Para melhor atender os jovens em situação de vulnerabilidade social, oferecendo-os um lugar “onde o filho do pobre irá moldar-se nos princípios de uma educação seriamente cristã e pela aprendizagem de um ofício se habilitará a ganhar honesta e dignamente a sua vida” (ESBERARD, Dom João), foi fundada, em 20 de janeiro de 1902, a Inspetoria Salesiana São Luiz Gonzaga, no Nordeste, durante a sessão de 31 de agosto de 1901 do Capítulo Geral 9º.
Cento e vinte anos se passaram. É tempo de agradecer a Deus por tantos frutos de perseverança e trabalho dos nossos irmãos que, incessantemente, gastaram suas vidas para construir a inspetoria. É tempo de esperança; de continuar no tempo esta obra que tanto bem faz aos jovens, pois o que é uma inspetoria senão a união e o esforço dos irmãos e dos leigos no sentido de salvar o jovem todo?!
Um exemplo, vários testemunhos
Neste sentido, trago o exemplo de Afonso Cesário de Sousa, ex-formando salesiano, escritor do livro “Da casa de taipa ao limiar do saber – a força transformadora da educação”. Nele, Afonso exprime a importância dos salesianos para sua formação humana, espiritual e intelectual.
Ao citar o filme “Vida Maria” (2006), produzido pelo animador gráfico Márcio Ramos, e em cujas imagens traz a história de Maria José, de apenas cinco anos, obrigada pela mãe a abandonar os estudos, a fim de dedicar-se ao cuidado da casa e da roça (cf. SOUZA, p. 29), o autor conclui “As condições precárias de vida de várias gerações neste nosso Brasil, principalmente no Nordeste, limitam as perspectivas de muitas Marias, Joões e Josés. Assim como no filme, a vida revela-nos o quanto é difícil ser protagonista da própria vida, sem que haja um estímulo externo” (Ibid. p. 30).
Como testemunha o seu próprio irmão, Adonias, “Devo tudo aos salesianos. Com os salesianos aprendi a falar em público, participar de teatro, escrever livro, compor músicas e tocar piano, acordeom, saxofone, bombardino e violão. Esses instrumentos ajudaram-me e até hoje me ajudam a enfrentar os problemas que se colocaram diante de mim, nas mais diversas situações que me exigem tomadas de decisões. Através da minha convivência com os salesianos aprendi a posicionar-me diante dos fatos e acontecimentos da vida, de forma crítica, madura e equilibrada” (In. Ibid. p. 47).
Os diversos testemunhos narrados com carinho e gratidão por Afonso em seu livro, revelam a importância da educação e do carisma salesiano na vida de tantos jovens alcançados pelo trabalho incansável dos salesianos, espalhados em oito estados do Nordeste. Afonso é membro da Ação Fraterna, isto é, grupo de ex-formandos salesianos que, anualmente, se reúnem para partilhar experiências vividas durante a formação.
Em algumas vezes pude acompanhá-los. É belo testemunhar a gratidão e a alegria destes irmãos pelos anos em que estiveram conosco. “Vá com Deus, seja os salesianos no meio do mundo” (Ibid. p. 63). A formação salesiana, baseada no binômio – bons cristãos e honestos cidadãos – não se frustra com saída de um ou outro formando, nem mesmo com a não-adesão da maioria de seus alunos à formação religiosa salesiana, pois, de qualquer modo, contribuiu com a formação do caráter e da personalidade de seus destinatários. Com isso, a missão salesiana adquire contornos importantes e vastos em sua missão educativa e evangelizadora.
Comunidades como: Aracaju, Areia Branca, Caetés, Carpina, Fortaleza, Jaboatão (Colônia e Oratório), João Pessoa, Juazeiro do Norte, Lajedo, Matriz de Camaragibe, Natal (Gramoré e São José), Oeiras, Recife (Bongi, Casa Inspetorial/Oratório do Curado e Sagrado Coração) e Salvador, fazem chegar o olhar e o carinho de Dom Bosco aos jovens, sobretudo, os mais pobres. Dom Bosco vive em nós todas as vezes que o nosso olhar for sensível as necessidades dos jovens. A inspetoria não subsiste em si mesma. Sua finalidade, entre outras, é a de congregar os salesianos e leigos nos seus esforços comuns de salvação integral dos jovens. Por isso, deita suas raízes aos recantos mais distantes do Nordeste, lá estão os salesianos e leigos em sua missão de salvação…
Mil encantos
“Os seus sonhos foram muito mais além do que os seus pés pisaram”. O Nordeste! Lugar de mil encantos, de lindas paisagens e belas praias. Lugar de gente guerreira e batalhadora. De uma espiritualidade profunda e concreta. Aqui estamos desde 1884, com a chegada dos seis primeiros salesianos: padre Lourenço Giordano, padre Clélio Sironi, recém-ordenado, três clérigos: José Blangeti, Luiz Della Valle e Leão Battistini, ainda sem votos, e o coadjutor, Carlos Roaseti, passando por sua fundação, em 1902, até os nossos dias, 2022.
Cento e vinte anos se passaram… somos chamados a escrever novas páginas de uma história que não acabou. Ainda há muitos jovens carentes de amor, sem um amigo que os escute e os aconselhe para o caminho do bem.
A celebração dos 120 anos da Inspetoria do Nordeste quer ser um grande hino de louvor e gratidão ao Senhor; nos une e nos reúne em seu amor. A história é feita por grandes homens e mulheres que não temeram ante as adversidades e infortúnios que certamente lhes apareceram.
Nossa gratidão a cada um daqueles como que, construtores da esperança, criaram sobre a rocha a nossa inspetoria, forjada sob o alicerce firme da fé do povo do Nordeste. É sobre a rocha que está edificada uma das mais belas e acolhedoras igrejas de nossa inspetoria, a Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora, em Jaboatão, que ela mãe Auxiliadora, olhe por nossa inspetoria, por cada salesiano, leigo, jovem, membros dos diversos grupos da Família Salesiana, presentes em cada canto de nossa amada inspetoria São Luiz Gonzaga.
Leandro Francisco da Silva, SDB - estudante de Teologia