Escrevi há poucos meses aos irmãos salesianos que uma das qualidades mais valiosas a que sem dúvida devemos dedicar a nossa atenção é que em muitos países onde estamos e atuamos com tanta dedicação somos conhecidos pelo trabalho que realizamos, mas são ignoradas ou desconhecidas as razões pelas quais trabalhamos e nas quais se firma a nossa motivação profunda de vida. Admiram-nos pelo trabalho com os jovens, apreciam muito as nossas redes de escolas, a formação profissional e para o trabalho. Olha-se com grande respeito e simpatia para a nossa ação com os meninos de rua, são enaltecidas a dedicação e a criatividade dos nossos oratórios, presta-se grande atenção aos nossos lares, casas e residências para rapazes pobres etc.
Mas muitas vezes não sabem dizer quem somos, e menos ainda os motivos pelos quais trabalhamos e pelos quais vivemos assim.
E este é o meu sonho, queridos membros da Família Salesiana, amigos e simpatizantes de Dom Bosco e do seu carisma: que quem se encontra conosco ou entra em contato com alguma das nossas comunidades ou dos pertencentes a algum dos nossos grupos, possa sentir-se tocado pela presença de homens de fé, de profunda e provada fé que, no seu viver e agir simples, quase sem querer, mostram quem somos e de quem somos. Porque somos, antes de tudo, crentes, felizes de o ser, sabendo “como nos faz bem deixar que Ele volte a tocar a nossa existência e nos leve a comunicar a sua vida nova. Então o que acontece é que, em definitivo, ‘o que vimos e ouvimos é o que vos anunciamos’ (1 J 1,3)”.
Estou plenamente convencido, irmãs e irmãos, que este é o caminho de que temos maior necessidade hoje. E de que tem absoluta necessidade o nosso mundo. Cuidar, alimentar e aprofundar a nossa fé, ser mulheres e homens de fé, comunicando que fazemos tudo assim porque nos sentimos atraídos e fascinados por Jesus, e livremente sentimos a profunda alegria de dizer sim a Deus Pai, que nos envia como suas testemunhas para o meio dos homens. Se somos mulheres e homens cheios de Deus, podemos irradiá-lo sobre aqueles que encontramos na nossa vida cotidiana.
Assim Dom Bosco pregava Deus. Sempre presente e vivo. Deus como companhia, ar que se respira. Deus como a água para os peixes. Deus como o ninho quente de um coração que ama. Deus como o perfume da vida. Deus é o que sabem as crianças, não os adultos. Uma criança contemplava encantada os esplêndidos vitrais de uma catedral, iluminados pelo sol. “Agora compreendi o que é um santo”, disse de repente. “Sim? É sério?” “É um homem que deixa passar a luz”, respondeu.
Dom Bosco era um vitral radioso que deixava passar a luz de Deus. A Família Salesiana deveria ser assim.
Permanecer, amar, dar fruto
O nosso mundo tem necessidade de uma Família Salesiana cujos membros sejam capazes de permanecer, amar, dar fruto. Estes três verbos, no contexto do ícone da Videira e dos Ramos (Jo 15,1-11), convidam-nos a tomar consciência da necessidade de estar profundamente enraizados em Jesus para permanecer firmemente n’Ele, e a partir d’Ele viver uma fraternidade que seja verdadeiramente atraente, que nos leve a servir os jovens e todas as pessoas a que as diversas caraterísticas carismáticas da nossa Família nos conduzem.
Três verbos que nos levam a concretizar a primazia de Deus nas nossas vidas sem nunca esquecer que devemos ser, acima de tudo, “buscadores de Deus” e testemunhas do seu amor no meio dos jovens e, entre estes, dando preferência aos mais pobres e aos mais abandonados.
Três verbos que, calando no fundo do nosso coração, nos incitam a nos empenhar cada vez mais seriamente na trama de Deus. Vivemos tecendo a “tela” que nós e o Senhor realizamos juntos, desenrolando e atando os fios da fraternidade, do respeito, dos olhos abertos para os necessitados e infelizes deste mundo.
Ao terminar esta mensagem, quero recordar a todos que somos Família Salesiana e compartilhamos o maravilhoso carisma de Dom Bosco não para viver fechados sobre nós mesmos, mas para dar e dar-nos, e para ser gesto e expressão humana da misericórdia de Deus.