Maria não estava mais preocupada com o casamento, ou até mesmo com a família biológica, mas se preocupava com o que deveria acontecer e como iria acontecer. O que realmente ela poderia fazer para receber o Filho de Deus. “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra” (cf. Lc 1,35a).
É a partir da alegria e, também, do susto dado pelo anjo a Maria, que ela confirma todo o anúncio com a bela frase “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua Palavra” (cf. Lc 1,38). É a partir do consentimento, do abrir-se à graça divina, que Maria aceitou o filho de Deus no seu ventre, não se preocupando com o que iria acontecer depois com o menino. Ela foi escolhida por Deus para ser a mãe da humanidade, aquela que “cooperou generosamente e de modo absolutamente singular”, como destaca São João Paulo II na Carta Encíclica Redemptoris Mater, sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria na vida da Igreja que está a caminho.
Maria foi a mãe do Messias e Redentor. Ela avançava na peregrinação da fé e, nessa sua peregrinação até aos pés da cruz, isso é, com suas ações, seus sofrimentos e toda sua doação de cooperação materna e esponsal na missão do Salvador.
Maria caminha com seu povo
Muitos são aqueles que não conseguem caminhar sozinhos e necessitam da ajuda materna de Maria para, assim, carregarem a pesada cruz. Maria caminha conosco e indica o caminho do Filho, isto é, por meio da escuta da Palavra, da vivência dos Sacramentos e da comunhão Eucarística. Ele permanece conosco através das orações pessoais e comunitárias, das romarias e das vigílias, favorecendo uma reconciliação com os irmãos, com a comunidade e até mesmo nos convidando a uma revisão de vida pessoal.
Quando o fiel procura Deus por via do sacerdote para se reconciliar de seus pecados, ele é orientado a fazer uma revisão pessoal, mudar de atitudes e voltar para uma vida de oração, uma vida nova, por meio de ações concretas, como jejuns, penitências, orações e até mesmo caminhadas devocionais. E, antes do fiel voltar para sua vida diária, o sacerdote orienta-o a rezar o rosário ou algumas Ave-Marias, ou seja: acredita-se que a Virgem Mãe está ali intercedendo junto do Pai por todos nós.
A Lumen Gentium sublinha o lado humano de Maria, como mulher livre, pessoa consciente e responsável, que cooperou ativamente no projeto do filho. Segundo o Concílio Vaticano II, ela viveu na penumbra da não-visão: “avançou em peregrinação de fé” (cf. LG n.58). Maria é esta mulher que encoraja cada um de seus filhos e suplica diante de Deus por eles, acolhendo suas orações, escutando seus clamores e fazendo-se presente nas peregrinações e festas do dia-a-dia, assim como se fez presente nas Bodas de Caná.
Maria discípula e missionária
Quando falamos em missão, logo pensamos que é uma tarefa difícil, de desapego e de muita renúncia, mas na realidade é isso e muito mais. É uma tarefa de acolhida do novo, um momento de decisão e de iniciativa. Assim como fez a mãe de Jesus: “Levantando-se, Maria partiu com pressa”, não hesitou em deixar tudo, não olhou para trás e nem se preocupou com a distância e a quem iria servir pelo caminho, mas simplesmente disse sim a Deus.
Na realidade, quando amamos, somos levados pelo amor, e “o amor sempre tem pressa”: a Virgem é levada pelo amor, seja ao filho que traz no ventre, seja à prima em necessidade, seja simplesmente à vontade de Deus. Essa “pressa” é sinal de solicitude e disponibilidade, como afirma Clodovis Boff na Introdução à Mariologia. O Documento de Aparecida afirma: “Maria é a grande missionária, continuadora da missão do seu Filho e formadora de missionários. Ela, da mesma forma como deu à luz o Salvador do mundo, trouxe o Evangelho à nossa América, com alegria constatamos que ela tem feito parte do caminhar de cada um de nossos povos, entrando profundamente no tecido de sua história e acolhendo as ações mais nobres e significativas de sua gente”.
Ou seja, Maria foi esta mulher peregrina que sempre caminhou e caminha com seu povo, ao lado dos mais pobres, marginalizados e aflitos. Assim como ela esteve em Pentecostes acolhendo o Espírito Santo, também está presente nas comunidades, as quais encontram inspiração para aprender o sentido de ser discípulos e missionários de Jesus.
Sempre aprendendo com Maria
Maria é esta pessoa que sempre caminha à nossa frente. É a verdadeira escola de amor, de felicidade, de escuta e de atenção à Palavra de Deus. “Maria Santíssima, a virgem pura e sem mancha, é para nós escola de fé destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho que conduz ao centro com o Criador do céu e da terra”, afirma o Documento de Aparecida.
O Papa Bento XVI nos convida a permanecer sempre na escola de Maria, ou seja, a acolher e guardar dentro do coração as luzes que ela, por mandato divino, envia a todos a partir do alto.
Quando partimos da concepção de Lucas, realmente percebemos que Maria não somente ouviu, mas escutou a Palavra, acolheu-a no coração. Abriu seu espaço interior, deixou Deus entrar. Saiu de si e investiu sua vida num grande projeto, a que se sentiu chamada. Realmente ela é apresentada por Lucas como esta primeira discípula cristã. Com a Anunciação, ela iniciou um longo caminho de peregrinação na fé, acolhendo o apelo de Deus. Aceita a proposta do Senhor com o coração aberto, num grande gesto de generosidade e de fé.
Quando falamos das devoções ou cultos, às vezes confundimos com espiritualidade, ou uma vida forte de oração, mas na realidade o homem e a mulher espiritualizados não se caracterizam pela quantidade de orações e devoções exteriores que praticam. Antes, são seres humanos capazes de interpretar sua história à luz de Deus e de aprender com ela. Percebemos os sinais de sua presença na existência pessoal e social. Cultiva a interioridade como capacidade de dar sentido e unidade às múltiplas experiências da vida. Depois do ruído das muitas palavras, entram no silêncio de quem reverencia o mistério de Deus.
Maria nos ensina a cultivar a interioridade, a meditar. Guardar as coisas no coração, buscar sentido nos acontecimentos e preparar-se para o que vai acontecer.
Padre Ildelfonso Mesquita, SDB, é padre salesiano, psicólogo clínico e mestre em Gestão Educacional.