Igreja, casa da iniciação cristã

Quinta, 06 Março 2014 17:14 Escrito por 
Igreja, casa da iniciação cristã Foto: Douglas Mansur
Toda mudança causa inseguranças, medos, contestações. Hoje, com o processo de iniciação, não poderia ser diferente. Há pessoas e comunidades que não aceitam ou rejeitam o processo sem conhecê-lo profundamente. Isso significa que é preciso criar uma cultura da iniciação cristã, que requer, portanto, mentalidade, sensibilidade e práxis.

Estamos em um mundo que muda de forma rápida e profunda, atingindo a raiz da cultura (Aparecida, 44; Alegria do Evangelho, 63-64). Às vezes não percebemos tais mudanças, mas vamos aderindo a elas, minando a própria vivência e o testemunho da fé cristã. Por isso, é importante dizer que a iniciação não se reduz àqueles que não são ainda cristãos, mas a toda a comunidade. Ou seja, tanto os praticantes, como os afastados, os indiferentes, as crianças, os adolescentes, jovens e adultos, precisam passar pelo processo para aderir a Jesus Cristo Salvador com maior convicção.

O processo de iniciação cristã não é, portanto, um modismo nesse emaranhado de mudanças, mas o resgate de uma ação evangelizadora que se fundamenta na vivência cristã, na adesão à pessoa de Jesus Cristo, na fé comunitária que precede a pessoal e na vivência dos sacramentos como inserção no projeto salvífico de Deus, sempre inacabado neste mundo. Por isso, receber um sacramento não pode ser entendido como um ato social ou religioso, uma tradição apenas, mas a comunhão com o Deus Trindade.

A Conferência de Aparecida (2007) diz claramente sobre a iniciação: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora. Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer modalidade de iniciação cristã, que além de marcar o quê, também dê elementos para o quem, o como e onde se realiza” (Aparecida, 287). Os bispos chegam a declarar com veemência: “Propomos que o processo catequético de formação adotado pela Igreja para a iniciação seja assumido em todo o continente para a maneira ordinária e indispensável de introdução na vida cristã e como catequese básica e fundamental” (Aparecida, 294). Então, a catequese não pode ser algo meramente ocasional e doutrinal, mas integral, desde os inícios na primeira idade até a terceira idade, favorecendo uma real experiência de amizade, oração, liturgia, experiência comunitária e compromisso apostólico (Aparecida, 299).

Os bispos do Brasil reforçam esse ensinamento de Aparecida à luz do pluralismo religioso atual, cuja “oferta de crenças, muitas delas desenraizadas de uma comunidade de fé... provocam a sucessiva troca de Igrejas por parte dos fiéis em busca de solução para seus males” (CNBB, documento 80, p. 49). Por conseguinte, faz-se urgente ir ao encontro da pessoa e proporcionar o encontro com Jesus Cristo, ajudando a “conhecer Jesus, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo. Portanto, a iniciação cristã não se esgota na preparação aos sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia. Ela se refere à adesão a Jesus Cristo” (CNBB, documento 94, n. 41). Isto significa que ninguém “começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva. A Igreja é mediadora deste encontro e proporciona o anúncio, apresentação e proclamação” (CNBB, documento 94, n. 37-38). Os bispos do Brasil escolheram a iniciação cristã como a 2ª urgência da ação evangelizadora de 2011 a 2015.

 

Alegria do Evangelho

O papa Francisco, na recente exortação apostólica Alegria do Evangelho, reforça tudo isso: “Ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, deem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho” (AE, 114). Para tanto, precisamos ser criativos, ousados, para “encontrar os novos sinais, os novos símbolos, uma nova carne para a transmissão da Palavra, as diversas formas de beleza que se manifestam em diferentes âmbitos culturais, incluindo aquelas modalidades não convencionais de beleza que podem ser pouco significativas para os evangelizadores, mas tornaram-se particularmente atraentes para os outros” (AE, n. 167).

Então, a iniciação cristã vai acontecer quando começarmos a sair de nosso isolamento e comodismo pastoral para gerar uma cultura iniciática por meio de uma mentalidade com o conteúdo do Evangelho, da Tradição da Igreja e da Palavra que gere convicções de fé. Um segundo passo é trabalhar a sensibilidade das pessoas, das comunidades, dos agentes, para passar da teoria à vivência prática dos valores do Evangelho. Por fim, está a realização do processo metodológico que transforma a mentalidade e a sensibilidade em gestos concretos, ou seja, práxis, que na iniciação se realiza em quatro tempos e três etapas.

Os quatro tempos: 1. Querigma: anúncio da pessoa de Jesus Cristo; 2. Catecumenato: conhecimento da Palavra de Deus e dos sacramentos; 3. Purificação e entrega, com a acolhida dos símbolos e orações que compõem a riqueza da nossa fé: Pai nosso, Creio, Bíblia etc; 4. Mistagogia: o mergulho no Mistério recebido com o sacramento da iniciação – Batismo, Confirmação, Eucaristia.

As três etapas:1. Admissão ao processo e ao catecumenato; 2. Celebração da eleição durante a Quaresma com os escrutínios e ritos de passagens; 3. Celebração do sacramento na Vigília Pascal.

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Igreja, casa da iniciação cristã

Quinta, 06 Março 2014 17:14 Escrito por 
Igreja, casa da iniciação cristã Foto: Douglas Mansur
Toda mudança causa inseguranças, medos, contestações. Hoje, com o processo de iniciação, não poderia ser diferente. Há pessoas e comunidades que não aceitam ou rejeitam o processo sem conhecê-lo profundamente. Isso significa que é preciso criar uma cultura da iniciação cristã, que requer, portanto, mentalidade, sensibilidade e práxis.

Estamos em um mundo que muda de forma rápida e profunda, atingindo a raiz da cultura (Aparecida, 44; Alegria do Evangelho, 63-64). Às vezes não percebemos tais mudanças, mas vamos aderindo a elas, minando a própria vivência e o testemunho da fé cristã. Por isso, é importante dizer que a iniciação não se reduz àqueles que não são ainda cristãos, mas a toda a comunidade. Ou seja, tanto os praticantes, como os afastados, os indiferentes, as crianças, os adolescentes, jovens e adultos, precisam passar pelo processo para aderir a Jesus Cristo Salvador com maior convicção.

O processo de iniciação cristã não é, portanto, um modismo nesse emaranhado de mudanças, mas o resgate de uma ação evangelizadora que se fundamenta na vivência cristã, na adesão à pessoa de Jesus Cristo, na fé comunitária que precede a pessoal e na vivência dos sacramentos como inserção no projeto salvífico de Deus, sempre inacabado neste mundo. Por isso, receber um sacramento não pode ser entendido como um ato social ou religioso, uma tradição apenas, mas a comunhão com o Deus Trindade.

A Conferência de Aparecida (2007) diz claramente sobre a iniciação: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora. Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer modalidade de iniciação cristã, que além de marcar o quê, também dê elementos para o quem, o como e onde se realiza” (Aparecida, 287). Os bispos chegam a declarar com veemência: “Propomos que o processo catequético de formação adotado pela Igreja para a iniciação seja assumido em todo o continente para a maneira ordinária e indispensável de introdução na vida cristã e como catequese básica e fundamental” (Aparecida, 294). Então, a catequese não pode ser algo meramente ocasional e doutrinal, mas integral, desde os inícios na primeira idade até a terceira idade, favorecendo uma real experiência de amizade, oração, liturgia, experiência comunitária e compromisso apostólico (Aparecida, 299).

Os bispos do Brasil reforçam esse ensinamento de Aparecida à luz do pluralismo religioso atual, cuja “oferta de crenças, muitas delas desenraizadas de uma comunidade de fé... provocam a sucessiva troca de Igrejas por parte dos fiéis em busca de solução para seus males” (CNBB, documento 80, p. 49). Por conseguinte, faz-se urgente ir ao encontro da pessoa e proporcionar o encontro com Jesus Cristo, ajudando a “conhecer Jesus, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo. Portanto, a iniciação cristã não se esgota na preparação aos sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia. Ela se refere à adesão a Jesus Cristo” (CNBB, documento 94, n. 41). Isto significa que ninguém “começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva. A Igreja é mediadora deste encontro e proporciona o anúncio, apresentação e proclamação” (CNBB, documento 94, n. 37-38). Os bispos do Brasil escolheram a iniciação cristã como a 2ª urgência da ação evangelizadora de 2011 a 2015.

 

Alegria do Evangelho

O papa Francisco, na recente exortação apostólica Alegria do Evangelho, reforça tudo isso: “Ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, deem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho” (AE, 114). Para tanto, precisamos ser criativos, ousados, para “encontrar os novos sinais, os novos símbolos, uma nova carne para a transmissão da Palavra, as diversas formas de beleza que se manifestam em diferentes âmbitos culturais, incluindo aquelas modalidades não convencionais de beleza que podem ser pouco significativas para os evangelizadores, mas tornaram-se particularmente atraentes para os outros” (AE, n. 167).

Então, a iniciação cristã vai acontecer quando começarmos a sair de nosso isolamento e comodismo pastoral para gerar uma cultura iniciática por meio de uma mentalidade com o conteúdo do Evangelho, da Tradição da Igreja e da Palavra que gere convicções de fé. Um segundo passo é trabalhar a sensibilidade das pessoas, das comunidades, dos agentes, para passar da teoria à vivência prática dos valores do Evangelho. Por fim, está a realização do processo metodológico que transforma a mentalidade e a sensibilidade em gestos concretos, ou seja, práxis, que na iniciação se realiza em quatro tempos e três etapas.

Os quatro tempos: 1. Querigma: anúncio da pessoa de Jesus Cristo; 2. Catecumenato: conhecimento da Palavra de Deus e dos sacramentos; 3. Purificação e entrega, com a acolhida dos símbolos e orações que compõem a riqueza da nossa fé: Pai nosso, Creio, Bíblia etc; 4. Mistagogia: o mergulho no Mistério recebido com o sacramento da iniciação – Batismo, Confirmação, Eucaristia.

As três etapas:1. Admissão ao processo e ao catecumenato; 2. Celebração da eleição durante a Quaresma com os escrutínios e ritos de passagens; 3. Celebração do sacramento na Vigília Pascal.

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