“Formar cidadãos honestos”: foi este um dos principais objetivos de Dom Bosco. Esta expressão republicana quase surpreende, sabendo que na Itália do século XIX, Igreja e República não iam muito de acordo. Para Dom Bosco, entretanto, educar para a cidadania significa fundamentalmente promover a fraternidade.
Ouvi dizer muitas vezes: “ser irmão no meu bairro, tudo bem; mas ser irmão dos jovens que vivem nas periferias do outro lado da cidade, não é para mim!”. Pois bem, a amizade, ou fraternidade, é a chave dos três valores republicanos. Porque, tirando-se a moldura da fraternidade, a liberdade pode transformar-se em vontade de onipotência e a igualdade pode levar a uma ideologia igualitarista. Para o cristão, crer em Deus Pai significa considerar o outro como irmão.
Gosto de falar isto aos jovens: “imaginem um grupo de amigos no qual todos têm as mesmas opiniões políticas, as mesmas crenças religiosas, compartilham os mesmos gostos literários, musicais... Bem, todos ficariam entediados”. O que torna bela a vida de um grupo é revelar ao outro este livro ou aquele filme, ou um disco que, sozinho, o outro jamais teria comprado. Mas, para que a diferença enriqueça, é preciso fazer o esforço de conhecer o outro, superar o medo. Educar para a fraternidade segundo Dom Bosco significa dar atenção a quem está em dificuldade. Não esqueçamos que se mede a força de uma corrente pela força da argola mais fraca.
Pessoalmente, prefiro o valor do respeito ao da tolerância. Respeitar os outros significa, às vezes, mostrar-se abertamente intolerante por certas ações. Porque há aquelas que constroem o homem e outras que o destroem; há ações que compõem o tecido social, outras que o deterioram. Não podemos educar através da tolerância, mas através de pontos de referência. Para mim, educador, o modo de respeitar os jovens é também mostrar-me intolerante com algumas de suas ações.
O espaço da fraternidade não é um espaço sem conflitos. O importante é aprender a administrar no respeito ao outro. Porque, não se esqueçam, que a violência é o modo natural de resolver um conflito. “‘A’ está em conflito com ‘B’. ‘A’ elimina ‘B’. Não há mais conflito!”. Administrar, porém, o conflito no respeito de cada participante, é algo que se deve aprender. E Dom Bosco foi, nas instituições educativas fundadas por ele, um formidável apóstolo da mediação.
Enfim, para promover a fraternidade à maneira de Dom Bosco, é preciso dar alimento espiritual para o seu crescimento. Provavelmente já conhecem esta narração dos índios.
Um velho apache ensina ao neto: “no teu coração, como no coração de cada homem, há dois lobos que se combatem: um cinzento, agressivo, pronto a saltar sobre o outro; e outro branco, silencioso, pronto a acolher o outro”. A criança, então, pergunta: “Vovô, quem vencerá?”. Respondeu o velho sábio: “aquele que tu alimentares”.