A fama, conquistada a qualquer preço, mesmo com o risco de se expor e acabar com a vida dilacerada, não parece amedrontar muitas pessoas. O foco que elas se colocam é imediatista e com pouco sentido de solidariedade e interesse social. A vida perde sentido a longo prazo e as conquistas são sempre para hoje. Ora, na dimensão vocacional isto se torna um desafio enorme e prejudica o verdadeiro sentido da vida como doação aos outros.
Em uma recente viagem a São Paulo encontrei na livraria do aeroporto um livro pequeno, mas de grande valor, intitulado Nunca deixe de tentar, do grande jogador de basquete Michael Jordan. O técnico da seleção brasileira de vôlei, Bernardinho, usa esse texto para trabalhar com seus jogadores. Não se trata de um livro de autoajuda. O texto é, na verdade, um projeto de vida. Reflete a experiência vivida e não meros conselhos milagreiros. O autor narra as dimensões para conseguir êxito na vida: meta, medos, comprometimento, trabalho em equipe, fundamentos e liderança. Há, em todo o processo, um método e uma hermenêutica. Para Jordan, é fundamental termos um objetivo na vida –um foco – e nunca perdê-lo de vista. A forma para conseguir resultados é a hermenêutica – interpretação. Comento brevemente para você, jovem, o livro em três pontos:
Nunca deixe de tentar
Primeiro: ponto de partida. Tenha sempre um foco no seu caminhar. Não adianta agarrar-se a vários objetivos porque isso fragiliza a pessoa. Uma coisa de cada vez. Ora, isso supõe disciplina e determinação.
Segundo: o processo a seguir. Crie uma meta curta para chegar ao seu foco. Uma meta demasiado longa ou muito elevada pode não ser alcançada e frustrá-lo terrivelmente. Os prazos para chegar ao foco devem ser possíveis. Seja persistente na meta com pensamento positivo, sabendo superar os medos. Todos temos medos. O medo, por sua vez, nos desafia. Se você procurar desculpas para seus medos colocando-os nos outros, nunca chegará ao foco. Personalize suas ações.
Não procure atalhos nas próprias metas com desculpas. Assuma que errou, administre as quedas e saiba também gerenciar os ganhos. Tudo que você vive no cotidiano é importante para seguir no processo. Saber trabalhar em equipe é uma arte importante. Pessoas egoístas com tendência a agir sozinhas não conseguem superar metas. Aqui é importante confiar em alguém. Partilhe seus sonhos e metas com uma pessoa mais madura que você.
Conheça bem os fundamentos – bases – do que você precisa saber para chegar ao foco. A pessoa eficiente sabe o que tem de fazer, porém, nem sempre é eficaz naquilo que deve fazer. O eficaz sabe o que tem de fazer e como fazer. É preciso ser ousado e criativo para alcançar metas. A pessoa criativa não perde o sentido do todo mesmo que trabalhe cada coisa no seu tempo. Um líder verdadeiro não é populista, mas responsável. Suas ações são coerentes com o que pensa. O populista quer agradar a todos e acaba fazendo concessões aqui e ali. Paulo VI dizia que o testemunho vale mais que o discurso. Ele tinha razão. Então, se você quiser a liderança, seja responsável e coerente.
Por fim: as frustrações. Elas devem funcionar como autoavaliação e alavanca para continuar o processo. A pessoa de bom-senso é autocrítica e age sempre coerente com suas convicções.
Um sentido para viver
Tenha sempre um foco na sua vida – um sentido para viver – contudo, não pode ser uma conquista puramente imediata e passageira, importante ainda é não perder cada fase do processo.
Jesus de Nazaré foi assim. Ele tinha um foco: o Reino de Deus. Assumiu todos os desafios e chegou à meta. Ele morreu e ressuscitou para que todos tivéssemos vida (Jo 10,10). No seguimento de Jesus, Dom Bosco, fundador dos salesianos, foi um homem assim. Ele tinha um foco na vida: ser um padre diferente. Ele conseguiu. Venceu cada etapa da caminhada. Ao encontrar os jovens abandonados e explorados, ele assumiu com eles uma vida nova e tudo fez para ser solidário com eles.
No final da vida, Dom Bosco disse: “Se eu tivesse tido mais fé, Deus teria feito muito mais”. Isto significa que Dom Bosco soube ser autocrítico e positivo. Não teve medo de dedicar sua vida a um grande projeto de salvação para jovens que viviam risco social, ameaçados pela exploração de adultos, violência urbana, prisão e morte.