Entre os pioneiros missionários que enalteceram a Congregação Salesiana, Tiago Costamagna certamente ocupa um papel de destaque. Primeiro missionário salesiano a viver entre os indígenas equatorianos e a ser nomeado vigário apostólico de Méndez y Gualaquiza, ele conheceu Dom Bosco aos 12 anos, quando entrou no Oratório de Valdocco (Turim). Tornou-se sacerdote salesiano em 1868. Dirigiu a terceira Expedição Missionária Salesiana, que em 1877 levou a Buenos Aires 17 salesianos e seis FMA, entre as quais a irmã Ângela Vallese, outra grande missionária na Terra do Fogo.
Com o incentivo de Dom Bosco partiu para a Patagônia em 1879. Padre Rua o chamou para liderar uma nova expedição missionária em 1890, visitando as casas salesianas da costa do Pacífico, no Chile e no Equador, e sendo ainda inspetor em Buenos Aires.
Antes de sua ordenação episcopal, em 1895, escreveu Cartas Confidenciais aos Diretores das Casas Salesianas sob o Vicariato Apostólico de Mendez y Gualaquiza, publicadas em Santiago em 1901. Desta obra, destacamos um pequeno trecho, que foi publicado também no vol. X das Memórias Biográficas (p. 1016-1017 da edição em italiano), que já está para ser publicado em português.
Dom Costamagna assim escreveu:
“Uma coisa é certa: se todos os Salesianos que viveram com Dom Bosco quisessem publicar os ternos cuidados que Dom Bosco lhes prodigou, seriam necessários muitos volumes... Ele, como o Divino Redentor, pertransiit bene faciendo (passou fazendo o bem – cf. At 10,38). Ele se preocupava com nossos afãs e nossos sofrimentos, tanto físicos quanto morais, como se nós lhe pertencêssemos exclusivamente, mesmo quando sabia que algumas coisas eram mais imaginárias do que reais.
Ele nos concedia sempre tudo o que não representasse algum prejuízo material ou espiritual para nós ou para a comunidade. O sim, ele o dizia sempre de bom grado até onde fosse conveniente; o não demorava em chegar a fim de não nos afligir, mas no momento oportuno ele o dizia com clareza: sabia muito bem que a indecisão e o vaivém atormentam os superiores e os dependentes.
Ele estudava a maneira de aliviar o peso da vida de estudo e de trabalho mediante festas religiosas, passeios, teatrinhos e outros divertimentos, sempre variados, mas inocentes. Queria que ficássemos bem atentos em não estragar a saúde, que não é propriedade nossa, mas da Congregação.
Por isso, insistia que evitássemos as correntes de ar, a umidade, ficar parados ao sol, especialmente nos meses com erre (r): mensibus erratis, ele dizia, in sole ne sedeatis (nos meses com erre, não fiquem sentados ao sol); passar de um lugar quente para outro frio sem agasalho ou ficar parados ao frio quando suados; comer e beber demais, ou pouco demais; forçar a voz ao lecionar, pregar, etc.; o aplicar-se em ocupações mentais logo após as refeições; não dormir o suficiente: septem horas dormivisse, nos repetia, satis juvenis senique (sete horas de sono são suficientes para o jovem e o velho), mas deixava aos Diretores determinar uma hora a mais ou a menos, segundo as circunstâncias; entregar-se à tristeza, lima surda que acaba com qualquer saúde; cuidar da saúde de forma exagerada, indo em frente à base de remédios que acabam por arruiná-la concretamente, de acordo com o provérbio que diz: qui medice vivit, modice ou miserrime vivit (quem vive para o médico, vive pouco ou miseravelmente)”.
Conselhos tão atuais para nós também, tentados que somos pelos fast food, divertimentos, aplicativos, distrações e drogas que nos seduzem… importa muito ter um estilo de vida saudável.
Por exemplo: dormir bem, beber água, praticar exercícios físicos, dedicar tempo para fazer o que gosta, ter uma dieta equilibrada, fazer exames periódicos, manter o peso, trabalhar com o que gosta, se conscientizar dos motivos pelos quais você quer ter um estilo de vida saudável.
Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).