Dona Generina Feitosa Cabral e Seu José Alves Cabral estão unidos pelo matrimônio desde 1965. Apaixonados, construíram uma família com três filhos e netos. Ambos com 78 anos, além dos cabelos brancos e passos lentos, normais para a idade, convivem diariamente com um fator a mais adquirido na velhice: a Doença de Alzheimer (DA), a forma mais comum de demência entre idosos. Senhor Cabral, como é chamado, foi diagnosticado com DA há quatro anos e, desde então, doma Generina, além de mulher e companheira de todas as horas, é também a sua cuidadora. Ele, paciente, e ela, cuidadora, fazem parte do projeto de pesquisa “Terapias Expressivas no Tratamento de Idosos com Doença de Alzheimer”, desenvolvido pela Universidade Católica de Brasília (UCB), no Programa Stricto Sensu em Gerontologia. O projeto, iniciado há aproximadamente cinco anos, é um trabalho inédito que utiliza músicas da época em que esses idosos eram jovens, dança e muita afetividade, abraços, carinhos e atenção à pessoa com DA, com o objetivo de diminuir os distúrbios cognitivos e comportamentais que esses pacientes desenvolvem.
A Doença de Alzheimer é uma enfermidade sem cura que se agrava ao longo do tempo, mas que pode e deve ser tratada. Os pacientes, em sua maioria idosos com mais de 60 anos, se apresentam com demência, ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada por morte de células cerebrais. Entre os principais sintomas estão a perda de memória, confusão e desorientação, ansiedade, agitação, desconfiança, dificuldade em reconhecer familiares e amigos, perder-se em ambientes conhecidos, e apresentam distúrbios do sono, entre outros. Características comuns apresentadas por José Cabral nos últimos três anos. Dona Generina recorda que o marido foi diagnosticado com DA depois de uma crise de agressividade e perda constante da memória. "Ele chegou a um ponto de não reconhecer mais os filhos", lamenta Dona Generina.
Após descobrir o grupo de pesquisa da UCB, o casal passou a frequentar as sessões de terapias expressivas desde outubro de 2015. Os benefícios vieram e os objetivos são constatados na pesquisa, com melhora na qualidade de vida do casal. “Ele se acalmou mais, dorme melhor e quando chega a sexta-feira, ele consegue saber que é o dia de vir para a terapia”, comemora dona Generina.
Um avanço que a professora doutora Lucy Gomes, responsável pela pesquisa, atribui aos objetivos propostos. “O sentimento que tenho é de intensa alegria por estar ajudando pacientes que não têm cura, mas que estão melhorando sua qualidade de vida e melhorando também a dos cuidadores familiares, pois, quando os pacientes melhoram há diminuição do fardo que eles provocam na família”, celebra.
Pesquisa, avaliações e resultados
O projeto de pesquisa Terapias Expressivas no Tratamento de Idosos com Doença de Alzheimer utiliza músicas da época em que esses idosos eram jovens, dança e muita afetividade, entre abraços, carinhos e atenção à pessoa com DA. Objetiva-se estimular a cognição e, com afetividade, conseguir diminuir os distúrbios de comportamento que esses pacientes desenvolvem. A pesquisa está dividida em diferentes etapas. Na primeira fase foi feita a avaliação com os cuidadores de pacientes com DA, sendo que os cuidadores responderam ao questionário sobre como os pacientes dementados passaram a se comportar após as sessões de terapia. Nessa pesquisa, 75% dos cuidadores familiares afirmaram que os pacientes melhoraram, tanto do ponto de vista comportamental, quanto da cognição.
Na segunda fase, foi feita avaliação da funcionalidade dos fagócitos, por meio de coleta de sangue dos pacientes. A mestre em Gerontologia pela Universidade Católica, Cristina Cunha, realizou sua pesquisa e dissertação nessa segunda fase do projeto. Durante um ano acompanhou o grupo de 25 a 30 pacientes, coletou sangue antes e após 24 sessões de terapia, verificando que as músicas, a expressão corporal e a afetividade, propostas do projeto, ajudaram no sistema imunológico desses pacientes com Alzheimer. Cristina Cunha explica que estudou as células de defesa do organismo. “Com as coletas de sangue verificamos se o número dessas células de defesa aumentava, diminuía ou se ficavam inalteradas. Conseguimos perceber que, depois de 24 sessões, principalmente as células neutrófilas que são as da primeira linha de defesa no organismo, tiveram um aumento significativo”, comemora a pesquisadora. A ação não farmacológica, sem interferência de medicamentos conseguiu comprovar que os pacientes ficam menos suscetíveis a doenças oportunistas. “Isso pode ser um indício de que em termos de tratamento faz bem tanto para eles (pacientes com Alzheimer) quanto para os cuidadores familiares, que participam e se reversam nos cuidados”, afirmou Cunha.
Atualmente, o projeto iniciou sua terceira fase, quando a professora doutora Lucy, juntamente com alunos de cursos de graduação e da pós-graduação da UCB, aplicará os testes cognitivos para verificar quantitativamente se há melhora da memória e se há a melhora da qualidade do sono nos pacientes com DA após participação nas sessões. Nesse terceiro grupo, os pacientes respondem ao exame cognitivo de Addenbrooke, exame que avalia as alterações da memória, de linguagem e atenção. “No primeiro grupo nós entrevistamos os cuidadores que apontaram a melhoria da memória dos pacientes. Agora, nós queremos verificar se há quantitativamente essa melhoria, aplicando os questionários nos pacientes com Alzheimer”, relata a responsável pela pesquisa, doutora Lucy.
A abertura aos pacientes com DA
Qualquer paciente com o diagnóstico de Alzheimer pode participar. As sessões de terapia contagiantes com música, diversão, e principalmente carinho, ocorrem todas as sextas-feiras, às 14h, no ICDF Taguatinga (Instituto de Cardiologia do Distrito Federal), unidade Taguatinga, antigo Hospital Universitário da Universidade Católica de Brasília. O projeto é totalmente gratuito, faz parte do programa de pós-graduação Stricto Sensu em Gerontologia da UCB, sendo coordenado pela professora doutora Lucy Gomes, com a participação de pesquisadores do programa e estudantes da graduação do curso de Medicina e Psicologia. A estudante do 9º semestre de Medicina, Natalia Pierdoná, pretende seguir a linha de atuação em gerontologia e, como voluntária do projeto, é admiradora dos benefícios que as sessões trazem para a vida desses pacientes e cuidadores. “Eles se sentem acolhidos, satisfeitos e felizes com nosso trabalho. Aqui eles esquecem os problemas”, afirmou. Dona Generina, conta que a terapia expressiva com músicas e afetividade é um cuidado que vai além do que ela alcança e faz pelo marido. E olha que o amor dedicado ao senhor Cabral está acima de tudo. “Eu deixo de cuidar de mim para cuidar dele”, concluiu Generina.
Saiba Mais: Alzheimer no Brasil e no mundo
A Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência entre idosos. É doença incurável, de causa desconhecida, cuja frequência aumenta significativamente com a idade. Como a DA é uma enfermidade crônica de evolução lenta, além do fato de que nas fases avançadas o paciente se torna completamente dependente, incapaz de alimentar-se, banhar-se ou vestir-se sozinho, o impacto econômico sobre a sociedade é considerável. Enquanto as outras principais causas de morte têm diminuído, as mortes por DA têm aumentado dramaticamente.
Entre 2000 e 2008, as mortes por doenças cardiovasculares diminuíram em 13%, por AVC em 20%, câncer de próstata 8%, enquanto por DA houve um aumento de 66%. É a sexta causa de morte nos Estados Unidos (EUA). Estima-se que nos EUA 5,4 milhões de pessoas sejam portadores da doença. A cada 69 segundos, um norte-americano é diagnosticado como portador de DA. Em 2050, esse tempo cairá para 33 segundos, atingindo de 11 a 16 milhões de pessoas só naquele país.
Em 2010, nos EUA, cerca de 15 milhões de familiares e cuidadores dispenderam aproximadamente 17 bilhões de horas em cuidados diretos aos pacientes, com um custo estimado de U$ 202 bilhões. O custo da enfermidade no mundo chega a U$ 604 bilhões por ano, cerca de 1% do PIB mundial.
De acordo com o relatório anual "World Alzheimer Report, Alzheimer's Disease International", estima-se que no mundo, em 2010, havia 35,6 milhões de portadores e que, em 2030, este número aumentará para 66,7 milhões, chegando a 115,4 milhões em 2050. Uma em cada oito pessoas com mais de 65 anos é portadora de DA; sendo 4% antes dos 65 anos, 6% entre 65 e 74, 44% entre 75 e 84 e 46% com mais de 85 anos. Dessa população, dois terços vivem em países pobres ou em desenvolvimento; 70% a 80% dos pacientes vivem em seus domicílios.
No Brasil, não há dados estatísticos concretos, mas se pode afirmar que a presença da DA no país é muito significativa: cerca de 1,2 milhão de brasileiros.
Assessoria de Imprensa UCB