Foram predominantes em Dom Bosco as solicitudes pela juventude da cidade. O encontro de Dom Bosco com a situação dos jovens das periferias e com a completa desorientação em que estes se encontravam foi o grande estímulo ou ponto referencial concreto para que, dentro de pouco tempo, Dom Bosco realizasse um discernimento sobre o seu futuro apostolado ou campo de trabalho. De fato a pessoa histórica em atividade supera o Dom Bosco construído pelo gosto do extraordinário, do sobrenatural. Sobressaiu sempre o Dom Bosco trabalhador e lutador pelo bem dos jovens. [conforme Pe. Afonso de Castro, em A espiritualidade de São João Bosco].
O padre Cafasso tinha iniciado uma catequese para jovens, na igreja de São Francisco de Assis. Mas depois, por motivo de suas múltiplas ocupações, tinha abandonado esse trabalho. Viu em Dom Bosco quem pudesse continuá-lo. Encaminhou-o também para os cárceres, onde Dom Bosco começou a pensar em oratório: “Quem sabe – dizia de mim para mim -, se tivessem lá fora um amigo que tomasse conta deles, os assistisse e instruísse na religião nos dias festivos, quem sabe não se poderiam manter afastados da ruína ou pelo menos não diminuiria o número dos que retornam ao cárcere” (Memórias do Oratório, Editora Salesiana, p. 121).
Falou com padre Cafasso e padre Guala, que o encaminharam para o arcebispo. Este aprovou o plano de Dom Bosco. Assim “a primeira parte da vida de Dom Bosco chegou à plena atuação na realização da vocação de padre diocesano consagrado ao apostolado juvenil e popular. A isso chegara graças a processos educativos, intencionais ou não, que marcaram estavelmente sua personalidade, enriquecendo-a progressivamente de traços característicos” (conforme Pietro Braido, em Dom Bosco Padre dos jovens..., I, p. 361).
Trabalho inicial
Após um período de peregrinação por diversas sedes provisórias, o oratório vai estabelecer-se na casa Pinardi em Valdocco. Amor, dedicação, força de vontade, espírito de praticidade, gosto pela vida e desejo de ver os jovens felizes impulsionam a imaginação, o coração, a vontade, o trabalho e a fé do sacerdote que, de agora em diante, estará com sua mãe anciã a seu lado. Dele dizia a Civiltà Cattolica de Roma: “Deve-se distinguir por mérito das virtudes eminentes, embora não espalhafatosas, um egrégio sacerdote de nome Dom Bosco, que soube por muitas razões arrancar de seus inimigos uma homenagem de admiração pelos prodígios de caridade e de beneficência para com os pobres e esquecidos filhos do povo do qual ele é mestre e pai” (Stati Sardi (Nostra corrispondenza), La Civiltà Cattolica 4 (1853) II, p. 204).
Na verdade, a obra dos oratórios festivos, de modo especial, será reconhecida juridicamente como estrutura intra-eclesial pelo ordinário diocesano somente em 31 de março de 1852. Os oratórios de Dom Bosco nessa ocasião já eram três: além do Oratório de Valdocco tinha sido fundado o Oratório de São Luis Gonzaga e aceito o Oratório do Anjo da Guarda, que fora aberto pelo padre Cocchi.
Características do oratório
Qual a diferença entre a simples catequese e o trabalho oratoriano de Dom Bosco? O oratório insistia sobre a responsabilidade de fazer progredir o jovem no que tinha de bom. A vida juvenil apresentou-se a Dom Bosco como o legado divino mais forte para seu confronto pessoal diante dos jovens e diante de Deus. Desse confronto surgiu seu grandioso ardor apostólico de grande educador e promotor do sistema preventivo na pedagogia do amor de Deus para o bem completo dos jovens.
A atividade oratoriana, para Dom Bosco, ultrapassava qualquer limitação em suas relações educativas com os jovens. Ele os assumia em sua vida e em suas reais necessidades: trabalho, desenvolvimento da profissionalidade, a necessidade de encontrar-se, de expansão da vida e, principalmente, de se sentirem pessoas respeitadas e acolhidas com agrado.
Essa metodologia era fortemente marcada pela descoberta de relações educativas de proximidade, de amizade, de afeto e de compromissos com o bem dos jovens. O ambiente deveria ter como alicerces a bondade, a caridade e um espírito de jovialidade entre todos.
Trabalho incansável, profundidade de vida e de oração, capacidade de acolher e orientar, de viver a fé e de estar ao lado dos jovens a exemplo do Bom Pastor, com mansidão e doçura, com ternura e bondade são algumas afirmações que podem resumir o conjunto de valores que estão contidos na espiritualidade de quem ia trabalhar nos oratórios de Dom Bosco.
Ao mesmo tempo, em um ambiente alegre, procurava-se suprir a falta de um lar. Em suma que fossem pais, amigos e irmãos, numa atmosfera permeada de razão, religião e cordialidade, onde a religião, coroada pelas compatíveis alegrias humanas, era fonte de felicidade e de harmonia para quem entrasse nessa família.
A presença dos jovens em constantes solicitações mostrava a Dom Bosco a vida em suas singularidades em cada jovem. Ele tinha uma sensibilidade peculiar de antever as possibilidades dos jovens quanto ao futuro e quanto ao presente. Da mesma forma, pedagogicamente sabia conduzir e exortar a todos para o cumprimento dos deveres e para a luta de um possível aprimoramento pessoal. Soube individualizar as qualidades de cada um para um empenho pessoal maior em seu trabalho ou em sua formação.
Justamente a presença, dentro da concepção pedagógica de Dom Bosco, era muito importante como princípio animador e estimulador da liberdade e crescimento pessoal para os jovens. “Outros contextos farão admirar um Dom Bosco que aprecia e valoriza em certa medida as potencialidades positivas de que os jovens são portadores: um Dom Bosco que encoraja o espírito de iniciativa, que não aprecia regulamentações artificiosas e supérfluas, que anuncia o evangelho da alegria no interior da própria piedade, que incentiva ao trabalho e ao estudo, os quais fazem crescer em dignidade e qualidade moral e social os que a eles se entregam com esforço fiel e tenaz” (Pietro Braido, em Dom Bosco Padre dos jovens...).
Sua presença ao lado dos jovens somente poderia ser de estímulo para um aprimoramento pessoal, tanto em aprender a perceber os próprios dons, como em capacitar-se pelo exercício da vontade. Antes de tudo ensinava a ver, mediante exortações e encontros pessoais e gerais dos jovens ali presentes. Apontava a auto-conscientização sobre a própria vida pela avaliação e individualização dos próprios dons, tendo em vista a aquisição célere de um agir e se portar por iniciativas próprias. Em outras palavras, acreditar em si e tomar iniciativas diante da vida.
Essa intensidade de vida adquiria uma feição particular pela sua aceitação entre os jovens e por suas constantes propostas de crescimento pessoal e profissional a todos. Conseguia assim grandes empenhos pessoais dos jovens em direção a uma vida honesta e cristã, na prática da vida responsável perante si e perante a sociedade. Conseguiu uma anuência tal entre os jovens que o ambiente do oratório se tornara exemplo de liberdade, de atividade, de empenho e de oração.