bispos estavam esperando há muito tempo. Porque a comunicação é essencial para a Igreja Católica. Eu fui convidado oficialmente por dom Orani Tempesta, que hoje é cardeal do Rio de Janeiro, e depois dom Dimas me convidou para participar de uma comissão na qual elaboramos este documento que está aqui, é um documento que saiu recentemente e que trata desde as questões da comunicação hoje, no mundo de mudanças, a teologia da comunicação - que, por sinal, foi um capítulo que eu escrevi -, a ética na comunicação, outro capítulo para o qual eu também contribuí; a questão das novas tecnologias, as igrejas e as mídias digitais, etc. Portanto, é um documento de referência para pesquisa, para orientação, para toda a sociedade, para jornalistas, políticos, educadores. É um documento novo, atualizado, com a proposta de comunicação para a igreja.
Correio do Estado: o senhor é doutor em Comunicação e seus estudos são voltados para os jovens e as novas mídias. Qual a importância de discutir esses assuntos dentro da Igreja?
Padre Gildásio: é fundamental discutir a comunicação porque a Igreja tem uma comunicação, ela é uma das grandes comunicadoras quando construía as primeiras catedrais, quando fazia a Via-Sacra. A igreja, como mãe que criou a comunicação e a fortaleceu, não pode ficar fora do tempo. Ela tem o papel de educar para o bom uso das tecnologias, conscientizar para que a tecnologia esteja a favor da cultura - e isso é fundamental. Portanto, a comunicação é parte da proposta educativa da igreja. E a comunicação está presente em tudo: a ética na comunicação, a comunicação e o compromisso com a vida, com a dignidade humana.
Correio do Estado: o Papa Francisco atingiu 14 milhões de seguidores no Twitter, a maioria jovens. O senhor acredita que esta é uma ferramenta, hoje, imprescindível no chamamento dos jovens para a igreja?
Padre Gildásio: Ela é como ponto inicial de diálogo. A internet, as redes sociais, elas são o canal para você iniciar uma conversa. Só que a relação interpessoal na família, na igreja, no campo de futebol, no bar, no shopping center, seja onde for, faz parte do ser humano. Portanto, a comunicação virtual serve como ponto de partida da comunicação, mas esta tem que continuar na relação humana.
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