Por que é cada vez mais difícil responder ao chamado de Deus?

Segunda, 16 Setembro 2013 16:13 Escrito por 
Por que é cada vez mais difícil responder ao chamado de Deus? Foto: Douglas Mansur
A vocação à vida religiosa e ao presbiterado não é uma escolha pessoal. Contudo, há sempre a liberdade da resposta, embora Deus não desista daquele que ele chama. Pelo título do artigo o leitor já entendeu que vocação não se escolhe, se responde. Diferentemente da profissão, que atrai uma pessoa pelo gosto do próprio trabalho ou pela remuneração, que exige, portanto, uma qualificação específica, a vocação à vida religiosa e ao presbiterado não é uma escolha pessoal. A vocação é chamado de Deus - convocação: “Vinde e Vede” (Jo 1,39), ou como aconteceu com Mateus, quando Jesus o viu e disse: “Segue-me” (Mt 9,9).  

Ele tem a iniciativa de chamar a pessoa, contudo, há sempre a liberdade da resposta, embora Deus não desista daquele que ele chama. É bom aprender que o chamado de Deus não se dá a partir das nossas qualidades humanas, mas do projeto de discipulado missionário que ele tem para a pessoa. Agora, se o chamado é gratuito, a resposta é empenho de quem responde se qualificando através da formação continuada para anunciar a presença do Reino e servir a ele. Deus não chama para acomodar a pessoa em seus projetos pessoais, mas para uma grande missão. Por conseguinte, a pessoa chamada é exclusiva dele, para ser presença profética de Deus no mundo. Não se trata de um privilégio, embora nos cause alegria, mas de uma missão transformadora.

Contudo, nos dias de hoje é cada vez mais difícil ouvir a voz de Deus. Os ruídos são muitos, os atrativos múltiplos e a busca de respostas imediatas dificultam o saber ouvir, do alto da montanha, a voz de Deus que chama a contemplar os reinos e a ser mensageiro da Boa Nova que liberta. Por que é tão difícil decidir quando o chamado é evidente e os fatos da vida e as mediações são gritantes?

 

O nosso mundo é muito complexo

Temos hoje muitas possibilidades de conhecer, experimentar, ver as necessidades das pessoas, da sociedade e da Igreja. A própria tecnologia proporciona tudo isso. Porém, esse excesso de informação multiplica as variáveis de escuta e a capacidade de decidir. Por isso, é muito importante, em um processo de discernimento vocacional, confiar em alguém mais maduro na fé para partilhar das perguntas que nascem no interior. Somente assim, com um bom diretor ou diretora espiritual, é possível separar o relativo do absoluto e responder generosamente a Deus que chama.

 

Vivemos numa sociedade de incertezas

O que hoje é certo, amanhã pode não ser. O que hoje é moderno, amanhã já caducou. Essa mudança é fruto da cultura do provisório – descartável – que torna a capacidade de decidir mais difícil. Teme-se muito o futuro e não se tem a coragem de apostar na análise profunda do caminho a seguir porque na variedade de propostas parece que qualquer caminho é o melhor. Isso acontece muito com quem não sabe aonde quer ir. Reforço, então, a necessidade de uma boa orientação espiritual, às vezes até psicológica, para saber descobrir as próprias qualidades e gerenciar o próprio caminho.

 

Os objetivos pessoais são múltiplos

No ato de escolher a pessoa pode sofrer efeitos colaterais, quer dizer, quando se decide por uma coisa pode-se também prejudicar outra. No caso da vocação é muito comum o medo de responder ao chamado de Deus e não saber como vai concretizar a vida dentro de um carisma de vida religiosa ou no ministério presbiteral. O chamado sabe que sua vida estará a serviço do Reino onde for enviado. A obediência ao superior religioso e ao bispo coloca a pessoa em uma espécie situação de incerteza. Será que vai dar certo? Será que darei conta? Às vezes acontece de não responder com medo até de decepcionar os pais e os amigos.

 

Há diferentes pontos de vista na decisão

Na vida religiosa e no ministério presbiteral a decisão não é coletiva. O diretor ou diretora espiritual acompanha, mas chega um momento em que a pessoa deve assumir a própria decisão com liberdade. É preciso decidir sem pressão interna e externa, quer dizer, a pessoa não pode decidir para agradar alguém ou para não decepcionar a comunidade, o padre amigo e a religiosa amiga. É preciso enxergar o todo para saber decidir à luz da fé e não da opinião dos outros.

As decisões são sempre influenciadas por nossas crenças, o momento da vida que estamos e as experiências passadas, na sinceridade com a qual buscamos ouvir a Deus. Nunca poderá ser motivada pelo desejo de sucesso, carreirismo ou aplausos. O religioso, o padre e a religiosa, são pessoas exclusivas de Deus para o Reino, isto requer espírito de renúncia, capacidade de ir ao encontro dos outros, generosidade e, sobretudo, mergulhar no Mistério do chamado.

Quando decidimos apenas estimulados por aquilo que consideramos importante agora, caímos na armadilha do cérebro. Por exemplo: quando uma pessoa decide fundamentada na própria inteligência ou na força física, poderá errar porque sua inteligência não dará conta do seu equilíbrio afetivo e sexual, fundamentais para a vida religiosa ou poderá ter uma doença que o impedirá de desenvolver tarefas que no momento considera fundamental, daí surgirão as frustrações e até o abandono. Não se pode depositar o sentido da decisão vocacional na intuição ou nas experiências, mas no diálogo sincero com alguém mais maduro para aprender a fazer conclusões certas e proativas.

Avalie este item
(0 votos)

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.


Por que é cada vez mais difícil responder ao chamado de Deus?

Segunda, 16 Setembro 2013 16:13 Escrito por 
Por que é cada vez mais difícil responder ao chamado de Deus? Foto: Douglas Mansur
A vocação à vida religiosa e ao presbiterado não é uma escolha pessoal. Contudo, há sempre a liberdade da resposta, embora Deus não desista daquele que ele chama. Pelo título do artigo o leitor já entendeu que vocação não se escolhe, se responde. Diferentemente da profissão, que atrai uma pessoa pelo gosto do próprio trabalho ou pela remuneração, que exige, portanto, uma qualificação específica, a vocação à vida religiosa e ao presbiterado não é uma escolha pessoal. A vocação é chamado de Deus - convocação: “Vinde e Vede” (Jo 1,39), ou como aconteceu com Mateus, quando Jesus o viu e disse: “Segue-me” (Mt 9,9).  

Ele tem a iniciativa de chamar a pessoa, contudo, há sempre a liberdade da resposta, embora Deus não desista daquele que ele chama. É bom aprender que o chamado de Deus não se dá a partir das nossas qualidades humanas, mas do projeto de discipulado missionário que ele tem para a pessoa. Agora, se o chamado é gratuito, a resposta é empenho de quem responde se qualificando através da formação continuada para anunciar a presença do Reino e servir a ele. Deus não chama para acomodar a pessoa em seus projetos pessoais, mas para uma grande missão. Por conseguinte, a pessoa chamada é exclusiva dele, para ser presença profética de Deus no mundo. Não se trata de um privilégio, embora nos cause alegria, mas de uma missão transformadora.

Contudo, nos dias de hoje é cada vez mais difícil ouvir a voz de Deus. Os ruídos são muitos, os atrativos múltiplos e a busca de respostas imediatas dificultam o saber ouvir, do alto da montanha, a voz de Deus que chama a contemplar os reinos e a ser mensageiro da Boa Nova que liberta. Por que é tão difícil decidir quando o chamado é evidente e os fatos da vida e as mediações são gritantes?

 

O nosso mundo é muito complexo

Temos hoje muitas possibilidades de conhecer, experimentar, ver as necessidades das pessoas, da sociedade e da Igreja. A própria tecnologia proporciona tudo isso. Porém, esse excesso de informação multiplica as variáveis de escuta e a capacidade de decidir. Por isso, é muito importante, em um processo de discernimento vocacional, confiar em alguém mais maduro na fé para partilhar das perguntas que nascem no interior. Somente assim, com um bom diretor ou diretora espiritual, é possível separar o relativo do absoluto e responder generosamente a Deus que chama.

 

Vivemos numa sociedade de incertezas

O que hoje é certo, amanhã pode não ser. O que hoje é moderno, amanhã já caducou. Essa mudança é fruto da cultura do provisório – descartável – que torna a capacidade de decidir mais difícil. Teme-se muito o futuro e não se tem a coragem de apostar na análise profunda do caminho a seguir porque na variedade de propostas parece que qualquer caminho é o melhor. Isso acontece muito com quem não sabe aonde quer ir. Reforço, então, a necessidade de uma boa orientação espiritual, às vezes até psicológica, para saber descobrir as próprias qualidades e gerenciar o próprio caminho.

 

Os objetivos pessoais são múltiplos

No ato de escolher a pessoa pode sofrer efeitos colaterais, quer dizer, quando se decide por uma coisa pode-se também prejudicar outra. No caso da vocação é muito comum o medo de responder ao chamado de Deus e não saber como vai concretizar a vida dentro de um carisma de vida religiosa ou no ministério presbiteral. O chamado sabe que sua vida estará a serviço do Reino onde for enviado. A obediência ao superior religioso e ao bispo coloca a pessoa em uma espécie situação de incerteza. Será que vai dar certo? Será que darei conta? Às vezes acontece de não responder com medo até de decepcionar os pais e os amigos.

 

Há diferentes pontos de vista na decisão

Na vida religiosa e no ministério presbiteral a decisão não é coletiva. O diretor ou diretora espiritual acompanha, mas chega um momento em que a pessoa deve assumir a própria decisão com liberdade. É preciso decidir sem pressão interna e externa, quer dizer, a pessoa não pode decidir para agradar alguém ou para não decepcionar a comunidade, o padre amigo e a religiosa amiga. É preciso enxergar o todo para saber decidir à luz da fé e não da opinião dos outros.

As decisões são sempre influenciadas por nossas crenças, o momento da vida que estamos e as experiências passadas, na sinceridade com a qual buscamos ouvir a Deus. Nunca poderá ser motivada pelo desejo de sucesso, carreirismo ou aplausos. O religioso, o padre e a religiosa, são pessoas exclusivas de Deus para o Reino, isto requer espírito de renúncia, capacidade de ir ao encontro dos outros, generosidade e, sobretudo, mergulhar no Mistério do chamado.

Quando decidimos apenas estimulados por aquilo que consideramos importante agora, caímos na armadilha do cérebro. Por exemplo: quando uma pessoa decide fundamentada na própria inteligência ou na força física, poderá errar porque sua inteligência não dará conta do seu equilíbrio afetivo e sexual, fundamentais para a vida religiosa ou poderá ter uma doença que o impedirá de desenvolver tarefas que no momento considera fundamental, daí surgirão as frustrações e até o abandono. Não se pode depositar o sentido da decisão vocacional na intuição ou nas experiências, mas no diálogo sincero com alguém mais maduro para aprender a fazer conclusões certas e proativas.

Avalie este item
(0 votos)

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.