Esse é um dos principais desafios para a Família Salesiana, apontado pelos conselheiros de Comunicação da Congregação dos Salesianos de Dom Bosco (SDB), padre Gildásio Mendes dos Santos, e do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA), irmã Maria Helena Moreira. Os dois religiosos brasileiros que estão à frente da Comunicação Salesiana falaram ao BS Brasil, entre outros pontos, sobre a missão da Igreja e salesiana no habitat digital e a necessidade de promover uma comunicação responsável, solidária e inclusiva no contexto atual.
Uma realidade surpreendente
O continente digital é uma realidade surpreendente que se apresenta nova e desafiadora para toda a Igreja e a Congregação Salesiana. “A Família Salesiana sempre caminhou com os jovens e hoje nós temos que trabalhar com eles nesse ambiente digital. Nós, como salesianos, queremos caminhar com eles”, afirma o padre Gildásio Mendes. A partir de sua experiência como estudioso da comunicação digital e de interações humanas no ambiente virtual, e agora como conselheiro Mundial da Congregação, padre Gildásio ressalta que é urgente responder com profundidade ao que a Igreja e a Congregação têm pedido com insistência sobre como evangelizar os jovens no habitat digital.
O Papa Francisco apresentou esse desafio na carta que enviou ao Reitor-mor por ocasião do bicentenário do nascimento de Dom Bosco: “É preciso educar os jovens de acordo com a antropologia cristã e a linguagem dos novos meios de comunicação e das redes sociais, que plasma em profundidade os códigos culturais dos jovens e, portanto, a visão da realidade humana e religiosa”. Já o Reitor-mor, padre Ángel Fernández Artime, na proposta programática à Congregação após o Capítulo Geral 28, exorta: “empenhe-se o Dicastério para a Comunicação Social, em seus diversos níveis, em oferecer instrumentos e estímulos para um permanente processo de verificação, de inculturação da missão salesiana no habitat digital, onde os jovens vivem”.
“Educar e evangelizar os jovens no habitat digital, com o jeito salesiano: este é o grande desafio. A partir daí, a questão que trazemos é que é preciso ter uma atitude para o continente digital a partir de três óticas: a do Evangelho de Jesus Cristo, a eclesial e a salesiana, do Sistema Preventivo. Precisamos descobrir junto com os estudiosos e os educadores, como inculturar o Evangelho no habitat digital”, aponta padre Gildásio.
Ele propõe aos educadores e comunicadores salesianos um estudo conjunto para elaborar algumas linhas antropológicas, bíblicas e educativas “para estarmos mais seguros de como estabelecer princípios e metodologias para a inculturação do Evangelho nesses ambientes digitais”. Neste sentido, está sendo trabalhado em nível mundial um instrumentum laboris – um texto de aprofundamento sobre a inculturação do Evangelho no mundo digital. A elaboração envolve estudiosos, especialistas e jovens dos cinco continentes, sob a coordenação do Dicastério, em um trabalho conjunto para compreender melhor o mundo e a cultura juvenis. Para o padre Gildásio, “é fundamental compreender o habitat digital a partir da centralidade da pessoa e da sua cultura, e isso exige um trabalho maior de aprofundamento para fazer o diálogo com essas novas realidades”.
Por fim, padre Gildásio considera que a presença no mundo digital precisa levar em conta que se trata de um ambiente real, de relacionamento entre pessoas que têm suas histórias, culturas e realidades diversas. “Um aspecto fundamental é a força do bem. A maior mensagem que nós podemos transmitir no processo de inculturação no ambiente digital é a caridade aos mais pobres e necessitados, ao bem comum e ao meio ambiente”, completa ele, dando como exemplo a importância da comunicação salesiana na divulgação das ações de solidariedade da Família Salesiana diante da pandemia da Covid-19.
A serviço da vida
O Âmbito da Comunicação parte de inquietações e premissas semelhantes para o desenvolvimento da comunicação salesiana. O Âmbito conta com representações em nível continental, nacional, inspetorial e local; e a missão é realizada em sinergia entre os/as coordenadores/as e referentes da comunicação. “Esta partilha constante efetiva por si só uma imensa rede comunicativa a serviço da vida, à construção de uma nova cultura da informação, à formação de sujeitos críticos e interlocutores com a sociedade contemporânea”, ressalta a irmã Maria Helena Moreira.
A conselheira da Comunicação IFMA considera que, no contexto da pandemia do coronavírus – que fez emergir outras pandemias como a fome, a corrupção e a exclusão dos processos educativos de crianças e adultos –, a comunicação salesiana é chamada “a suscitar uma reflexão profunda sobre a realidade e a abrir um diálogo com a sociedade. O compromisso com uma comunicação transparente e ética abrirá portas para tomadas de decisão com realismo e esperança, transformando realidades locais, em diálogo com as diversas culturas”.
O contexto contemporâneo traz também desafios para a presença do Instituto FMA no ecossistema comunicativo digital. Irmã Maria Helena retoma as diretrizes estabelecidas no Capítulo Geral 23 das FMA, segundo as quais “a formação (confiada ao Âmbito das Comunicações) gera nas Inspetorias e em cada FMA uma consciência mais madura de que a Comunicação é uma missão e que exige habitar o mundo digital não apenas como usuários, mas como Interlocutores, buscadores de sentido e Co-criadores de uma nova cultura” (Atos do CG XXIII, n. 47). A conselheira afirma: “Hoje a comunicação é digital e exige uma forma diferente de pensar os conteúdos, as relações, a linguagem”.
Neste sentido, ela considera que um dos maiores desafios é a formação da pessoa. No Âmbito da Comunicação, esse processo é vivido suscitando o diálogo, a participação e a corresponsabilidade. “É um ato comunicativo participativo, é envolvimento, é coletividade/conectividade. A comunicação é empreender uma viagem (Emaús); acompanha- se caminhando com outros, buscando juntos o sentido do caminho. Esta é a grande oportunidade: comunicar juntos, em rede, para ser credíveis portadores do anúncio evangélico que interpela a missão da comunicação que é a de dialogar, construir pontes, gerar comunhão”, conclui.