Guardo na mente e no coração as recordações inesquecíveis da festa do bicentenário do nascimento de Dom Bosco que tivemos a felicidade de viver no mês de agosto, na terra santa salesiana de Valdocco e do Colle Don Bosco. A convivência de muitos dias com milhares de jovens provenientes de 58 países foi, simplesmente, uma graça e um presente estupendo.
Excecional foi a maravilhosa celebração do encerramento do Bicentenário no Colle. Senti imensa alegria ao ouvir as notícias e os ecos das celebrações realizadas em toda a parte do mundo durante o ano que terminamos. Graças ao Espírito Santo, a Família Salesiana mostra-se viva e cheia de vida.
Projetar
Chegou o momento, após este grande ano jubilar salesiano que vivemos, de projetar, concretizar e pôr em ação tudo aquilo que temos no coração. Pensando no futuro e na nossa Família Salesiana espalhada pelo mundo, quero revelar-vos um sonho muito pessoal que há alguns meses comuniquei em uma carta aos Salesianos SDB.
O meu sonho é este: sonho, depois deste Bicentenário do nascimento de Dom Bosco, e como fruto deste magnífico evento, uma Família Salesiana composta de homens e mulheres felizes.
Estão surpresos? Pensam que é estranho sonhar e desejar isto? Ou que talvez seja uma utopia?
Eu vejo-o sempre como uma realidade crescente e como uma grande necessidade do nosso mundo e também como algo que os nossos rapazes e as nossas moças merecem.
Sabem uma coisa? Não tenho qualquer dúvida de que em todo o mundo e por todos, com tantos amigos de Dom Bosco, jovens animadores e catequistas leigos empenhados, fazemos bem, muito bem mesmo, mas penso que isto não é suficiente. Importante sim, mas não basta.
Testemunho
Este bem deve provir do testemunho de mulheres e homens, consagrados ou leigos, todos com identidade salesiana, que se sentem e são felizes. As nossas comunidades, as nossas presenças e obras só podem ser habitadas por pessoas que se sentem bem, alegres com o que vivem, com o que fazem, com a vida que dão dia após dia.
Todos nós conhecemos pessoas que receberam da vida feridas imensas. É uma caraterística da vida. Ninguém pode evitar este ângulo sombrio e doloroso. A alegria do cristão é uma alegria humana, que não esquece as dimensões corporais e relacionais e se evidencia, como diz São Paulo, sobretudo como “alegria nas tribulações”. Significa que a alegria cristã habita no profundo do crente e consiste na sua vida escondida com Deus. É a alegria que ninguém pode tirar porque ninguém pode impedir o cristão de amar o Senhor e os irmãos, mesmo em situações extremas: os mártires estão aí a recordar-nos disso.
Assim, devemos mostrar diariamente, com a nossa serenidade e o nosso sorriso, que somos felizes com a vida que vivemos e com a vida que damos. E, se todos os cristãos deveriam estar em condições de irradiar essa luz, mais ainda deveríamos fazê-lo nós, homens e mulheres da Família Salesiana, embora na especificidade de cada grupo, que somos ramos da árvore do carisma de Dom Bosco. Nós, filhos de um pai que fazia a santidade consistir em estar sempre alegre, e que com o mesmo entusiasmo do fundador empenhamos as nossas vidas e o nosso tempo a serviço dos outros.
Não se pode comunicar e dar a vida com a sensação de que não vale a pena. O espelho cotidiano mais evidente que temos está nas nossas mães. Deram e dão a vida diariamente, com serenidade e ternura incondicionais, sem nunca fazer pesar o seu cansaço e a sua dor.
Esperança, otimismo e entusiasmo
O carisma salesiano goza de uma caraterística única: tem tudo o que é necessário para libertar esperança, otimismo e entusiasmo. E nós que temos a sorte de o incarnar hoje, todos nós, devemos anunciar ao mundo que somos felizes, que a nossa vida tem um sentido maravilhoso e que seguir Jesus nas pegadas de Dom Bosco preenche uma vida.
Meus queridos amigos, no nosso mundo, complexo, muitas vezes duro e indiferente, mais que as palavras são os fatos que convencem e movem os corações. E, se há alguma coisa de que este mundo tem fome e necessidade absoluta, juntamente com a paz, é a esperança de homens e mulheres que, quase sem querer, irradiam e comunicam esperança.
Este ano celebrarei a festa de Dom Bosco, dia 31 de janeiro, em Serra Leoa. Preferi renunciar a Valdocco (seguramente com a permissão de Dom Bosco mesmo do céu), para estar com os nossos irmãos salesianos e com a Família Salesiana de Serra Leoa e com as centenas e centenas de meninas e de meninos que perderam os pais devido ao Ebola.
Queria que a minha presença simbolizasse a presença de toda a Família Salesiana do mundo, mensageira de esperança, de afeto e de proximidade, para com eles viver a alegria e a felicidade que sonhei. Juntamente com a força de superar as dificuldades de cada dia.
Minha querida Família Salesiana, realizemos juntos este sonho. Dom Bosco merece uma família assim.