Um jeito jovem de viver o tempo quaresmal

Terça, 01 Março 2016 13:48 Escrito por  Iago Ervanovite
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Como podemos tirar essas ideias de “jejum”, “caridade” e “oração” dos termos abstratos que aprendemos na catequese, para, de fato, vivenciá-las? Precisamos entender o que significa cada convite que nos é feito.

Vivemos, então, tempo de Quaresma! Quaresma que é, para nós, católicos, tempo de preparação para a Páscoa. É um período para refletirmos nossa condição de filhos e filhas de Deus, que somos convidados à Casa de Deus, pois fomos resgatados pelo Sacrifício de Cristo. É tempo de conversão, de mudança de atitudes e pensamentos. Tempo, também, de praticarmos a misericórdia.

Devemos perceber que a conversão que nos é proposta deve ser pessoal-comunitária. “Pessoal”, pois as mudanças a que somos convidados dependem unicamente de nós – de nossa reflexão, de nossa força de vontade, de nossa ação interior –; “comunitária”, pois essas mudanças objetivam a demonstração de amor a Deus, fazendo a diferença na vida de nossos irmãos e irmãs. A liturgia do Evangelho nos propõe, neste período, fortes sinais de vivência de conversão e de fé: por meio do jejum, da caridade e da oração.

E como isso se aplica a nós, jovens? Como podemos tirar essas ideias de “jejum”, “caridade” e “oração” dos termos abstratos que aprendemos na catequese, para, de fato, vivenciá-las? Precisamos entender o que significa cada convite que nos é feito.

 

Jejum

Tempo de jejum é tempo de penitência. E não falamos aqui apenas do jejum de carne vermelha, sobretudo na Sexta-Feira Santa. O verdadeiro jejum não é o externo, mas aquele que vem de dentro e exige uma mudança de vida.

Nas palavras do padre André Marmilicz, no texto Quaresma: Tempo de jejum, caridade e oração, “os fariseus se vestiam de sacos, faziam cara feia, iam para as praças públicas a fim de serem vistos e observados no seu jejum. Jesus condena esse tipo de jejum e pede aos seus discípulos e ao povo em geral que pratiquem um jejum de alegria, cara bonita, inclusive passando perfume para demonstrar o seu bem-estar. É esse o jejum que agrada a Deus, pois demonstra uma vida interior cheia de vida, de fé e esperança”.

O jejum a que somos convidados diz respeito, então, a algo que abrimos mão de praticar, de comer ou de beber, mas que não seja demonstrado. É o sofrimento interno, calado, rezado, dedicado e oferecido a Deus, que torna nosso jejum quaresmal verdadeira oferenda.

 

Caridade

“Há maior felicidade em dar que em receber” (At 20,35). Além de nossa oferenda interior, precisamos praticar a caridade: ou seja, gestos concretos de solidariedade em prol dos irmãos mais necessitados. A caridade não pressupõe uma simples doação daquilo que não nos fará falta. É uma caridade intensa, na qual somos chamados a abrir mão “de algo mais”, para distribuir a quem vive em necessidade. Não precisa ser necessariamente dinheiro ou roupas. Há coisas mais profundas e que igualmente podemos doar, como nosso tempo. Temos doado nosso tempo aos nossos irmãos e irmãs? Temos parado nossas atividades para visitá-los e escutá-los?

O Papa Francisco, em uma de suas homilias pascais, conta a pequena história acontecida com padre Pedro Arrupe, superior geral dos jesuítas, entre os anos 1960 e 1980. Um dia, uma rica senhora convidou-o a ir a um lugar para lhe dar dinheiro para as missões no Japão. A entrega foi feita na presença de jornalistas e fotógrafos. O padre disse ter sofrido pela situação, mas aceitou ir e receber a doação, pelos pobres com quem trabalhava. Quando chegou de volta à casa paroquial, abriu o envelope e nele encontrou apenas 10 dólares! Perguntemo-nos, concluiu o Papa, se a nossa “é uma vida cristã de cosmética e de aparência ou é uma vida cristã com uma fé operante na caridade”. Assim, somos chamados a praticar a caridade em silêncio, não havendo por que exaltá-la.

 

Oração

Na oração, “o cristão ingressa no diálogo íntimo com o Senhor” e deixa que a graça entre em seu coração. Neste período, somos chamados a intensificar nossas orações. O nosso grande desafio, como jovens deste mundo moderno, agitado e barulhento, é vivenciar a oração em silêncio. Por isso, além das orações com nossa família e em comunidade, somos convidados a rezar em nosso quarto, local de deserto e de recolhimento.

Mais uma vez nas palavras do padre André Marmilicz: “Os fariseus gostavam de rezar em praças públicas, para serem vistos e elogiados. Era a oração de quem fazia de tudo para aparecer. Jesus condena essa atitude e pede aos seus seguidores que rezem em silêncio, no quarto, onde possa acontecer o verdadeiro sentido da oração: o encontro com Deus”.

 

Campanha da Fraternidade

É no contexto da espiritualidade quaresmal que se situa a Campanha da Fraternidade. Em 2016, a Campanha tem como tema “Casa comum, nossa responsabilidade” e como lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O objetivo principal é “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”.

Esta é uma Campanha ecumênica, na qual rezamos junto às outras Igrejas Cristãs, para que possamos assumir “a corresponsabilidade na construção de um mundo sustentável e justo para todos”. A CF é um momento forte de evangelização e, desde 1964, tem levado a Igreja no Brasil, durante a Quaresma, a fazer uma experiência viva de fraternidade. Esta experiência possibilita a todos os cristãos, mas principalmente aos jovens, encontrar um sentido mais concreto e prático ao seu sacrifício em jejum, à sua caridade praticada e à sua oração.

 

Iago Rodrigues Ervanovite, 23 anos, é advogado formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), secretário nacional da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE) e membro da Coordenação da Pastoral Juvenil Nacional da CNBB. 

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Um jeito jovem de viver o tempo quaresmal

Terça, 01 Março 2016 13:48 Escrito por  Iago Ervanovite
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Como podemos tirar essas ideias de “jejum”, “caridade” e “oração” dos termos abstratos que aprendemos na catequese, para, de fato, vivenciá-las? Precisamos entender o que significa cada convite que nos é feito.

Vivemos, então, tempo de Quaresma! Quaresma que é, para nós, católicos, tempo de preparação para a Páscoa. É um período para refletirmos nossa condição de filhos e filhas de Deus, que somos convidados à Casa de Deus, pois fomos resgatados pelo Sacrifício de Cristo. É tempo de conversão, de mudança de atitudes e pensamentos. Tempo, também, de praticarmos a misericórdia.

Devemos perceber que a conversão que nos é proposta deve ser pessoal-comunitária. “Pessoal”, pois as mudanças a que somos convidados dependem unicamente de nós – de nossa reflexão, de nossa força de vontade, de nossa ação interior –; “comunitária”, pois essas mudanças objetivam a demonstração de amor a Deus, fazendo a diferença na vida de nossos irmãos e irmãs. A liturgia do Evangelho nos propõe, neste período, fortes sinais de vivência de conversão e de fé: por meio do jejum, da caridade e da oração.

E como isso se aplica a nós, jovens? Como podemos tirar essas ideias de “jejum”, “caridade” e “oração” dos termos abstratos que aprendemos na catequese, para, de fato, vivenciá-las? Precisamos entender o que significa cada convite que nos é feito.

 

Jejum

Tempo de jejum é tempo de penitência. E não falamos aqui apenas do jejum de carne vermelha, sobretudo na Sexta-Feira Santa. O verdadeiro jejum não é o externo, mas aquele que vem de dentro e exige uma mudança de vida.

Nas palavras do padre André Marmilicz, no texto Quaresma: Tempo de jejum, caridade e oração, “os fariseus se vestiam de sacos, faziam cara feia, iam para as praças públicas a fim de serem vistos e observados no seu jejum. Jesus condena esse tipo de jejum e pede aos seus discípulos e ao povo em geral que pratiquem um jejum de alegria, cara bonita, inclusive passando perfume para demonstrar o seu bem-estar. É esse o jejum que agrada a Deus, pois demonstra uma vida interior cheia de vida, de fé e esperança”.

O jejum a que somos convidados diz respeito, então, a algo que abrimos mão de praticar, de comer ou de beber, mas que não seja demonstrado. É o sofrimento interno, calado, rezado, dedicado e oferecido a Deus, que torna nosso jejum quaresmal verdadeira oferenda.

 

Caridade

“Há maior felicidade em dar que em receber” (At 20,35). Além de nossa oferenda interior, precisamos praticar a caridade: ou seja, gestos concretos de solidariedade em prol dos irmãos mais necessitados. A caridade não pressupõe uma simples doação daquilo que não nos fará falta. É uma caridade intensa, na qual somos chamados a abrir mão “de algo mais”, para distribuir a quem vive em necessidade. Não precisa ser necessariamente dinheiro ou roupas. Há coisas mais profundas e que igualmente podemos doar, como nosso tempo. Temos doado nosso tempo aos nossos irmãos e irmãs? Temos parado nossas atividades para visitá-los e escutá-los?

O Papa Francisco, em uma de suas homilias pascais, conta a pequena história acontecida com padre Pedro Arrupe, superior geral dos jesuítas, entre os anos 1960 e 1980. Um dia, uma rica senhora convidou-o a ir a um lugar para lhe dar dinheiro para as missões no Japão. A entrega foi feita na presença de jornalistas e fotógrafos. O padre disse ter sofrido pela situação, mas aceitou ir e receber a doação, pelos pobres com quem trabalhava. Quando chegou de volta à casa paroquial, abriu o envelope e nele encontrou apenas 10 dólares! Perguntemo-nos, concluiu o Papa, se a nossa “é uma vida cristã de cosmética e de aparência ou é uma vida cristã com uma fé operante na caridade”. Assim, somos chamados a praticar a caridade em silêncio, não havendo por que exaltá-la.

 

Oração

Na oração, “o cristão ingressa no diálogo íntimo com o Senhor” e deixa que a graça entre em seu coração. Neste período, somos chamados a intensificar nossas orações. O nosso grande desafio, como jovens deste mundo moderno, agitado e barulhento, é vivenciar a oração em silêncio. Por isso, além das orações com nossa família e em comunidade, somos convidados a rezar em nosso quarto, local de deserto e de recolhimento.

Mais uma vez nas palavras do padre André Marmilicz: “Os fariseus gostavam de rezar em praças públicas, para serem vistos e elogiados. Era a oração de quem fazia de tudo para aparecer. Jesus condena essa atitude e pede aos seus seguidores que rezem em silêncio, no quarto, onde possa acontecer o verdadeiro sentido da oração: o encontro com Deus”.

 

Campanha da Fraternidade

É no contexto da espiritualidade quaresmal que se situa a Campanha da Fraternidade. Em 2016, a Campanha tem como tema “Casa comum, nossa responsabilidade” e como lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O objetivo principal é “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”.

Esta é uma Campanha ecumênica, na qual rezamos junto às outras Igrejas Cristãs, para que possamos assumir “a corresponsabilidade na construção de um mundo sustentável e justo para todos”. A CF é um momento forte de evangelização e, desde 1964, tem levado a Igreja no Brasil, durante a Quaresma, a fazer uma experiência viva de fraternidade. Esta experiência possibilita a todos os cristãos, mas principalmente aos jovens, encontrar um sentido mais concreto e prático ao seu sacrifício em jejum, à sua caridade praticada e à sua oração.

 

Iago Rodrigues Ervanovite, 23 anos, é advogado formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), secretário nacional da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE) e membro da Coordenação da Pastoral Juvenil Nacional da CNBB. 

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