Educar em tempos líquidos

Quarta, 02 Fevereiro 2022 12:26 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
“Com esta nova série de artigos, pretendo abrir um diálogo com você, educador, desde uma comunicação que compreenda a relação educativa entre sujeitos [...]. O projeto de vida para você, educador, é uma tentativa de diálogo em uma construção de sentidos.”    

O educador é um sujeito que entra numa dimensão do ser humano que garante ao longo da vida o saber manifestar a capacidade de investigação, o senso crítico, o diálogo, a percepção do outro, a sabedoria. Mas, também, o fechamento, os preconceitos, os medos, a negação. A arte de educar é uma ação de comunicação viva, profunda, eficaz e geradora de uma multiplicidade de oportunidades ou de entraves na comunicação, caso seja apenas um “informar” de alguém que sabe para outro que não sabe. A mudança de perspectiva é fundamental.

 

Por que um projeto de vida para o educador?

Com esta nova série de artigos, pretendo abrir um diálogo com você, educador, desde uma comunicação que compreenda a relação educativa entre sujeitos. Não se trata da perspectiva de uma informação entre quem criou um sistema conceitual e é capaz de produzir o conhecimento e de um receptor (no caso o aluno) que vai à escola sem informações e noções de cultura, para sair dela com um manual teórico de conhecimento que, ou torna-o um mero repetidor, ou desemboca na inutilidade: o que fazer com esta fórmula matemática? Para que serve a história? Por que tenho que escrever e falar dentro de um padrão de linguagem? Que importância têm os livros se tudo está na internet? Enfim, que sentido têm tantos anos na escola?

 

O projeto de vida para você, educador, é uma tentativa de diálogo em uma construção de sentidos, pois a nossa atual realidade cultural, atingida na medula pelo subjetivismo, pelo negacionismo sistêmico, pela superficialidade do diálogo e por um esvaziamento do sentido das palavras, é amplamente prejudicial para a compreensão da própria identidade como educador.

 

O esvaziamento das palavras

É notória a crise atual do esvaziamento e consequente sentido das palavras. Quando pronunciamos, por exemplo, a palavra amor, o que entendemos? Tem gente que diz que é capaz de matar por amor. Outros deram a vida por amor. Alguns tiram a própria vida porque não sabem amar ou não conseguem aceitar serem amados. Quando pronunciamos a palavra liberdade, cria-se uma série de lutas ideológicas porque a liberdade transformou-se em não ter limites no pensar, no julgar e no agir; tudo pode e tudo passou a ser lícito. Quando ouvimos ou quereremos ser autoridade, assumimos, às vezes, atitudes de imposição, mentimos para justificar pela força, injuriamos, fazemos tudo, menos enfrentar a verdade. Há uma crise da palavra e nas palavras.

 

A arte de educar requer de nós, educadores, a capacidade de resgatar o valor das palavras a partir do projeto de vida que estamos construindo em nossos encontros, escutas e decisões. Tudo é muito líquido, esfacelado, cheio de ruídos que impedem, de fato, a comunicação como diálogo entre sujeitos.

 

Diálogo entre sujeitos

É comum na comunicação, na linguagem, considerar que quem sabe é emissor da mensagem: “Eu sei, você não sabe. Eu aprendi, assimilei, aprovei, enquanto você ainda precisa aprender a ser”. Este outro aprendiz é o receptor, um alguém que escuta passivamente; às vezes levanta a mão para dizer que não entendeu e o emissor, aquele que sabe, não escuta a dúvida, mas sempre tem a resposta porque aprendeu que o valor não está na pergunta, mas na organicidade da resposta. O diálogo, então, não é entre sujeitos, mas entre um que emite conhecimento e outro que recebe.

 

A proposta deste projeto de vida é que o educador faça uma conversão mental. Passe de se enxergar como emissor e assuma o protagonismo, como sujeito. Na mesma compreensão, o receptor deve deixar de ser o que recebe, como uma mente vazia, e se descobrir como sujeito capaz de interagir na construção da comunicação do conhecimento.

 

Os tempos de liquidez, da perda de sentido, da globalização, da inteligência emocional, requerem da arte de educar um novo paradigma. No Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco, afirma-se que a educação concretiza-se no diálogo, no encontro, na criatividade e no protagonismo.

 

Padre João da Silva Mendonça Filho, SDB, é mestre em Educação pela Pontifica Universidade Salesiana de Roma/Itália com especialização em Metodologia Vocacional, e pós-graduado em Comunicação pelo SEPAC/SP e PUC/SP.

 

Leia mais no BS Digital:

Ação Social: A Mãe de Deus e as mães e mulheres no social
Memórias Biográficas: O triunfo da misericórdia de Deus
Novos Pátios: Ousemos passar da comunicação para a comunhão!
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Educar em tempos líquidos

Quarta, 02 Fevereiro 2022 12:26 Escrito por  Pe. João Mendonça, SDB
“Com esta nova série de artigos, pretendo abrir um diálogo com você, educador, desde uma comunicação que compreenda a relação educativa entre sujeitos [...]. O projeto de vida para você, educador, é uma tentativa de diálogo em uma construção de sentidos.”    

O educador é um sujeito que entra numa dimensão do ser humano que garante ao longo da vida o saber manifestar a capacidade de investigação, o senso crítico, o diálogo, a percepção do outro, a sabedoria. Mas, também, o fechamento, os preconceitos, os medos, a negação. A arte de educar é uma ação de comunicação viva, profunda, eficaz e geradora de uma multiplicidade de oportunidades ou de entraves na comunicação, caso seja apenas um “informar” de alguém que sabe para outro que não sabe. A mudança de perspectiva é fundamental.

 

Por que um projeto de vida para o educador?

Com esta nova série de artigos, pretendo abrir um diálogo com você, educador, desde uma comunicação que compreenda a relação educativa entre sujeitos. Não se trata da perspectiva de uma informação entre quem criou um sistema conceitual e é capaz de produzir o conhecimento e de um receptor (no caso o aluno) que vai à escola sem informações e noções de cultura, para sair dela com um manual teórico de conhecimento que, ou torna-o um mero repetidor, ou desemboca na inutilidade: o que fazer com esta fórmula matemática? Para que serve a história? Por que tenho que escrever e falar dentro de um padrão de linguagem? Que importância têm os livros se tudo está na internet? Enfim, que sentido têm tantos anos na escola?

 

O projeto de vida para você, educador, é uma tentativa de diálogo em uma construção de sentidos, pois a nossa atual realidade cultural, atingida na medula pelo subjetivismo, pelo negacionismo sistêmico, pela superficialidade do diálogo e por um esvaziamento do sentido das palavras, é amplamente prejudicial para a compreensão da própria identidade como educador.

 

O esvaziamento das palavras

É notória a crise atual do esvaziamento e consequente sentido das palavras. Quando pronunciamos, por exemplo, a palavra amor, o que entendemos? Tem gente que diz que é capaz de matar por amor. Outros deram a vida por amor. Alguns tiram a própria vida porque não sabem amar ou não conseguem aceitar serem amados. Quando pronunciamos a palavra liberdade, cria-se uma série de lutas ideológicas porque a liberdade transformou-se em não ter limites no pensar, no julgar e no agir; tudo pode e tudo passou a ser lícito. Quando ouvimos ou quereremos ser autoridade, assumimos, às vezes, atitudes de imposição, mentimos para justificar pela força, injuriamos, fazemos tudo, menos enfrentar a verdade. Há uma crise da palavra e nas palavras.

 

A arte de educar requer de nós, educadores, a capacidade de resgatar o valor das palavras a partir do projeto de vida que estamos construindo em nossos encontros, escutas e decisões. Tudo é muito líquido, esfacelado, cheio de ruídos que impedem, de fato, a comunicação como diálogo entre sujeitos.

 

Diálogo entre sujeitos

É comum na comunicação, na linguagem, considerar que quem sabe é emissor da mensagem: “Eu sei, você não sabe. Eu aprendi, assimilei, aprovei, enquanto você ainda precisa aprender a ser”. Este outro aprendiz é o receptor, um alguém que escuta passivamente; às vezes levanta a mão para dizer que não entendeu e o emissor, aquele que sabe, não escuta a dúvida, mas sempre tem a resposta porque aprendeu que o valor não está na pergunta, mas na organicidade da resposta. O diálogo, então, não é entre sujeitos, mas entre um que emite conhecimento e outro que recebe.

 

A proposta deste projeto de vida é que o educador faça uma conversão mental. Passe de se enxergar como emissor e assuma o protagonismo, como sujeito. Na mesma compreensão, o receptor deve deixar de ser o que recebe, como uma mente vazia, e se descobrir como sujeito capaz de interagir na construção da comunicação do conhecimento.

 

Os tempos de liquidez, da perda de sentido, da globalização, da inteligência emocional, requerem da arte de educar um novo paradigma. No Pacto Educativo Global proposto pelo Papa Francisco, afirma-se que a educação concretiza-se no diálogo, no encontro, na criatividade e no protagonismo.

 

Padre João da Silva Mendonça Filho, SDB, é mestre em Educação pela Pontifica Universidade Salesiana de Roma/Itália com especialização em Metodologia Vocacional, e pós-graduado em Comunicação pelo SEPAC/SP e PUC/SP.

 

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