Em novembro de 1862, Dom Bosco colocou como “Apêndice”, num livrinho das Leituras Católicas, “Lembranças, endereçadas ao bem daqueles jovens que estão em família e no meio dos perigos do mundo”. (Cf. Memórias Biográficas de Dom Bosco, volume 7, pg. 292-293 do texto italiano). Das 12 lembranças, reportamos neste número apenas seis, por questão de espaço. As outras seis serão publicadas na próxima edição do Boletim Salesiano.
1ª Procurem vencer aquela ilusão em que costumam cair os adolescentes de sua idade, isto é, de estar sempre pensando que vocês têm ainda muitos anos de vida pela frente.
Isso é por demais incerto, meus caros filhos; pelo contrário, é certo e seguro que devem morrer, e que se morrerem mal, estarão para sempre perdidos. Tenham, portanto, maior solicitude em preparar-se à morte, permanecendo na graça de Deus, do que em qualquer outra coisa.
2ª Se fizerem algo de bem, o demônio e a sua preguiça lhes dirão que já é demais e talvez o mundo lhes apelidará de carolas e de escrupulosos, mas vocês pensem que na hora da morte aquilo lhes parecerá pouco demais e muito mal feito, e então verão como foram enganados. Esforcem-se por tomar agora consciência disso.
No tempo de Dom Bosco, uma doença um pouco mais séria era fatal e, por isso, a morte era muito comum no Oratório. Então, ele incentivava seus meninos e jovens a aproveitarem o tempo, enquanto tinham saúde e disposição (CARPE DIEM!). E quantos no Oratório viveram intensamente os poucos anos de vida que tiveram e se tornaram modelos de virtude e santidade…
3ª Uma das coisas, em que os jovens deveriam sempre pensar e estudar é a escolha do que se quer ser na vida. Por sua desgraça refletem pouco sobre isso; por este motivo muitos deles erram; se tornam infelizes em vida e se expõem ao perigo de serem infelizes por toda a eternidade. Vocês, pensem muito e peçam a Deus que os ilumine e não haverão de errar.
Já fez seu Projeto Pessoal de Vida, ou algum teste vocacional? Não deixe para amanhã!
4ª Duas coisas existem que não são bastante combatidas e vencidas: a nossa carne e os respeitos humanos. Felizes serão se se acostumarem a combatê-los e a vencê-los desde a infância.
Como a carne (o corpo), entende-se aqui a vida contrária ao espírito. Confere na carta de Paulo aos Gálatas: a lei única do amor e os frutos do Espírito (5, 16-25). As dimensões corporal e espiritual devem se harmonizar, pois, para o humanismo cristão, não há lugar para dualismos.
Respeito humano: “é a vergonha daquele que não se atreve a manifestar os seus sentimentos religiosos e piedosos, porque com isso é escarnecido, insultado, perseguido”.
5ª Um pouco de recreação não seria coisa má, mas é difícil escolher e ter moderação. Façam então assim: para seus recreios e diversões … procurem ser moderados; e quando se absterem deles (como exercício de autocontrole), saibam que terão obtido uma grande vitória e um bom lucro.
Como administro meu tempo de lazer (esportes, filmes, baladas, redes sociais…)?
6ª Enquanto não forem de boa mente confessar e comungar, e não gostarem de livros devotos e colegas devotos, não terão ainda uma sincera devoção.
São Francisco de Sales, já em 1609, escrevia sobre a “vida devota” (Filoteia). Poderíamos dizer que devoção é a prática da vida cristã, como aprendemos nas catequeses da vida. Colegas e livros “devotos” nos ajudam na caminhada da vivência sacramental.
O jovem devoto hoje não seria o salesianíssimo “bom cristão e honesto cidadão”?!
Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).
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