Nos contextos complexos da nossa condição humana atual precisamos refletir sobre as razões do nosso ser missionário. Por que a missão é tão importante ainda hoje? O que significa evangelizar na era digital? Qual é o meu lugar na nova evangelização? Afinal, o que devo anunciar?
A compreensão da missão como anúncio para pessoas que não conhecem o Evangelho mudou. Evidentemente que muitos ainda não ouviram explicitamente o que seja a Palavra de Deus; contudo, somos conscientes de que as sementes do Verbo da vida já estão plantadas no mundo e nossa relação com as pessoas e culturas exige abertura, diálogo, despojamento e, sobretudo, conversão pastoral, senão continuaremos a mudar as palavras sem modificar a práxis.
Isto significa que eu, você e todos os chamados, temos um serviço relevante a desenvolver. Não acredito que haja um protagonista isolado, mas toda a comunidade do Povo de Deus está convocada, segundo os carismas pessoais e vocação, a evangelizar movida pelo chamado interior diante da verdade que é Jesus.
Mas quem é Jesus, a pessoa que temos de comunicar? A pergunta sobre Jesus é perene. Para seus contemporâneos, ele foi um homem sem importância. Nasceu num lugar povoado de pastores – pessoas pobres e sem importância –, conviveu com pescadores na Galileia, seus amigos eram quase todos pobres e desprovidos de poder religioso e politico. Seu pai e sua mãe eram simples e viviam em Nazaré, uma cidade perdida da Galileia. Jesus foi assim um piedoso judeu que viveu à margem do poder dominante. Contudo, sua palavra e seus gestos deixaram marcas profundas na história a tal ponto de modificar culturas diversas. Ainda hoje Ele continua revolucionando o mundo, fascinando pessoas. Ele continua morrendo ainda hoje nos pobres e ressuscita na esperança de um mundo novo porque o tempo não para.
Cada vocação cristã – seja à vida consagrada, ao matrimônio, ao presbiterado, ao voluntariado, seja aquela missionária -, emerge na sociedade e na Igreja como fruto do fascínio que Ele exerce sobre cada um de nós. E por Ele, com Ele e n’Ele, temos a coragem de responder generosamente sim, despojando-nos de nós mesmos na bela missão de evangelizar.
Contudo, para reconhecer o dom da vocação missionária é preciso reaprender a entender o mistério. Infelizmente, na sociedade atual há grandes perdas: perda da dimensão afetiva; perda da historicidade e do tempo; perda da capacidade de compromisso estável. Tudo isto gera fragilidade e vulnerabilidade. Portanto, o ser evangelizador começa quando buscamos entender as razões de nossa fé e o mistério de nossa vida. É muito importante considerar que cada momento da vida, encontro e desencontro, perdas e ganhos, são ocasiões de resposta, de crescimento, de verdade, de transformação. O mistério não está fora de nós, mas dentro de nós mesmos. O mistério se manifesta na dor e na alegria, na solidão e na companhia, no relacionamento harmônico e desarmônico. Tudo isso é lugar da manifestação de Deus que chama.
Um animador vocacional não pode ser alguém que responde, mas uma pessoa que sabe com paciência e habilidade cavar as respostas no mistério da pessoa, ajudando-a na formulação das perguntas. A vocação é sempre um processo dialogante entre Deus que chama no mais íntimo do ser humano no emaranhado de acontecimentos, pessoas e confrontos, e da pessoa que se pergunta e busca, muitas vezes, na escuridão dos sentidos, as respostas de significado.
Ser missionário é, então, saber responder e saber perguntar. Como Maria, não tenhamos medo de dizer: “Faça-se em mim segundo a Tua palavra”.