Família Salesiana, o que procura?

Segunda, 16 Março 2015 22:14 Escrito por 
A nossa Família, presente em quase todos os cantos da Terra, é convidada a transformar-se na casa de Jesus, o seu domicílio, onde qualquer pessoa de qualquer condição, mas sobretudo aqueles mais necessitados, possam ter a experiência de vir e ver.

O evangelista João narra a humilde origem do pequeno grupo de discípulos de Jesus. A sua narrativa começa de maneira misteriosa. Diz-se que Jesus “passava”. Não sabemos de onde vinha nem para onde ia. Não se prende ao lado de Batista: vai além do seu mundo religioso do deserto. Por isso, João sugere aos próprios discípulos que concentrem sua atenção sobre ele: “Eis o Cordeiro de Deus”. Jesus vem de Deus, não com poder e glória, mas como um cordeiro indefeso e desamparado. Não se imporá nunca pela força, não obrigará ninguém a acreditar nele. Um dia será sacrificado na cruz. Aqueles que quiserem segui-lo deverão acolhê-lo livremente.

Os dois discípulos que ouviram Batista começaram a seguir Jesus sem dizer uma palavra. Há nele alguma coisa que os atrai, também não sabiam quem ele era nem onde os estava levando. Todavia, para seguir Jesus não basta ouvir o que os outros dizem dele: é necessária uma experiência pessoal. Jesus, por isso, se volta e lhes faz uma pergunta muito importante: “O que vocês procuram?”. Não se pode seguir os seus passos de um modo qualquer. O que esperamos dele? Por que o seguimos? O que procuramos? Aqueles homens não sabem aonde essa jornada de Jesus os pode levar, mas pressentem que ele pode ensinar alguma coisa que não conhecem: “Mestre, onde mora?”. Não procuram nele grandes ideologias. Querem que os ensine onde viver, como viver e quais são os seus propósitos. Jesus disse a eles: “Venham e verão”.

Como os discípulos de João, nós também num momento da nossa vida nos colocamos em direção a Jesus, talvez mesmo sem conhecê-lo bem, talvez sem saber com certeza o que significa sermos seus discípulos, ao estilo de Dom Bosco. É verdade que Dom Bosco é uma pessoa fascinante, capaz de perturbar positivamente o coração das pessoas, capaz de arrastar uma comunidade inteira ao encontro do Deus da Vida, mesmo assim não se separa do cotidiano, da vida comum, da simplicidade e da “normalidade” de qualquer cidadão. Às vezes alguém se pergunta o que mantém a atualidade de Dom Bosco, o que o motivou na vida e o que motiva atualmente a sua obra a ser assim envolvente e entusiasmada. E Jesus, como fez aos discípulos de João, em um momento quase por acaso, nos olha e nos questiona: “O que procuram?”. Eu também os questiono hoje: “Família Salesiana, o que procuram?”

 

O plano de vocação pastoral de Jesus

É muito importante que cada um possa responder pessoalmente a essa questão e também em grupo, como corpo eclesial. Precisamos aprender a ouvir a Palavra de Jesus com o coração aberto, o mais puro possível, renovando a nossa capacidade de percepção. Os discípulos dos quais fala o Evangelho, antes de ouvir Jesus, ouviram de Batista: “Eis o cordeiro de Deus”, experimentando no próprio coração o desejo de procurar uma coisa a mais na própria vida, e assim Simão ouviu seu irmão André: “Encontramos o Messias” e o “conduziu a Jesus”. Ouvir e reconhecer a voz dos intermediários é uma condição inicial.

E nós, como Família Salesiana, somos convidados a tornar-nos intermediários, os que conduzem os outros a Jesus, em nosso caso, especialmente os jovens. Então, somos chamados a ouvir muito mais de Deus e dos outros, e também a estarmos prontos para tornar a nós mesmos intermediários, mediadores, que levam a Jesus. Esta é minha convição desde o início e a compartilho para que seja também de vocês.

Uma vez que os discípulos responderam com surpresa e constrangimento perguntando-lhe onde morava, Jesus fez ouvir o seu convite, endereçado hoje também a nós: “Venham e verão”. Eis o projeto de vocação pastoral de Jesus.

Caríssimos, a nossa Família, presente em quase todos os cantos da Terra, foi convidada a transformar-se na casa de Jesus, onde qualquer pessoa de qualquer condição, mas sobretudo aqueles mais necessitados, possam ter a experiência de vir e ver. Mas podemos igualmente nos perguntar onde era a casa de Jesus. De fato, nos Evangelhos, O encontramos quase sempre caminhando e quando está “em casa” é como hóspede de alguém que o recebe, porque sabemos bem que Ele não tinha nem “onde descansar a cabeça”. Então, prestem atenção para não nos apegarmos demais às estruturas das nossas casas e atendimentos, às nossas obras e instituições. A vacina para prevenir ou combater essa doença é contemplar Jesus sempre caminhando, porque a estrada é o cenário típico de um rabinocom os seus discípulos. De fato, o que significa ser um discípulo senão uma pessoa que segue um mestre?

 

Deus não nos quer dorminhocos!

Recordem a história de Samuel, muito conhecida, porque é um típico texto vocacional: Deus chama “Samuel, Samuel”, e Samuel responde: “Eis-me aqui”. Quero, porém, destacar um outro aspecto. Na história parece que Deus está empenhado em não deixar Samuel dormir. O texto diz que “O Senhor chamou” e mais uma vez: “O Senhor chamou de novo”, e então: “O Senhor tornou a chamar”, e finalmente: “Veio o Senhor, ficou perto dele e o chamou como das outras vezes”.

A primeira observação é que Deus não se cansa de chamar-nos, a outra é que não nos quer dorminhocos. Prestemos atenção a um pecado que não é incomum: autocomplacência, isto é, conformar-nos com a vivência interior, o gosto e a satisfação de estarmos juntos e colocar-nos a nós mesmos como foco, como grupos e instituições. Quando alguém se encontra muito confortável, muito mimado , no calor do “doce lar”, é fácil adormecer. E uma família adormecida não pode ser nunca uma parte da Igreja em saída, como hoje propõe o papa Francisco, e como vem no nosso DNA salesiano desde a origem. 

Despertemo-nos e despertamos o mundo! O nosso carisma está mais vivo que nunca, não por virtude nossa, mas pela graça de Deus que nunca nos abandona, pela força do seu chamado, pelo testemunho de nossos queridos santos, beatos e veneráveis da nossa imensa Família, e pelo testemunho de milhares de irmãs e irmãos que nos antecederam ou estão hoje entre nós. Mas, sobretudo, é um carisma mais vivo que nunca porque existem milhões de jovens, sobretudo aqueles de diversas periferias geográficas e existenciais, a clamar a Deus, muitas vezes com grande alvoroço e muitas com um profundo silêncio cheio de dor, abandono e sofrimento.

Tradução: Elaine Tozetto

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Família Salesiana, o que procura?

Segunda, 16 Março 2015 22:14 Escrito por 
A nossa Família, presente em quase todos os cantos da Terra, é convidada a transformar-se na casa de Jesus, o seu domicílio, onde qualquer pessoa de qualquer condição, mas sobretudo aqueles mais necessitados, possam ter a experiência de vir e ver.

O evangelista João narra a humilde origem do pequeno grupo de discípulos de Jesus. A sua narrativa começa de maneira misteriosa. Diz-se que Jesus “passava”. Não sabemos de onde vinha nem para onde ia. Não se prende ao lado de Batista: vai além do seu mundo religioso do deserto. Por isso, João sugere aos próprios discípulos que concentrem sua atenção sobre ele: “Eis o Cordeiro de Deus”. Jesus vem de Deus, não com poder e glória, mas como um cordeiro indefeso e desamparado. Não se imporá nunca pela força, não obrigará ninguém a acreditar nele. Um dia será sacrificado na cruz. Aqueles que quiserem segui-lo deverão acolhê-lo livremente.

Os dois discípulos que ouviram Batista começaram a seguir Jesus sem dizer uma palavra. Há nele alguma coisa que os atrai, também não sabiam quem ele era nem onde os estava levando. Todavia, para seguir Jesus não basta ouvir o que os outros dizem dele: é necessária uma experiência pessoal. Jesus, por isso, se volta e lhes faz uma pergunta muito importante: “O que vocês procuram?”. Não se pode seguir os seus passos de um modo qualquer. O que esperamos dele? Por que o seguimos? O que procuramos? Aqueles homens não sabem aonde essa jornada de Jesus os pode levar, mas pressentem que ele pode ensinar alguma coisa que não conhecem: “Mestre, onde mora?”. Não procuram nele grandes ideologias. Querem que os ensine onde viver, como viver e quais são os seus propósitos. Jesus disse a eles: “Venham e verão”.

Como os discípulos de João, nós também num momento da nossa vida nos colocamos em direção a Jesus, talvez mesmo sem conhecê-lo bem, talvez sem saber com certeza o que significa sermos seus discípulos, ao estilo de Dom Bosco. É verdade que Dom Bosco é uma pessoa fascinante, capaz de perturbar positivamente o coração das pessoas, capaz de arrastar uma comunidade inteira ao encontro do Deus da Vida, mesmo assim não se separa do cotidiano, da vida comum, da simplicidade e da “normalidade” de qualquer cidadão. Às vezes alguém se pergunta o que mantém a atualidade de Dom Bosco, o que o motivou na vida e o que motiva atualmente a sua obra a ser assim envolvente e entusiasmada. E Jesus, como fez aos discípulos de João, em um momento quase por acaso, nos olha e nos questiona: “O que procuram?”. Eu também os questiono hoje: “Família Salesiana, o que procuram?”

 

O plano de vocação pastoral de Jesus

É muito importante que cada um possa responder pessoalmente a essa questão e também em grupo, como corpo eclesial. Precisamos aprender a ouvir a Palavra de Jesus com o coração aberto, o mais puro possível, renovando a nossa capacidade de percepção. Os discípulos dos quais fala o Evangelho, antes de ouvir Jesus, ouviram de Batista: “Eis o cordeiro de Deus”, experimentando no próprio coração o desejo de procurar uma coisa a mais na própria vida, e assim Simão ouviu seu irmão André: “Encontramos o Messias” e o “conduziu a Jesus”. Ouvir e reconhecer a voz dos intermediários é uma condição inicial.

E nós, como Família Salesiana, somos convidados a tornar-nos intermediários, os que conduzem os outros a Jesus, em nosso caso, especialmente os jovens. Então, somos chamados a ouvir muito mais de Deus e dos outros, e também a estarmos prontos para tornar a nós mesmos intermediários, mediadores, que levam a Jesus. Esta é minha convição desde o início e a compartilho para que seja também de vocês.

Uma vez que os discípulos responderam com surpresa e constrangimento perguntando-lhe onde morava, Jesus fez ouvir o seu convite, endereçado hoje também a nós: “Venham e verão”. Eis o projeto de vocação pastoral de Jesus.

Caríssimos, a nossa Família, presente em quase todos os cantos da Terra, foi convidada a transformar-se na casa de Jesus, onde qualquer pessoa de qualquer condição, mas sobretudo aqueles mais necessitados, possam ter a experiência de vir e ver. Mas podemos igualmente nos perguntar onde era a casa de Jesus. De fato, nos Evangelhos, O encontramos quase sempre caminhando e quando está “em casa” é como hóspede de alguém que o recebe, porque sabemos bem que Ele não tinha nem “onde descansar a cabeça”. Então, prestem atenção para não nos apegarmos demais às estruturas das nossas casas e atendimentos, às nossas obras e instituições. A vacina para prevenir ou combater essa doença é contemplar Jesus sempre caminhando, porque a estrada é o cenário típico de um rabinocom os seus discípulos. De fato, o que significa ser um discípulo senão uma pessoa que segue um mestre?

 

Deus não nos quer dorminhocos!

Recordem a história de Samuel, muito conhecida, porque é um típico texto vocacional: Deus chama “Samuel, Samuel”, e Samuel responde: “Eis-me aqui”. Quero, porém, destacar um outro aspecto. Na história parece que Deus está empenhado em não deixar Samuel dormir. O texto diz que “O Senhor chamou” e mais uma vez: “O Senhor chamou de novo”, e então: “O Senhor tornou a chamar”, e finalmente: “Veio o Senhor, ficou perto dele e o chamou como das outras vezes”.

A primeira observação é que Deus não se cansa de chamar-nos, a outra é que não nos quer dorminhocos. Prestemos atenção a um pecado que não é incomum: autocomplacência, isto é, conformar-nos com a vivência interior, o gosto e a satisfação de estarmos juntos e colocar-nos a nós mesmos como foco, como grupos e instituições. Quando alguém se encontra muito confortável, muito mimado , no calor do “doce lar”, é fácil adormecer. E uma família adormecida não pode ser nunca uma parte da Igreja em saída, como hoje propõe o papa Francisco, e como vem no nosso DNA salesiano desde a origem. 

Despertemo-nos e despertamos o mundo! O nosso carisma está mais vivo que nunca, não por virtude nossa, mas pela graça de Deus que nunca nos abandona, pela força do seu chamado, pelo testemunho de nossos queridos santos, beatos e veneráveis da nossa imensa Família, e pelo testemunho de milhares de irmãs e irmãos que nos antecederam ou estão hoje entre nós. Mas, sobretudo, é um carisma mais vivo que nunca porque existem milhões de jovens, sobretudo aqueles de diversas periferias geográficas e existenciais, a clamar a Deus, muitas vezes com grande alvoroço e muitas com um profundo silêncio cheio de dor, abandono e sofrimento.

Tradução: Elaine Tozetto

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