A palavra comunicação deriva do latim “communicare”, que significa tornar comum, partilhar, conferenciar. Possui a mesma origem da palavra “comunhão”, o que nos faz lembrar de um Deus que quer partilhar, estar no meio de nós.
Durante todo o Antigo Testamento, a Bíblia nos fala de Deus como Aquele que se revela, primeiramente na Criação. Embora, Ele exista desde todo o sempre em perfeita comunhão trinitária, o transbordamento de seu amor o leva ao ato de criar, gerar vida. A beleza da criação torna-se assim vestígio de Deus diante do qual o homem pode maravilhar-se e contemplar os sinais do Criador. Conforme disse Teilhard de Chardin: “O grande mistério do cristianismo não é exatamente a Aparição, mas a Transparência de Deus no Universo. Oh! Sim, Senhor, não só o raio de luz que passa roçando, mas o raio que penetra”.
Por mais que as explicações científicas estejam cada vez mais avançadas, o mistério permanece e ao olhar para a perfeição das leis físicas, da evolução do mundo e do ser humano, automaticamente brota em nós a atitude de reverência diante Daquele que tudo sabe e tudo fez. Se nas criaturas imperfeitas e frágeis vemos tanta beleza, quanto mais belo é Aquele que tudo criou!
Além da Criação, Deus se autocomunica através da história de seu povo, por meio dos profetas, que tentam perceber a vontade de Deus em cada situação. Nesses momentos, Deus aparece sempre como defensor da vida, ao lado dos que mais sofrem, é Aquele que “ouve o clamor de seu povo” e se compadece. O desejo de Deus comunicar-se atinge o seu ápice com a vinda de Jesus Cristo.
Jesus é comunicador do Pai, por excelência, Ele não apenas fala, mas faz tudo aquilo que Deus queria transmitir a seu povo. Quando Jesus ensina, cura, acolhe, abençoa, discute, questiona, Ele está vivenciando a própria “Palavra de Deus”; não é por menos que assim chamamos o Evangelho, que relata a vida de Jesus. Cristo é, para nós, o Verbo de Deus, a Palavra Criadora que faz novas todas as coisas, de forma tão simples que todos somos capazes de compreender.
Ao encerrar sua missão, Jesus deixa aos seus discípulos o mandato missionário: “Ide e anunciai a todas as criaturas”. A comunicação não é uma mera escolha estratégica; mas é, antes, um mandato de Jesus. Faz parte da essência cristã. Conforme o Documento de Aparecida, “conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher” (Ap.18).
É compreensível que só possamos comunicar aquilo que conhecemos, e se nossa missão como cristãos é transmitir Jesus Cristo, precisamos conhecê-lo profundamente. No centro da espiritualidade salesiana encontramos Jesus Cristo, o Bom Pastor. Esta imagem sintetiza de forma evidente quem é o nosso Deus. Em várias passagens do Antigo Testamento, Deus é apresentado como o Pastor, que salva, guia e protege seu povo. É um Deus próximo, que cuida de cada um e quer estar em relação com suas criaturas.
Jesus vai dizer: “Eu sou o Bom Pastor”; Ele é o próprio Deus que veio para cuidar de seu povo, para conduzi-lo a um Reino de justiça e paz. Suas atitudes o demonstram: fala com os pecadores, toca e cura os doentes, chega a dar a própria vida pelas suas “ovelhas”. Ao nos dizermos cristãos, deveríamos estar tão próximos de Cristo, em palavras e ações, a ponto de sermos como que prolongamento da sua vida. Quanto mais em relação estivermos com Cristo, maior será nossa experiência de Deus e maior será a possibilidade de comunicarmos esta experiência, ou seja, anunciarmos o Reino de Deus.
Quando Madre Mazzarello compartilha com Petronila sua ideia de ensinar as meninas de Mornese a costurar, ela logo esclarece: “É preciso ficar bem claro que o fim principal é ensinar-lhes a conhecer e amar Nosso Senhor”. Assim, toda a obra educativa das Filhas de Maria Auxiliadora nasce do desejo de comunicar a bondade e a misericórdia de Deus. Esta experiência de comunhão, “comunicação” com Deus, é tão forte em Mornese, que se chega a dizer que lá era a “Casa do Amor de Deus”.
Voltando nosso olhar para o hoje, somos chamados a comunicar o que temos de mais precioso aos jovens de nosso tempo: a verdade de um Deus que é comunhão, relação e amor. Os métodos podem mudar, as estratégias podem ser inovadas, mas a missão de comunicar está no DNA do ser cristão e mais ainda do ser salesiano, porque, retomando o documento de Aparecida, “não há maior alegria do que transmitir Jesus Cristo”.
Irmã Márcia Koffermann compõe, juntamente com o padre João Carlos Ribeiro, a Diretoria Executiva da RSB Comunicação.