O clima salesiano de educar

Segunda, 05 Mai 2014 20:45 Escrito por 
O clima salesiano de educar Col. Dom Bosco Porto Alegre
“Ganhai o coração dos jovens por meio do amor” (Dom Bosco).   Apesar de ter nascido na zona rural, em uma família muito pobre, Dom Bosco sempre foi uma pessoa antenada com o seu tempo e capaz de perceber o mundo com uma competência ímpar. Até o ano de 1835, Dom Bosco passou por momentos difíceis para estudar e conseguir ingressar no seminário. Seu irmão Antonio não queria que ele estudasse, sua mãe, Margarida Occhiena, viúva, vivia e sustentava os filhos com sérias dificuldades.

Apesar de tudo, no dia 5 de junho de 1841, em Turim, o arcebispo dom Luís Fransoni ordena João Bosco sacerdote. Uma grande vitória de um jovem interiorano que soube como ninguém fazer de um sonho uma grata realidade.

A vida de Dom Bosco revela para nós, seus seguidores, a figura de um homem único, santo, obstinado, destemido, temente a Deus, corajoso e, sobretudo, alguém que não percebia a natureza humana com um olhar de ingenuidade.

 

Interface com a educação

Quando Dom Bosco iniciou o “Oratório Ambulante”, de 1841 até 1846, seu Projeto Operativo, ainda em processo de gestação, já possuía como referencial de suas ações uma concepção realista do ser humano. Para ele, sem dúvida, o jovem não era sujeito ingênuo, pronto, identificado unicamente com a bondade, e, muito menos, sujeito que tenha feito uma opção radical pelo mal.

A concepção tecida por Dom Bosco, realista e impregnada das idas e vindas da natureza humana, foi fundamental para que ele defendesse um projeto de educação revolucionário. O Projeto de Dom Bosco, muito mais do que algo radicado na inculcação de conteúdos prontos e no repasse de informações desinteressantes para os jovens, passa a apresentar-se como uma valiosa ferramenta para a formação de sujeitos históricos, capazes de fazer valer a dupla cidadania dos filhos de Deus: terrestre e celeste.

A educação em Dom Bosco passou a levar em consideração a educabilidade, isto é, o reconhecimento do jovem como ser inacabado e a forma de incluí-lo socialmente no meio em que vive. Logo, a educabilidade é a possibilidade de um jovem aprender e se modificar. Para que o processo de personalização e de socialização do jovem pudesse tornar-se uma verdade foi preciso que a obra salesiana, colegial ou oratoriana, passasse a possuir um clima propício para as ações educativas.

 

Ações educativas

O Projeto de Dom Bosco, na busca de um clima ideal para as suas ações educativas, passou a defender que, na relação entre o educando e o educador, existissem algumas características essenciais. Dentre elas: a confiança, a abertura para o outro, a assertividade, a alegria, “o amor que se sente”, os limites bem definidos, a compreensão mutua e a razão. As mencionadas características foram fundamentais para que a interação entre o educando e o educador consolidasse uma relação pedagógica fundada na amabilidade. Tal relação evidenciava:

- Uma ação de Ajuda, de diálogo, de escuta do outro;

- Um modelo de Aprendizagem Social, definidor da coerência de vida do educador frente aos educandos;

- Um conjunto de técnicas de Assertividade, voltadas para a competência social, para o não deixar-se conduzir;

- Uma abordagem Sistêmica da Família, significando uma releitura da dinâmica familiar que influencia a tarefa educativa.

Assim sendo, a relação pedagógica fundada na amabilidade passou a ser de vital importância para a experiência de cidadania, existente no interior das obras dos SDB e das FMA, a partir do “clima salesiano de educar”.

 

Construção

O “clima salesiano de educar” não foi, nem é, algo caído do céu, muito menos criado a partir de um passe de mágica. Ele é fruto de um Projeto nascido com Dom Bosco, enriquecido com Madre Mazzarello e adequado aos novos tempos por seus seguidores.

Para a construção do “clima salesiano de educar”, em um primeiro momento, foram definidas intencionalidades educativas bem claras com relação ao ideal de modelo de homem, coincidente com a Filosofia Cristã da Existência e o Personalismo (G. Marcel, K. Japers, E. Mounier). Nele e nela o homem é um ser aberto, capaz de autorrealizar-se, de comunicar-se e de aprender.

Posteriormente, foi sendo desenhado um ideal de modelo de educador. O educador salesiano trabalhado a partir dos anos de 1800, passou a ser identificado por cinco qualidades que, ainda hoje, são indispensáveis para a construção do “clima salesiano de educar”:

1.                  O educador salesiano é autêntico. Com o educando ele estabelece um relacionamento interpessoal, afetuoso e de interesse mútuo, tendo a autenticidade como o principal instrumento para conduzir o jovem  ao processo de personalização e socialização.

2.                  Deve o educador também ser coerente, não vivendo contradições entre aquilo que diz e aquilo que faz, estabelecendo com o educando uma relação de confiança.

3.                  Manter o equilíbrio é fundamental para o educador controlar eficazmente seus instintos e paixões, sendo capaz de manter o afeto, o apreço, a preocupação e o orgulho por seus educandos.

4.                  Outra qualidade diz respeito à preocupação não manipuladora do educador na relação com o educando. Tal preocupação favorece o crescimento do educando, sua autonomia, seu protagonismo.

5.                  Por fim o educar com e para a sensibilidade que coloca o educador em um permanente estado de atenção para com os desejos e sonhos dos educandos.

Concluo minha reflexão reforçando a ideia de que um bom clima nas instituições educacionais é de fundamental importância para a consolidação de um “ambiente educativo marcado pelo espírito de família, pela alegria, criatividade e expressão espontânea, racionalidade, flexibilidade e pelas exigências disciplinares vividas com amabilidade e amor” (RSE - Rede Salesiana de Escolas).

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O clima salesiano de educar

Segunda, 05 Mai 2014 20:45 Escrito por 
O clima salesiano de educar Col. Dom Bosco Porto Alegre
“Ganhai o coração dos jovens por meio do amor” (Dom Bosco).   Apesar de ter nascido na zona rural, em uma família muito pobre, Dom Bosco sempre foi uma pessoa antenada com o seu tempo e capaz de perceber o mundo com uma competência ímpar. Até o ano de 1835, Dom Bosco passou por momentos difíceis para estudar e conseguir ingressar no seminário. Seu irmão Antonio não queria que ele estudasse, sua mãe, Margarida Occhiena, viúva, vivia e sustentava os filhos com sérias dificuldades.

Apesar de tudo, no dia 5 de junho de 1841, em Turim, o arcebispo dom Luís Fransoni ordena João Bosco sacerdote. Uma grande vitória de um jovem interiorano que soube como ninguém fazer de um sonho uma grata realidade.

A vida de Dom Bosco revela para nós, seus seguidores, a figura de um homem único, santo, obstinado, destemido, temente a Deus, corajoso e, sobretudo, alguém que não percebia a natureza humana com um olhar de ingenuidade.

 

Interface com a educação

Quando Dom Bosco iniciou o “Oratório Ambulante”, de 1841 até 1846, seu Projeto Operativo, ainda em processo de gestação, já possuía como referencial de suas ações uma concepção realista do ser humano. Para ele, sem dúvida, o jovem não era sujeito ingênuo, pronto, identificado unicamente com a bondade, e, muito menos, sujeito que tenha feito uma opção radical pelo mal.

A concepção tecida por Dom Bosco, realista e impregnada das idas e vindas da natureza humana, foi fundamental para que ele defendesse um projeto de educação revolucionário. O Projeto de Dom Bosco, muito mais do que algo radicado na inculcação de conteúdos prontos e no repasse de informações desinteressantes para os jovens, passa a apresentar-se como uma valiosa ferramenta para a formação de sujeitos históricos, capazes de fazer valer a dupla cidadania dos filhos de Deus: terrestre e celeste.

A educação em Dom Bosco passou a levar em consideração a educabilidade, isto é, o reconhecimento do jovem como ser inacabado e a forma de incluí-lo socialmente no meio em que vive. Logo, a educabilidade é a possibilidade de um jovem aprender e se modificar. Para que o processo de personalização e de socialização do jovem pudesse tornar-se uma verdade foi preciso que a obra salesiana, colegial ou oratoriana, passasse a possuir um clima propício para as ações educativas.

 

Ações educativas

O Projeto de Dom Bosco, na busca de um clima ideal para as suas ações educativas, passou a defender que, na relação entre o educando e o educador, existissem algumas características essenciais. Dentre elas: a confiança, a abertura para o outro, a assertividade, a alegria, “o amor que se sente”, os limites bem definidos, a compreensão mutua e a razão. As mencionadas características foram fundamentais para que a interação entre o educando e o educador consolidasse uma relação pedagógica fundada na amabilidade. Tal relação evidenciava:

- Uma ação de Ajuda, de diálogo, de escuta do outro;

- Um modelo de Aprendizagem Social, definidor da coerência de vida do educador frente aos educandos;

- Um conjunto de técnicas de Assertividade, voltadas para a competência social, para o não deixar-se conduzir;

- Uma abordagem Sistêmica da Família, significando uma releitura da dinâmica familiar que influencia a tarefa educativa.

Assim sendo, a relação pedagógica fundada na amabilidade passou a ser de vital importância para a experiência de cidadania, existente no interior das obras dos SDB e das FMA, a partir do “clima salesiano de educar”.

 

Construção

O “clima salesiano de educar” não foi, nem é, algo caído do céu, muito menos criado a partir de um passe de mágica. Ele é fruto de um Projeto nascido com Dom Bosco, enriquecido com Madre Mazzarello e adequado aos novos tempos por seus seguidores.

Para a construção do “clima salesiano de educar”, em um primeiro momento, foram definidas intencionalidades educativas bem claras com relação ao ideal de modelo de homem, coincidente com a Filosofia Cristã da Existência e o Personalismo (G. Marcel, K. Japers, E. Mounier). Nele e nela o homem é um ser aberto, capaz de autorrealizar-se, de comunicar-se e de aprender.

Posteriormente, foi sendo desenhado um ideal de modelo de educador. O educador salesiano trabalhado a partir dos anos de 1800, passou a ser identificado por cinco qualidades que, ainda hoje, são indispensáveis para a construção do “clima salesiano de educar”:

1.                  O educador salesiano é autêntico. Com o educando ele estabelece um relacionamento interpessoal, afetuoso e de interesse mútuo, tendo a autenticidade como o principal instrumento para conduzir o jovem  ao processo de personalização e socialização.

2.                  Deve o educador também ser coerente, não vivendo contradições entre aquilo que diz e aquilo que faz, estabelecendo com o educando uma relação de confiança.

3.                  Manter o equilíbrio é fundamental para o educador controlar eficazmente seus instintos e paixões, sendo capaz de manter o afeto, o apreço, a preocupação e o orgulho por seus educandos.

4.                  Outra qualidade diz respeito à preocupação não manipuladora do educador na relação com o educando. Tal preocupação favorece o crescimento do educando, sua autonomia, seu protagonismo.

5.                  Por fim o educar com e para a sensibilidade que coloca o educador em um permanente estado de atenção para com os desejos e sonhos dos educandos.

Concluo minha reflexão reforçando a ideia de que um bom clima nas instituições educacionais é de fundamental importância para a consolidação de um “ambiente educativo marcado pelo espírito de família, pela alegria, criatividade e expressão espontânea, racionalidade, flexibilidade e pelas exigências disciplinares vividas com amabilidade e amor” (RSE - Rede Salesiana de Escolas).

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