O sonho e uma missão

Segunda, 26 Agosto 2024 18:51 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
No artigo anterior descrevi a necessidade do Encontro com Jesus como parâmetro para nosso caminho de discípulos e discípulas. Neste segundo, somos convidados, como Família Salesiana, a revisitar o chamado Sonho dos 9 Anos de Dom Bosco.

 

Ao retomar o sonho que João Bosco teve em 1824, quando ele tinha entre 9 e 10 anos, quero apresentar alguns aspectos para incluir no nosso Projeto Pessoal de Vida. Esse foi um sonho que lhe mostrou uma missão: transformar-se em educador evangelizador de jovens em situação de vulnerabilidade, ou, como ele mesmo chamava na época, jovens pobres abandonados e órfãos.

No sonho, temos três imagens: um senhor de aspecto viril, uma bela senhora e meninos que brigam. Num momento são animais ferozes, em outro, dóceis cordeiros. Um sonho envolvido entre a lucidez e a inconsciência. Algumas palavras ficaram marcadas para toda a vida de João.

 

Sou o Filho daquela que tua mãe ensinou a saudar três vezes ao dia

Aquele senhor majestoso, de aspecto varonil, nobremente vestido, cujo nome não é revelado, aparece num cenário de conflito. João está em meio a um grupo de meninos perto de sua casa, nos Becchi. Eles dizem palavrões e lutam, o que irrita o pequeno João, que se lança no meio dele como um animal feroz e começa também a esmurrar a um, empurrar a outro, na tentativa de acabar com a desordem, na base da força bruta.

O senhor surge como do nada e fala com ele. João foi ensinado a não falar com estranhos, por isso evita alimentar a conversa, mas o senhor permanece ali chamando sua atenção. O rosto daquele nobre senhor era muito iluminado, de modo que o pequeno João não conseguia vê-lo nitidamente. O desconcertante é que o venerando senhor sabia o seu nome e disse a ele: “Não com pancadas, mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses amigos. Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e preciosidade da virtude”.

 

Não com pancadas, João

Diante das palavras daquele senhor o pequeno João fica perturbado. Como um menino pobre e ignorante poderia realizar semelhante tarefa? Aquele grupo de valentões para de brigar e os garotos ficam junto àquele senhor, como que atraídos por algo misterioso. Ainda confuso, João pergunta sobre a identidade daquele majestoso senhor, mas ele não responde e apenas diz que o que parece impossível tornar-se-á possível com a obediência e a educação.

João sabe que um camponês tem pouca chance de adquirir educação porque estudar é coisa para ricos, e ele é um pobre menino do campo. Como, então, poderá adquirir tal ciência? O senhor lhe promete uma mestra que o orientará. Então, João volta a perguntar sobre o nome do venerando senhor e a resposta é: “Sou o filho daquela que tua mãe te ensinou a saudar três vezes ao dia”. No entanto, João não entende e pergunta novamente: “Quem é o senhor?” E a resposta é contundente: “Pergunta a minha mãe”.

 

Torna-te humilde, forte e robusto

É neste momento que aparece uma “bela senhora de aspecto majestoso, vestida de um manto resplandecente, como se cada uma das suas partes fosse fulgidíssima estrela”. Diante daquela senhora os outros meninos desapareceram e surgiram do nada animais: cabritos, ursos. Arquétipos de figuras ameaçadoras que acrescentavam mais perigo e perturbação. O cenário era pavoroso.

Ao mostrar esse novo cenário, a senhora diz a ele que era necessário ser “humilde, forte e robusto”. A batalha seria grande, os desafios, muitos, porém, ele deveria se preparar com a ciência da humildade, da pequenez e não do orgulho; a ciência do dom da fortaleza e não das próprias forças para machucar os outros; a ciência do discipulado de Jesus que o tornaria robusto na fé. Aparecem, então, mansos cordeiros que brincam ao redor dele e da senhora. Era preciso ser cordeiro – educador evangelizador – para realizar sua missão.

 

A seu tempo tudo compreenderás

No entanto, era muita coisa para um menino camponês e ele começou a chorar. Foi aí que a senhora colocou a mão em sua cabeça e disse: “A seu tempo tudo compreenderás”. O tempo de Deus não é o nosso tempo. Na vida de João acontecem muitas coisas. Sinais de Deus, a presença materna de Maria, as fundações, a acolhida de numerosos jovens, a formação de muitos missionários e missionárias, até que, em 1887, numa missa em Roma, no altar de Nossa Senhora Auxiliadora na igreja do Sagrado Coração, recém inaugurada, ele chora ao recordar aquelas palavras do sonho. Agora tudo era claro. Ele foi um instrumento de Deus e foi humilde, forte e robusto.

 

Avalie este item
(0 votos)
Mais nesta categoria: « Agosto, mês vocacional

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.


O sonho e uma missão

Segunda, 26 Agosto 2024 18:51 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
No artigo anterior descrevi a necessidade do Encontro com Jesus como parâmetro para nosso caminho de discípulos e discípulas. Neste segundo, somos convidados, como Família Salesiana, a revisitar o chamado Sonho dos 9 Anos de Dom Bosco.

 

Ao retomar o sonho que João Bosco teve em 1824, quando ele tinha entre 9 e 10 anos, quero apresentar alguns aspectos para incluir no nosso Projeto Pessoal de Vida. Esse foi um sonho que lhe mostrou uma missão: transformar-se em educador evangelizador de jovens em situação de vulnerabilidade, ou, como ele mesmo chamava na época, jovens pobres abandonados e órfãos.

No sonho, temos três imagens: um senhor de aspecto viril, uma bela senhora e meninos que brigam. Num momento são animais ferozes, em outro, dóceis cordeiros. Um sonho envolvido entre a lucidez e a inconsciência. Algumas palavras ficaram marcadas para toda a vida de João.

 

Sou o Filho daquela que tua mãe ensinou a saudar três vezes ao dia

Aquele senhor majestoso, de aspecto varonil, nobremente vestido, cujo nome não é revelado, aparece num cenário de conflito. João está em meio a um grupo de meninos perto de sua casa, nos Becchi. Eles dizem palavrões e lutam, o que irrita o pequeno João, que se lança no meio dele como um animal feroz e começa também a esmurrar a um, empurrar a outro, na tentativa de acabar com a desordem, na base da força bruta.

O senhor surge como do nada e fala com ele. João foi ensinado a não falar com estranhos, por isso evita alimentar a conversa, mas o senhor permanece ali chamando sua atenção. O rosto daquele nobre senhor era muito iluminado, de modo que o pequeno João não conseguia vê-lo nitidamente. O desconcertante é que o venerando senhor sabia o seu nome e disse a ele: “Não com pancadas, mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses amigos. Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e preciosidade da virtude”.

 

Não com pancadas, João

Diante das palavras daquele senhor o pequeno João fica perturbado. Como um menino pobre e ignorante poderia realizar semelhante tarefa? Aquele grupo de valentões para de brigar e os garotos ficam junto àquele senhor, como que atraídos por algo misterioso. Ainda confuso, João pergunta sobre a identidade daquele majestoso senhor, mas ele não responde e apenas diz que o que parece impossível tornar-se-á possível com a obediência e a educação.

João sabe que um camponês tem pouca chance de adquirir educação porque estudar é coisa para ricos, e ele é um pobre menino do campo. Como, então, poderá adquirir tal ciência? O senhor lhe promete uma mestra que o orientará. Então, João volta a perguntar sobre o nome do venerando senhor e a resposta é: “Sou o filho daquela que tua mãe te ensinou a saudar três vezes ao dia”. No entanto, João não entende e pergunta novamente: “Quem é o senhor?” E a resposta é contundente: “Pergunta a minha mãe”.

 

Torna-te humilde, forte e robusto

É neste momento que aparece uma “bela senhora de aspecto majestoso, vestida de um manto resplandecente, como se cada uma das suas partes fosse fulgidíssima estrela”. Diante daquela senhora os outros meninos desapareceram e surgiram do nada animais: cabritos, ursos. Arquétipos de figuras ameaçadoras que acrescentavam mais perigo e perturbação. O cenário era pavoroso.

Ao mostrar esse novo cenário, a senhora diz a ele que era necessário ser “humilde, forte e robusto”. A batalha seria grande, os desafios, muitos, porém, ele deveria se preparar com a ciência da humildade, da pequenez e não do orgulho; a ciência do dom da fortaleza e não das próprias forças para machucar os outros; a ciência do discipulado de Jesus que o tornaria robusto na fé. Aparecem, então, mansos cordeiros que brincam ao redor dele e da senhora. Era preciso ser cordeiro – educador evangelizador – para realizar sua missão.

 

A seu tempo tudo compreenderás

No entanto, era muita coisa para um menino camponês e ele começou a chorar. Foi aí que a senhora colocou a mão em sua cabeça e disse: “A seu tempo tudo compreenderás”. O tempo de Deus não é o nosso tempo. Na vida de João acontecem muitas coisas. Sinais de Deus, a presença materna de Maria, as fundações, a acolhida de numerosos jovens, a formação de muitos missionários e missionárias, até que, em 1887, numa missa em Roma, no altar de Nossa Senhora Auxiliadora na igreja do Sagrado Coração, recém inaugurada, ele chora ao recordar aquelas palavras do sonho. Agora tudo era claro. Ele foi um instrumento de Deus e foi humilde, forte e robusto.

 

Avalie este item
(0 votos)
Mais nesta categoria: « Agosto, mês vocacional

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.