Dom Bosco é interpelado por Deus por meio dos jovens: aqueles trancados nos cárceres turinenses, os encontrados pelas ruas, praças e campos das periferias turinenses, aqueles que batem à sua porta para ter pão e abrigo, os encontrados nas escolas populares da cidade aonde é chamado para o ministério.
“Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: ‘Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus’” (Mateus 18,2-3). Frase difícil de tomar à letra, sobretudo por quem é cotidianamente exasperado pela convivência com tiranos em formato reduzido. As crianças têm, de fato, alguma coisa a nos ensinar?
Dom Bosco aprende dos jovens: alguns aspectos característicos do Sistema Preventivo são fruto da frequentação do seu mundo e da participação de vida, sentimentos, anseios; algumas notas qualificadoras da espiritualidade juvenil de Dom Bosco são tiradas do conhecimento do espírito juvenil e da descoberta das alturas às quais eles podem chegar; algumas características carismáticas do espírito salesiano provêm justamente da sintonia com o mundo juvenil.
O que os pequenos nos ensinam
A atividade de educador pode ser uma condenação à escravidão e à neurose ou uma viagem entusiasmante que enriquece e transforma. Um dos elementos que faz a diferença é a disponibilidade para aprender. Normalmente os educadores pensam no que podem ensinar aos seus destinatários. De vez em quando devem perguntar-se o que podem aprender deles.
A ação de educador não é um extenuante suscitar de atividades e intervenções práticas, mas um caminho espiritual: uma sucessão de experiências que revelam, aos poucos, o sentido profundo da vida e da pessoa.
Porque são eles os mais próximos às fontes da vida.
Ser educador é uma escola na qual se aprende mais do que se consiga ensinar. Desde que, naturalmente, se queira aceitá-lo. Será fácil descobrir que olhar para os jovens é melhor do que olhar para a televisão ou navegar pelo Google. É mais instrutivo.
O crescimento permanente – Os jovens “obrigam” os educadores a se conhecerem a fundo: eles têm um talento extraordinário para desintegrar os papéis e chegar à “carne viva”. Pode-se mentir aos adultos com alguma esperança de sucesso; mentir a uma criança é impossível. As crianças percebem as emoções e as manifestam com absoluta espontaneidade.
Isso provoca nos educadores um forte crescimento no sentido de responsabilidade e a necessidade de uma sempre maior capacidade de autocontrole. Também a mente é estimulada e um educador é obrigado a desenvolver prontidão de espírito, inteligência do coração, inventiva.
A atenção – As crianças desejam a presença do educador. Não um simples “estar ali”: querem a atenção total, indivisa, sem julgamentos ou expectativas. Estar presente significa estar disponível. Uma atenção pura, que não invade e não dirige, mas está intensamente presente, e basta.
O respeito e a paciência – Os filhos reais jamais são semelhantes aos sonhados e esperados. Rebelam-se às expectativas que os impedem de crescer segundo as leis internas do seu ser. Têm ritmo próprio, um projeto interior, inclinações originais. Dom Bosco dizia: “Deixai aos jovens plena liberdade de fazer as coisas que mais lhes agradam... E, como cada um faz com prazer o que sabe que pode fazer, eu me regulo por esse princípio, e todos os meus alunos agem, não só com as atividades, mas com o amor” (MB XVII, 75).
Ele dizia: “Dê-se comodidade aos alunos para que expressem livremente os seus pensamentos”. E insistia: “Escutem-nos, deixem-nos falar muito”. E ele deu exemplo disso: “Não obstante suas muitas e importantes ocupações, estava sempre pronto para acolher no seu escritório, com um coração de pai, os jovens que lhe pediam uma conversa particular. Mais ainda, queria que o tratassem com grande familiaridade e jamais se lamentava da indiscrição com que, às vezes, era importunado por eles. Deixava a todos plena liberdade... recebia-os com o mesmo respeito com que tratava as pessoas importantes. Convidava-os a se sentarem na poltrona, enquanto ele ficava à mesa, e ouvia-os com a maior atenção. Às vezes, levantava-se, ou caminhava com eles pelo escritório. Concluído o colóquio, acompanhava-os até o limiar, abria-lhes ele mesmo a porta, e despedia-se dizendo: – Sejamos sempre amigos!” (MB VI, 438-439).
A felicidade e a gratidão pela vida – Os jovens são o investimento mais importante no campo da realização e da felicidade pessoal. São uma missão, às vezes árdua, mas também uma bênção. A vida com os jovens pode ser de grande trabalheira, mas que profunda felicidade pode gerar uma jovem pessoa que amadurece entregando-se a nós com toda a confiança do mundo!