Há duas décadas eles firmaram o compromisso de se reunir pelo menos uma vez por ano. A reunião começou pequena, mas tomou a mesma proporção da saudade de uma época que não volta mais e logo teve de ganhar um local adequado. No cálculo de grandes encontros, este foi o sexto, que conseguiu trazer colegas do Rio de Janeiro.
Para organizar o encontro, eles criaram até uma diretoria composta por oito integrantes que entram em contato com todos os ex-colegas, marcam a data e definem o cardápio. “Isso aqui temos há 20 anos, é o encontro dos ex-alunos do Dom Bosco dos anos 50”, apresenta um dos organizadores do evento, o cirurgião vascular Radi Jafar, hoje com 75 anos. Ele também é o responsável por juntar todo acervo fotográfico, preparar um vídeo contando a história cronológica dos tempos de colegial e registrar os sorrisos de agora.
“Tem gente de 80 anos aqui. Somos um grupo que reside em Campo Grande e que procura se reunir uma vez por ano. Todos aqui fazem questão, querem reencontrar a turma do seu passado e é uma sensação gostosa, se não faz, a gente acaba indo embora sem rever aqueles amigos do passado”. As palavras do cirurgião dentista Fuad Anache, de 78 anos, resume tudo. O grupo prefere o encontro com risos e nostalgia, às lágrimas de uma despedida.
A reunião é de meninos. De mulheres, só as esposas. Naquele tempo, os homens estudavam no Dom Bosco e elas no colégio das Irmãs, o Nossa Senhora Auxiliadora. Somente nos anos 60 é que o Dom Bosco abriu as portas para as meninas. As músicas que embalam a tarde são nostálgicas, mas o que ia derramar lágrimas ainda estava por vir. Com 1hora de duração, um vídeo mostra o antes e depois daquela turma. Desde os desfiles pela 14 de Julho, aos jogos de futebol.
No bolso, o dentista Nilson Torraca de Almeida, de 79 anos, tem em um embrulho de presente, fotos em preto e branco. A admissão ao colégio Dom Bosco foi no fim de 1948. “Comecei o primeiro ginasial em 1949, trouxe fotos. Olha só isso foi em 1951/52, faz tempo. O homem envelhece mais depressa, você vê, só tem velho aqui”, brinca.
A foto que recebe os convidados no quadro da entrada veio das lembranças que a mãe de José Maurity Lopes Chaves, de 75 anos, guardou. Bancário aposentado, ele estudou no colégio de 1950 até 1956. A fotografia foi tirada no dia 7 de setembro de 1952, depois de um desfile em comemoração à Independência do Brasil, de uniforme militar, são centenas de meninos em posição de sentido, sob direção do padre Félix Zavataro. No entanto, o registro só foi encontrado 8 anos atrás.
“A foto estava guardada com a minha mãe, quando meu pai morreu, minha irmã achou em meio aos documentos. Aqui está toda história de Campo Grande. Engenheiros, médicos, dentistas, bancários, militares”, descreve.
Maurity se aponta na foto. É ainda um menino que tampouco imaginaria um encontro com aquela mesma turma 60 anos mais tarde. Ele tenta traduzir em palavras o que só olhar de saudade carrega quando o senhor de hoje reencontra a criança daquele tempo.
Paula Maciulevicius/ Campo Grande News