Chamado de Deus e vocação: Corpo psíquico-afetivo

Quinta, 27 Junho 2019 12:43 Escrito por 
No artigo passado comentei a questão do corpo biológico. É importante não esquecer que nosso corpo é comunicação de desejos, sentimentos, prazer e desprazer. O corpo fala daquilo que a pessoa sente e sonha.    

Neste novo artigo me detenho sobre o aspecto psíquico afetivo da sexualidade. Não podemos reduzir o fato de sermos pessoas afetivas ao campo apenas do sexo, pois o sexo é uma das partes envolvidas e não a totalidade do nosso agir. O erro, no meu modo de ver, está quando reduzimos nossa sexualidade ao ato sexual, como se isto fosse nossa inteira razão e sentido.

 

Então, surge a pergunta: o chamado de Deus supõe a vivência psíquico-afetiva ou a graça do chamado supera tudo? De antemão afirmo que o chamado de Deus se dá na natureza humana; assim como Jesus que se fez carne para habitar conosco e assumiu nossas dores (Jo 1,1; Fl 27,8). Essa realidade é o mais profundo mistério da vocação e envolve tudo, inclusive nossa afetividade.

 

Quando falamos de afetividade tudo escapa. Os conceitos não conseguem responder a todas as demandas, pois a afetividade envolve emoções, sentimentos, paixões, prazer e desprazer, alegria e tristeza. É fácil compreender então que a afetividade mexe com vários fenômenos psíquicos, inclusive questões contraditórias como amar e odiar, desejar e desprezar, seduzir e abandonar, ser doce e ser amargo. Portanto, a afetividade se aproxima da sexualidade, mas não se confunde com ela.

 

Uma fez ouvi um comentário de uma pessoa sobre este tema que me chamou a atenção. Ela dizia: podemos considerar a sexualidade como o sopro numa flauta. Ele vai produzir um som, porém este som sai pelos toques dos dedos nos pequenos orifícios da flauta, o que produz a harmonia da canção. Esta harmonia é a afetividade, mas precisa do sopro e, sobretudo, da pessoa que conduz pelos orifícios da flauta as notas musicais. Aí está a harmonia de nossa vida psíquico afetiva.

 

O dinamismo afetivo

Enquanto a sexualidade é uma energia ativa que movimenta toda nossa vida ora para dentro de nós, ora para fora (portanto, feita de impulsos); a afetividade é uma energia passiva, ou seja, ela acolhe todas as manifestações que entram pelos sentidos e os armazena.

 

Quando somos bem-sucedidos em alguma atividade, por exemplo, quando você começa um processo de discernimento vocacional e recebe a orientação devida e busca mergulhar no dom que você crê haver recebido, isto provoca uma sensação de bem-estar. No entanto, quando você não é bem acolhido, sente alguma espécie de rejeição ou dificuldade de ultrapassar os interditos da busca, cai a autoestima. Por isso é tão importante saber confiar em alguém que ajude você a discernir as mediações do chamado de Deus. Isto vai produzir uma ressonância positiva, maturidade e aceitação.

 

Portanto, a sexualidade e a afetividade são fenômenos psíquicos e o sexo torna-se a realização do eros, erotismo, no conjunto harmonioso da vida. Então, a resposta generosa vocacional será o resultado de todos os sentimentos armazenados que começam no inconsciente e brotam na resposta consciente, livre e responsável.

 

A harmonia psíquico-afetiva

Entretanto, no processo do chamado vocacional, não podem ser esquecidos alguns elementos que impulsionam ou bloqueiam a harmonia do corpo psíquico-afetivo:

  • fixar-se em uma etapa do desenvolvimento, não querer crescer;
  • regredir para etapas anteriores da vida por medo de enfrentar os desafios;
  • progredir muito lentamente ou de forma acelerada demais, movido pela ansiedade;
  • reprimir os sentimentos e ações com vergonha de si mesmo;
  • buscar compensações e vícios que desvirtuam o chamado de Deus.

O chamado, por sua vez, envolve mente, coração e vontade, dentro de um contexto social de confusas e complexas demandas. Mas isso será tema de um próximo artigo.

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Chamado de Deus e vocação: Corpo psíquico-afetivo

Quinta, 27 Junho 2019 12:43 Escrito por 
No artigo passado comentei a questão do corpo biológico. É importante não esquecer que nosso corpo é comunicação de desejos, sentimentos, prazer e desprazer. O corpo fala daquilo que a pessoa sente e sonha.    

Neste novo artigo me detenho sobre o aspecto psíquico afetivo da sexualidade. Não podemos reduzir o fato de sermos pessoas afetivas ao campo apenas do sexo, pois o sexo é uma das partes envolvidas e não a totalidade do nosso agir. O erro, no meu modo de ver, está quando reduzimos nossa sexualidade ao ato sexual, como se isto fosse nossa inteira razão e sentido.

 

Então, surge a pergunta: o chamado de Deus supõe a vivência psíquico-afetiva ou a graça do chamado supera tudo? De antemão afirmo que o chamado de Deus se dá na natureza humana; assim como Jesus que se fez carne para habitar conosco e assumiu nossas dores (Jo 1,1; Fl 27,8). Essa realidade é o mais profundo mistério da vocação e envolve tudo, inclusive nossa afetividade.

 

Quando falamos de afetividade tudo escapa. Os conceitos não conseguem responder a todas as demandas, pois a afetividade envolve emoções, sentimentos, paixões, prazer e desprazer, alegria e tristeza. É fácil compreender então que a afetividade mexe com vários fenômenos psíquicos, inclusive questões contraditórias como amar e odiar, desejar e desprezar, seduzir e abandonar, ser doce e ser amargo. Portanto, a afetividade se aproxima da sexualidade, mas não se confunde com ela.

 

Uma fez ouvi um comentário de uma pessoa sobre este tema que me chamou a atenção. Ela dizia: podemos considerar a sexualidade como o sopro numa flauta. Ele vai produzir um som, porém este som sai pelos toques dos dedos nos pequenos orifícios da flauta, o que produz a harmonia da canção. Esta harmonia é a afetividade, mas precisa do sopro e, sobretudo, da pessoa que conduz pelos orifícios da flauta as notas musicais. Aí está a harmonia de nossa vida psíquico afetiva.

 

O dinamismo afetivo

Enquanto a sexualidade é uma energia ativa que movimenta toda nossa vida ora para dentro de nós, ora para fora (portanto, feita de impulsos); a afetividade é uma energia passiva, ou seja, ela acolhe todas as manifestações que entram pelos sentidos e os armazena.

 

Quando somos bem-sucedidos em alguma atividade, por exemplo, quando você começa um processo de discernimento vocacional e recebe a orientação devida e busca mergulhar no dom que você crê haver recebido, isto provoca uma sensação de bem-estar. No entanto, quando você não é bem acolhido, sente alguma espécie de rejeição ou dificuldade de ultrapassar os interditos da busca, cai a autoestima. Por isso é tão importante saber confiar em alguém que ajude você a discernir as mediações do chamado de Deus. Isto vai produzir uma ressonância positiva, maturidade e aceitação.

 

Portanto, a sexualidade e a afetividade são fenômenos psíquicos e o sexo torna-se a realização do eros, erotismo, no conjunto harmonioso da vida. Então, a resposta generosa vocacional será o resultado de todos os sentimentos armazenados que começam no inconsciente e brotam na resposta consciente, livre e responsável.

 

A harmonia psíquico-afetiva

Entretanto, no processo do chamado vocacional, não podem ser esquecidos alguns elementos que impulsionam ou bloqueiam a harmonia do corpo psíquico-afetivo:

  • fixar-se em uma etapa do desenvolvimento, não querer crescer;
  • regredir para etapas anteriores da vida por medo de enfrentar os desafios;
  • progredir muito lentamente ou de forma acelerada demais, movido pela ansiedade;
  • reprimir os sentimentos e ações com vergonha de si mesmo;
  • buscar compensações e vícios que desvirtuam o chamado de Deus.

O chamado, por sua vez, envolve mente, coração e vontade, dentro de um contexto social de confusas e complexas demandas. Mas isso será tema de um próximo artigo.

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