O Papa Francisco fala da “necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas ‘notícias más’”, e acrescenta: “Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seja ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingênuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal. Antes, pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele sentimento de mau-humor e resignação que muitas vezes se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não ser possível pôr limites ao mal”. Trata-se de um olhar crítico e consciente sobre a realidade. Não se quer reduzir a importância da acessibilidade à informação, condição essencial para as sociedades democráticas, mas refletir sobre a forma como essa informação é transmitida.
Basta ligarmos a TV ou acessarmos qualquer jornal para ver como a mídia espetaculariza situações e fatos específicos, de forma superficial ou excessivamente apelativa, recorrendo ao aspecto emocional. Por exemplo, um elemento altamente explorado é a violência, atrelado à insegurança, geralmente tratado como um problema a ser combatido com penas mais severas, inclusive sugerindo-se a aplicação da pena de morte ou a redução da maioridade penal.
Outro aspecto a ser considerado é o bombardeamento, realizado pelos meios de comunicação, com constantes mensagens de violência, agressividade, corrupção, exploração e outras situações que acabam anestesiando as pessoas, criando o sentimento coletivo de que tudo isso é natural e não há nada que se possa fazer para mudar. Ao mesmo tempo, inconscientemente, tem-se a impressão de que vivemos numa sociedade de pessoas más, em que cada um “precisa defender-se do outro”. Se utilizarmos uma chave de leitura cristã, veremos que essa ideia é contrária ao fundamento do humanismo cristão, que vê no ser humano o potencial para o bem. Se olharmos para a prática de Jesus, veremos que Ele condena o pecado, denuncia as situações de injustiça, mas não condena “a pessoa”.
Jesus comunicador
Quando o Papa coloca que: “Para nós, cristãos, os óculos adequados para decifrar a realidade só podem ser os da boa notícia”, ele aponta que a prática de Jesus deve ser o critério para a nossa leitura de mundo. Isso é comprometedor. Toda a vida de Jesus é permeada pela esperança de que o Reino está próximo, de que Deus não abandona o seu povo. Muito pelo contrário, não hesita em denunciar as situações de injustiça e de exploração do seu povo, revolta-se contra a hipocrisia daqueles que utilizam a Palavra de Deus em proveito próprio. O diferencial de Jesus, no entanto, é que Ele aponta para a “luz que vem de Deus”, aponta um caminho ao qual podemos nos dirigir.
As palavras e as ações de Jesus deixam transparecer a certeza de que Deus está presente na história, de que Ele caminha com seu povo e por isso tem sentido querer transformar essa realidade. É uma perspectiva otimista e não anestesiadora. Do ponto de vista salesiano, Dom Bosco vive essa prática evangélica de forma exemplar: vai ao encontro dos mais empobrecidos, daqueles que viviam nas situações mais precárias de violência e pobreza. Sem utilizar atitudes moralizantes, vê naqueles meninos de periferia o potencial para a mudança de vida.
Dom Bosco aprendeu na escola de Jesus a comunicar vida e esperança. Sabia que Jesus em seu tempo utilizava-se de parábolas para fazer-se entender pelo povo, e nesta dinâmica, Dom Bosco também se utilizava de narrativas que levavam os jovens a refletirem sobre a realidade e sobre suas ações.
Comunicação e evangelização
A mensagem do Papa é, para toda a Família Salesiana, um convite a fortalecer a dimensão carismática da comunicação como sinônimo de evangelização, de anúncio da Boa Notícia. Uma comunicação que não é baseada em níveis de audiência ou em métricas de visualização, mas nos critérios evangélicos, tendo em mente a esperança de que o Reino de Deus se constrói a cada dia.
Fica ainda o desafio, para cada membro da Família Salesiana, de ler essas narrativas constantemente emitidas pelos meios de comunicação com os “óculos do Evangelho”, tendo a capacidade de ver além daquilo que está sendo dito. E de, neste sentido, manter viva a “confiança em Deus e a lógica da Páscoa”, que tornam possível perceber a ação de Deus na história e na vida de cada pessoa.
Irmã Márcia Koffermann, FMA, compõe, juntamente com o padre João Carlos Ribeiro, a Diretoria Executiva da RSB Comunicação.