Boletim Salesiano – Como sentiu sua vocação para a vida religiosa?
Irmã Margherita Iorio – Esta é a história mais linda da minha vida. Aos dois anos de idade eu chorava que queria ser Irmã. Sou a mais velha de 12 irmãos e minha mãe me disse: “Cresce e vai”. Então, cresci e fui. Mamãe me conscientizou muito sobre o que era a vida de religiosa; que era uma vida de obediência, humildade, sacrifício e ela deixou isso sempre muito claro para mim. Ela teve a alegria de me ver várias vezes feliz.
Minha mãe sempre apoiou minha decisão, mas meu pai, não. Dizia que, por ser a mais velha, deveria ajudar mamãe a cuidar de meus irmãos. Éramos muito ligados, ele faleceu chamando meu nome...
BS – Como foi sua escolha pelo Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora?
Irmã Margherita - Era minha loucura, o que eu mais queria! O presente mais lindo que Deus me deu foi o da vocação religiosa e de ser Filha de Maria Auxiliadora. Não escrevo nenhuma carta sem colocar “FMA” depois do nome.
BS – E a vocação missionária, como surgiu?
Irmã Margherita - Assim como senti minha vocação religiosa, senti também a de ser missionária. Eu tinha 12 ou 13 anos, vi o Boletim Salesiano e li sobre as missões das irmãs, o trabalho que faziam e que andavam de bicicleta. Quando li isso, decidi que precisava aprender para estar nas missões. Mas na minha cidade naquela época, não era próprio a menina andar de bicicleta. Então, escondida da minha mãe, pegava a bicicleta de meu irmão e tentava aprender. Quando fui para as missões não precisei, pois já tinha caminhão (risos).
Minha vinda para o Brasil foi através de um pedido que fazemos à Congregação para sermos missionárias. Vamos aonde a Superiora nos envia. E assim vim para o Brasil. Cheguei em 19 de setembro de 1950 no porto do Rio de Janeiro.
BS – Qual é a atividade que realiza atualmente e em que entidade?
Irmã Margherita – Como sou enfermeira, hoje atendo as irmãs idosas e doentes da comunidade do Instituto Missionário São José (Campo Grande, MS) e também atuo na Oficina Santa Rita, que existe há mais de 18 anos. Esta oficina hoje é formada por cerca de 20 senhoras voluntárias, que montam kits de maternidade para jovens carentes que se tornam mães muito cedo. São kits completos, de 40 itens, entre lençol, fraldas, roupinha, toalhas, travesseiro, sabonete e outros.
Neste trabalho faço entrevista com essas meninas, pergunto a elas se têm um parceiro, como vivem, de onde são, se foi uma maternidade planejada, se o pai ajuda e apoia, como pensam em educar a criança, se na ausência da mãe tem alguém que possa ajudá-las... Falo principalmente da importância dessa criança ter um lar, uma casa, mesmo que bem simples e pequena, e do carinho, acolhida e respeito que precisam existir. Oriento para a formação de uma mãe cristã, e muitas vezes sobre como elas vão fazer para “ser mãe e pai” ao mesmo tempo. Esse atendimento é feito individualmente, não é como uma palestra. Falo com elas uma a uma.
Nosso principal objetivo não é dar, mas sim orientar essas meninas sobre uma maternidade responsável.
BS – Quais são as principais dificuldades que encontra ou encontrou nesse trabalho?
Irmã Margherita – Não é uma dificuldade, mas fico triste quando vejo a pouca formação humana dessas jovens... Mas nossa missão aqui é formar, como dizia Dom Bosco, bons cristãos e honestos cidadãos.
BS – A senhora sente vontade de voltar à Itália?
Irmã Margherita – Sinto para visitar minha família, mas amo muito esta pátria que me acolheu. Se eu não amasse minha Itália, não amaria o Brasil.
BS – Que mensagem daria às jovens, religiosas ou não, que pensam em se tornar missionárias em outros países?
Irmã Margherita – Em primeiro lugar, para terem fé. Em seguida, muita oração e principalmente amor ao próximo, como nos diz o mandamento: “Amar o outro como a si mesmo”. O amor que eu digo não é do prazer, mas o de doar-se. Se o outro não tem um pão, esse amor significa repartir o meu pedaço. Se o outro não tem uma vestimenta, é doar uma parte. É realmente doar-se de coração.