“A juventude é a porção mais delicada e preciosa da sociedade humana”, afirmava Dom Bosco. A frase, tantas vezes lembrada pela Família Salesiana, poderia resumir o sentimento que guiou não só os filhos e filhas espirituais de Dom Bosco, mas toda a Igreja Católica brasileira neste ano de 2013.
Logo no início do ano, a sociedade brasileira foi convocada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a ouvir o clamor da juventude, participando da Campanha da Fraternidade que teve os jovens como tema. Ao completar 50 anos de existência, a CF 2013 antecipou os acontecimentos que viriam a sacudir o país e colocou em evidência a opção da Igreja pela juventude, bem como a sua confiança no protagonismo juvenil.
Por um mundo mais justo e solidário
Mas o grande episódio que entrou para a história contemporânea foi mesmo a renúncia do papa Bento XVI, também no início do ano. Um papa latino-americano, portanto, não europeu, quebrou outro grande paradigma da Igreja no processo sucessório. Por sua expressão humana e fraterna, rapidamente o papa Francisco conquistou os corações de fieis do mundo inteiro. Em sua primeira viagem internacional – justamente para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro -, o papa Francisco conseguiu um feito ímpar, dando uma abrangência ecumênica às suas falas e conquistando aplausos e apoios da sociedade. O Rio de Janeiro e o mundo nunca tinham visto tamanha mobilização, tal como ocorreu para a JMJ. Chuva, frio, falta de transporte e quaisquer outras dificuldades materiais pareciam se dissolver e nada representar ante a determinação de quase quatro milhões de jovens que participaram da Vigília e da Missa de Envio, nos dias 27 e 28 de julho.
A mensagem do novo papa ecoou forte no coração dos jovens, por todo o trajeto percorrido no Rio de Janeiro e na cidade de Aparecida, SP, quando visitou a Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Na comunidade de Manguinhos, na Grande Rio de Janeiro, uma exortação ao protagonismo juvenil ganhou as manchetes do mundo inteiro e se instalou no coração dos jovens que presenciaram essa experiência: “Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão”.
Educar e evangelizar
Se o assunto é o jovem, para a Família Salesiana todos esses movimentos estimularam ainda mais as ações em prol da juventude em todo o país. No Rio de Janeiro, dias antes da JMJ, o Colégio Santa Rosa de Niterói recebia os peregrinos do Movimento Juvenil Salesiano (MJS, que aqui no Brasil recebe o nome de Articulação da Juventude Salesiana - AJS). Na condição de primeira casa salesiana do país, a escola acolheu cerca de 7.000 jovens de todo o mundo para a Festa do MJS e o primeiro Encontro Continental do movimento. Padre Pascual Chávez Villanueva, reitor-mor dos Salesianos, e irmã Yvonne Reungoat, madre-geral das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA), participaram de todos os eventos e celebrações.
As afirmações feitas pelo reitor-mor na entrevista coletiva que ele e a madre-geral concederam à mídia salesiana durante a JMJ expressam a intensidade destes ‘chamados’ da vida cristã, como eles definiram: ‘“Venha’ conhecer e seguir Jesus, como discípulo apaixonado; e ‘Vá’ testemunhar a outros a sua fé, para que esta se converta em fonte de luz e vida para todos”. Ao longo da coletiva, padre Pascual Chávez e irmã Yvonne Reungoat responderam a perguntas relacionadas à situação atual do jovem na sociedade e na Igreja. Em resposta sobre como a JMJ poderia contribuir para que os governos e o poder público deem maior atenção às reivindicações da juventude, padre Chávez disse acreditar na força social do evento: “O primeiro grande desafio da JMJ é promover o debate da situação que os jovens estão vivendo. Eles estão inseridos em um modelo social que os coloca como descartáveis, e se veem desprovidos de seus direitos básicos. A JMJ é um grito diante desse modelo social”, disse o reitor.
Ele também citou as palavras do papa Francisco em seu discurso, no Palácio Guanabara, na noite de 22 de julho: “Ele disse ‘não tenho ouro nem prata, mas trago Jesus Cristo’, e a JMJ é uma forma de trazer para os jovens as respostas que eles buscam diante desse modelo social excludente em que vivemos”.
A pedagogia da bondade
A consonância entre as diretrizes oferecidas pelo papa Francisco e a ação da Família Salesiana esteve clara desde o início do pontificado e se fortaleceu após a JMJ. Grande impulso para essa ação adveio também da preparação para celebrar o bicentenário de Dom Bosco e da Estreia 2013, que este ano convocou: “Como Dom Bosco educador, ofereçamos aos jovens o Evangelho da alegria mediante a pedagogia da bondade”. O tema da Estreia teve o objetivo explícito de fazer com que o sistema preventivo fosse conhecido e reiterado, aproximando a todos do exemplo de Dom Bosco educador, mas fazendo uma atualização de sua proposta diante dos desafios que o mundo de hoje nos apresenta.
Os exemplos de como essa proposta se concretizou no Brasil durante o ano foram inúmeros e em várias frentes: na educação, na ação social, na pastoral, na comunicação, nas missões etc. Talvez uma expressão que possa resumir esse espírito da Família Salesiana brasileira, por ter unido as diversas frentes em uma única ação, seja o projeto Professores Sem Fronteiras, que levou quatro educadores da Rede Salesiana de Escolas a serem missionários durante um mês no Haiti, desenvolvendo atividades de Educação Física em benefício de crianças e adolescentes pobres daquele país.
Presença salesiana
O ano de 2013 foi assim, aqui no Brasil, o Ano da Juventude. Motivo de alegria e renovação de forças para a Família Salesiana nesses 130 anos de presença no país. O trabalho salesiano em terras brasileiras foi iniciado em Niterói, RJ, com o Colégio Santa Rosa, em julho de 1883. Pouco depois, em 1892, as primeiras irmãs FMA chegaram a Guaratinguetá, SP, e estenderam a ação educativa nos moldes salesianos também para as meninas.
Hoje, o carisma salesiano, de atenção à juventude e confiança em sua força transformadora, propaga-se em escolas (da educação infantil ao ensino superior), entidades sociais e ONGs, centros de formação profissionalizante, paróquias, centros juvenis, emissoras de rádio e tantas outras obras. Em cada uma, vive-se a mesma experiência do primeiro oratório idealizado por Dom Bosco, sendo para os jovens “casa que acolhe, paróquia que evangeliza, escola que encaminha para a vida e pátio para se encontrarem como amigos e viverem com alegria”.