Cuiabá, MT, agora tem um núcleo da Rede Um Grito pela Vida, cujo objetivo é enfrentar o tráfico humano. A criação do núcleo foi uma das decisões tomadas durante um encontro de formação sobre a Rede promovido pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), na Inspetoria Nossa Senhora da Paz, das Filhas de Maria Auxiliadora/Irmãs Salesianas, entre os dias 21 e 23 de setembro.
Houve apresentação da situação no país e no mundo, trabalho em grupo, debate e proposições. Destaque para a transmissão do filme Anjos do sol, que mostra a dura realidade do tráfico de crianças e adolescentes, e a cartilha O sumiço de Carolina, pelo caráter didático.
Esforço conjunto
Um grande esforço deve ser feito, pois o tráfico humano afeta mais de 20 milhões de pessoas no mundo. Cerca de 75% das vítimas são mulheres e meninas para exploração sexual. Trata-se de um negócio nefasto, que gera 32 bilhões de dólares por ano (em torno de R$ 130 bilhões) segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Esse tipo de violência é a escravidão do século XXI. Sequestra a dignidade da pessoa, deixa marcas no corpo e na alma. Um crime hediondo”, comenta irmã Roselei Bertoldo, da congregação Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Ela contribui com a articulação da Rede da região Norte e foi uma das formadoras do encontro em Cuiabá.
“Uma vez cheguei em casa, fui para debaixo do chuveiro e passei uma hora chorando. Deu vontade de gritar. É um trabalho muito difícil, mas necessário”, conta Valmi Bohn. Val, como é chamada, é irmã da Divina Providência e integra a coordenação nacional da Rede.
Além da exploração sexual, o tráfico de pessoas engloba: trabalho escravo, trabalho infantil, adoção ilegal, servidão doméstica, tráfico de órgãos, tráfico de drogas, pequenos furtos e mendicância. Conforme dados governamentais e da Rede nacional, os locais onde mais acontece o registro de tráfico de pessoas em Mato Grosso são a fronteira com a Bolívia e as divisas estaduais (com Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins).
No estado, as modalidades mais frequentes são: trabalho escravo, exploração sexual, tráfico de drogas e atividades ilícitas e desaparecimento de crianças e adolescentes (três por dia, de acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública).
Núcleo em Cuiabá
A coordenação do núcleo em Cuiabá é formada por religiosas, leigas e leigos. Integram o grupo as Irmãs Salesianas (FMA), da Divina Providência, Missionárias do Bom Jesus e Irmãzinhas da Imaculada Conceição, membros de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), da Pastoral da Mulher Marginalizada (PMM), Economia Solidária e movimento da Consciência Negra. Também auxiliam a equipe integrantes das Irmãs Azuis, comunicadores populares e a Associação de Haitianos em Cuiabá.
A irmã Maria de Nazaré Gonçalves de Lima, FMA, foi uma das organizadoras do encontro de formação. Ela é coordenadora de Comunicação da Inspetoria Nossa Senhora da Paz, assessora as CEBs e ficou satisfeita com o resultado. Foi acompanhada na organização por irmã Cleofa Marlisa Flach, da Divina Providência, e irmã Maria Tereza Alves da Silva, das Irmãs Azuis. “Agradeço a quem veio para começar a tecer essa rede, a quem ouviu esse grito. Com o núcleo vamos entender melhor a situação e ajudar a enfrentar o tráfico humano. Vamos contribuir para que essas pessoas voltem a ter dignidade”, assinala irmã Nazaré.
O que é a Rede Um Grito Pela Vida
Com a criação do núcleo, Mato Grosso se une a uma teia de proteção que envolve no Brasil 27 unidades, presentes em outros 23 estados e no Distrito Federal. A Rede Um Grito pela Vida é intercongregacional – constituída por cerca de 150 religiosas e religiosos de diversas congregações. Foi criada em 2006 e faz parte da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) Nacional.
Embora seja nacional, a Rede atua de forma descentralizada, organizando-se nos municípios e nos estados de acordo com as necessidades locais e em articulação com outras iniciativas voltadas para o combate ao tráfico humano. A iniciativa brasileira integra uma instância mundial da Vida Religiosa Consagrada chamada Talitha Kum, que está presente em 70 países. Thalita Kum significa “Menina, eu te digo, levanta-te” (Mc 5,41). As atividades são realizadas em torno de quatro eixos: sensibilização e informação; organização de grupos de reflexão e estudo; capacitação de multiplicadores; e participação e mobilização social e política.
Saiba mais sobre a Rede Um Grito Pela Vida em: http://gritopelavida.blogspot.com/