A nossa “Festa de Caná” cotidiana

Terça, 01 Março 2016 13:54 Escrito por 
A nossa “Festa de Caná” cotidiana Umberto Gamga - Reprodução
Somos como uma festa de núpcias, todos os dias, no desenrolar-se cotidiano das nossas vidas, serviços e missões. Também nós somos um entrelaçado de culturas, raízes, histórias, e faz-nos muito bem celebrar a fraternidade, a amizade e a comunhão porque nos enche de esperança no futuro desta árvore que continua a dar muitos frutos de vida e de santidade.

Quero falar de uma festa, de uma Mãe, de uma necessidade e de um elemento simples mas essencial.

O quarto Evangelho começa o seu “livro dos sinais” com uma festa: uma festa de núpcias, precisamente. Trata-se, portanto, de uma festa cheia de vida e de esperança, de espírito de união e sentido de família e de amizade. Em uma festa desse gênero, se tudo corre bem, todos se sentem irmãos e irmãs, e envolvidos na trama do passado dos novos esposos, com as suas respetivas raízes e histórias. Todos se alegram com esperança no futuro dessa nova família, dessa nova árvore. Portanto, um entrelaçado entre o passado e o futuro, entre as raízes diferentes e os frutos esperados.

Também nós, Família Salesiana, estamos como numa festa de núpcias, todos os dias, no desenrolar-se cotidiano de nossas vidas, serviços e missões. Também nós somos um entrelaçado de culturas, raízes, histórias, e faz-nos muito bem celebrar a fraternidade, a amizade e a comunhão porque nos enche de esperança no futuro dessa árvore que continua a dar muitos frutos de vida e de santidade.

Em Caná havia uma Mãe, a mãe de Jesus, diz o Evangelho. Também hoje aqui, na nossa casa, há uma Mãe: Ela mesma, a mãe de Jesus. Vocês podem vê-la? Senti-la? É verdade que se encontra aqui, de outra forma a festa não seria igual. Ela vem para sustentar, encorajar e, também, para acarinhar a nossa fraternidade. O artigo quarto da Carta de identidade da Família Salesiana diz que somos “uma comunidade carismática e espiritual… ligada por laços de parentesco espiritual e de afinidade apostólica”. Bela expressão! E esse parentesco tem, no seu centro, uma Mãe que, como mulher e como mãe, é capaz de estar sempre atenta aos seus, sempre de olhos abertos e vigilantes a fim de captar as necessidades dos seus pequenos, mesmo que esses “pequenos” sejam já adultos.

 

Mãe e mestra

Assim aconteceu nas bodas acidentadas em Caná da Galileia. Ela adverte o seu filho Jesus: “Não têm vinho”. E sem vinho, acaba a festa. Antes havia, mas acabou-se. No ponto alto da festa, vem a faltar um dos elementos principais - e não só em sentido literal e superficial, mas sobretudo em profundo sentido simbólico.

Eis que, no coração da festa, imagem da vida e até da nossa Família, surge de repente uma necessidade. Nós, parentes e amigos de Dom Bosco, sabemos bem que o mundo de hoje tem muitas necessidades. O mundo do pós-guerra (as grandes guerras mundiais, a guerra fria, algumas guerras regionais etc.) parecia encaminhar-se finalmente para uma sociedade melhor, mais unida e solidária, mais humana, desenvolvida e fraterna, e fez-nos sonhar. Mas muitas vezes nos damos conta de que ainda nos falta tanto…

A nossa pergunta devia ser: que mais podemos fazer, nós que de fato já fazemos tanto? É importantíssimo, diria fundamental, aprender da nossa Mãe a estar atentos, a levantar sempre o olhar, a não ficar fechados em nós mesmos, nas nossas dificuldades, nos nossos sofrimentos, de forma egoísta, mas sempre despertos e vigilantes, de olhos amorosamente dirigidos, principalmente, para os últimos, para os jovens para os quais nascemos, fomos fundados e aos quais fomos enviados. Uma vez mais, não me cansarei de pedir uma verdadeira Família Salesiana em saída de si mesma, dos muros das nossas obras, com capacidade de ir além dos seus próprios projetos, sucessos e comodidades.

 

Carisma

No mundo, e tantas vezes também nas nossas comunidades e famílias, falta o vinho, isto é: a alegria e a festa, que se exprime em uma vida que vale a pena ser vivida. E nós, caríssimos, herdamos uma chave: o nosso carisma partilhado!

O nosso amado pai Dom Bosco escreveu uma belíssima carta ao padre Costamagna, então provincial de Buenos Aires. Refiro-me à que escreveu em 10 de agosto de 1885, por ocasião dos exercícios espirituais dos irmãos. Entre outras coisas, dizia assim: “Depois queria fazer eu mesmo uma prédica, ou melhor, uma conferência sobre o espírito salesiano que deve animar e guiar as nossas ações e todas as nossas palavras. O sistema preventivo seja mesmo nosso”. Há uma tradução espanhola que dá muita força a esta frase: “Que lo nuestro sea el sistema preventivo”, principalmente levando em conta o contexto e o texto da carta. E em uma carta dirigida a Cagliero, então vigário apostólico da Patagônia, quatro dias antes, lia-se: “Caridade, paciência, doçura […] fazer bem a quem se pode, mal a ninguém. Isto valha para os Salesianos entre si, com os alunos e com pessoas externas e internas”. Dissemos que sem vinho não há festa. Para nós, caríssimos irmãos e irmãs, o sistema preventivo é o próprio, portanto, sem a vivência do sistema preventivo não há para nós espírito (isto é, não percorremos a aventura do Espírito!) e não há verdadeira vida salesiana: terminou a festa.

 

Caminho

Este vinho não é um fruto todo nosso… mas fruto de percorrer o caminho indicado por Jesus e animado pelo Espírito. Foi Jesus que transformou a água em vinho. Mas foram os serventes, seguindo a indicação da Mãe de Jesus, que providenciaram e trouxeram a água. Eis um elemento simples, mas essencial e de base. Estejamos atentos ao “mandamento da Virgem”, para encher as jarras com a nossa água, mesmo que possa parecer muito estranho aquilo que nos é pedido. Mas, cuidado, que aquilo que nos é pedido, ainda que pareça simples e de pouco valor em comparação com as necessidades e com o “vinho” que falta, é em si mesmo essencial e fundamental. Com efeito, para ter boa água é necessário tirá-la do poço, e quanto mais fundo se conseguir chegar, mais pura será a água porque nasce do fundo do nosso coração e do nosso ser.

Propus a vocês na Estreia um caminho de profundidade; para vocês, para os jovens e para as pessoas às quais somos enviados. Este caminho a que chamei “Desafios e Propostas” tem um duplo movimento em profundidade e para o exterior. Indico uma vez mais: Olhar para dentro; Buscar Deus; Encontrar-se com Jesus; Tornar-se/ser dos seus; Assumir os valores fundamentais da vida humana, tais como a família, a amizade, a solidariedade, a eclesialidade e a vida como doação; e, finalmente, Amadurecer um projeto de vida que responda ao chamamento de Deus.

Ofereçamos a muitos, daquilo que temos na nossa chave herdada do coração de Dom Bosco, e deixemo-nos acompanhar pela Mãe de Jesus, Ela que cuida de nós e nos ensina a fazer o mesmo uns aos outros. A nossa Mãe Auxiliadora e Mãe da Igreja nos ajude a caminhar e servir em todos os cantos da terra e “Com Jesus, a percorrer juntos a aventura do Espírito”.

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Última modificação em Quarta, 02 Março 2016 12:02

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A nossa “Festa de Caná” cotidiana

Terça, 01 Março 2016 13:54 Escrito por 
A nossa “Festa de Caná” cotidiana Umberto Gamga - Reprodução
Somos como uma festa de núpcias, todos os dias, no desenrolar-se cotidiano das nossas vidas, serviços e missões. Também nós somos um entrelaçado de culturas, raízes, histórias, e faz-nos muito bem celebrar a fraternidade, a amizade e a comunhão porque nos enche de esperança no futuro desta árvore que continua a dar muitos frutos de vida e de santidade.

Quero falar de uma festa, de uma Mãe, de uma necessidade e de um elemento simples mas essencial.

O quarto Evangelho começa o seu “livro dos sinais” com uma festa: uma festa de núpcias, precisamente. Trata-se, portanto, de uma festa cheia de vida e de esperança, de espírito de união e sentido de família e de amizade. Em uma festa desse gênero, se tudo corre bem, todos se sentem irmãos e irmãs, e envolvidos na trama do passado dos novos esposos, com as suas respetivas raízes e histórias. Todos se alegram com esperança no futuro dessa nova família, dessa nova árvore. Portanto, um entrelaçado entre o passado e o futuro, entre as raízes diferentes e os frutos esperados.

Também nós, Família Salesiana, estamos como numa festa de núpcias, todos os dias, no desenrolar-se cotidiano de nossas vidas, serviços e missões. Também nós somos um entrelaçado de culturas, raízes, histórias, e faz-nos muito bem celebrar a fraternidade, a amizade e a comunhão porque nos enche de esperança no futuro dessa árvore que continua a dar muitos frutos de vida e de santidade.

Em Caná havia uma Mãe, a mãe de Jesus, diz o Evangelho. Também hoje aqui, na nossa casa, há uma Mãe: Ela mesma, a mãe de Jesus. Vocês podem vê-la? Senti-la? É verdade que se encontra aqui, de outra forma a festa não seria igual. Ela vem para sustentar, encorajar e, também, para acarinhar a nossa fraternidade. O artigo quarto da Carta de identidade da Família Salesiana diz que somos “uma comunidade carismática e espiritual… ligada por laços de parentesco espiritual e de afinidade apostólica”. Bela expressão! E esse parentesco tem, no seu centro, uma Mãe que, como mulher e como mãe, é capaz de estar sempre atenta aos seus, sempre de olhos abertos e vigilantes a fim de captar as necessidades dos seus pequenos, mesmo que esses “pequenos” sejam já adultos.

 

Mãe e mestra

Assim aconteceu nas bodas acidentadas em Caná da Galileia. Ela adverte o seu filho Jesus: “Não têm vinho”. E sem vinho, acaba a festa. Antes havia, mas acabou-se. No ponto alto da festa, vem a faltar um dos elementos principais - e não só em sentido literal e superficial, mas sobretudo em profundo sentido simbólico.

Eis que, no coração da festa, imagem da vida e até da nossa Família, surge de repente uma necessidade. Nós, parentes e amigos de Dom Bosco, sabemos bem que o mundo de hoje tem muitas necessidades. O mundo do pós-guerra (as grandes guerras mundiais, a guerra fria, algumas guerras regionais etc.) parecia encaminhar-se finalmente para uma sociedade melhor, mais unida e solidária, mais humana, desenvolvida e fraterna, e fez-nos sonhar. Mas muitas vezes nos damos conta de que ainda nos falta tanto…

A nossa pergunta devia ser: que mais podemos fazer, nós que de fato já fazemos tanto? É importantíssimo, diria fundamental, aprender da nossa Mãe a estar atentos, a levantar sempre o olhar, a não ficar fechados em nós mesmos, nas nossas dificuldades, nos nossos sofrimentos, de forma egoísta, mas sempre despertos e vigilantes, de olhos amorosamente dirigidos, principalmente, para os últimos, para os jovens para os quais nascemos, fomos fundados e aos quais fomos enviados. Uma vez mais, não me cansarei de pedir uma verdadeira Família Salesiana em saída de si mesma, dos muros das nossas obras, com capacidade de ir além dos seus próprios projetos, sucessos e comodidades.

 

Carisma

No mundo, e tantas vezes também nas nossas comunidades e famílias, falta o vinho, isto é: a alegria e a festa, que se exprime em uma vida que vale a pena ser vivida. E nós, caríssimos, herdamos uma chave: o nosso carisma partilhado!

O nosso amado pai Dom Bosco escreveu uma belíssima carta ao padre Costamagna, então provincial de Buenos Aires. Refiro-me à que escreveu em 10 de agosto de 1885, por ocasião dos exercícios espirituais dos irmãos. Entre outras coisas, dizia assim: “Depois queria fazer eu mesmo uma prédica, ou melhor, uma conferência sobre o espírito salesiano que deve animar e guiar as nossas ações e todas as nossas palavras. O sistema preventivo seja mesmo nosso”. Há uma tradução espanhola que dá muita força a esta frase: “Que lo nuestro sea el sistema preventivo”, principalmente levando em conta o contexto e o texto da carta. E em uma carta dirigida a Cagliero, então vigário apostólico da Patagônia, quatro dias antes, lia-se: “Caridade, paciência, doçura […] fazer bem a quem se pode, mal a ninguém. Isto valha para os Salesianos entre si, com os alunos e com pessoas externas e internas”. Dissemos que sem vinho não há festa. Para nós, caríssimos irmãos e irmãs, o sistema preventivo é o próprio, portanto, sem a vivência do sistema preventivo não há para nós espírito (isto é, não percorremos a aventura do Espírito!) e não há verdadeira vida salesiana: terminou a festa.

 

Caminho

Este vinho não é um fruto todo nosso… mas fruto de percorrer o caminho indicado por Jesus e animado pelo Espírito. Foi Jesus que transformou a água em vinho. Mas foram os serventes, seguindo a indicação da Mãe de Jesus, que providenciaram e trouxeram a água. Eis um elemento simples, mas essencial e de base. Estejamos atentos ao “mandamento da Virgem”, para encher as jarras com a nossa água, mesmo que possa parecer muito estranho aquilo que nos é pedido. Mas, cuidado, que aquilo que nos é pedido, ainda que pareça simples e de pouco valor em comparação com as necessidades e com o “vinho” que falta, é em si mesmo essencial e fundamental. Com efeito, para ter boa água é necessário tirá-la do poço, e quanto mais fundo se conseguir chegar, mais pura será a água porque nasce do fundo do nosso coração e do nosso ser.

Propus a vocês na Estreia um caminho de profundidade; para vocês, para os jovens e para as pessoas às quais somos enviados. Este caminho a que chamei “Desafios e Propostas” tem um duplo movimento em profundidade e para o exterior. Indico uma vez mais: Olhar para dentro; Buscar Deus; Encontrar-se com Jesus; Tornar-se/ser dos seus; Assumir os valores fundamentais da vida humana, tais como a família, a amizade, a solidariedade, a eclesialidade e a vida como doação; e, finalmente, Amadurecer um projeto de vida que responda ao chamamento de Deus.

Ofereçamos a muitos, daquilo que temos na nossa chave herdada do coração de Dom Bosco, e deixemo-nos acompanhar pela Mãe de Jesus, Ela que cuida de nós e nos ensina a fazer o mesmo uns aos outros. A nossa Mãe Auxiliadora e Mãe da Igreja nos ajude a caminhar e servir em todos os cantos da terra e “Com Jesus, a percorrer juntos a aventura do Espírito”.

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