O torneio tem o objetivo de promover o esporte unificado, mais justo e inclusivo, com equipes compostas por atletas com e sem deficiência intelectual. A Seleção Brasileira, por exemplo, tem nove atletas regulares e oito parceiros - sem deficiência. Para Tiago, o esporte unificado é uma tendência no mundo e ajuda a quebrar preconceitos em relação à diversidade das equipes. "O nível de habilidade dos atletas é o mesmo. Na Copa, teremos um nível técnico muito alto", ressalta.
Entre as aulas no Instituto Laura Vicunha, Tiago viaja bastante, ministra palestras e capacitações, e ajuda na preparação da sua equipe para o mundial. Em um dos treinamentos, em junho, a Seleção Brasileira Unificada participou de um amistoso contra a Seleção Brasileira de Artistas, com a presença de bi-campeões mundiais. Romário e Zico, que são embaixadores e parceiros do projeto, deram o pontapé inicial da partida, que foi bastante disputada.
Antes de se tornar professor da Rede Salesiana de Escolas (RSE), Tiago Siqueira fez carreira como jogador de futebol, com passagens pela Seleção Brasileira Sub 17 e clubes como Vasco da Gama, Remo, Paysandu, Rio Branco, entre outros. Não só por isso, a convocação para a Copa foi recebida com muito entusiasmo. Ele ressalta que o evento tem um significado em todas as esferas da sua vida, como ex-atleta, educador salesiano e pai. “Eu digo que nada é por acaso. Tudo na vida tem um propósito. Tive uma filha, Lara, que era especial. E tenho o Lucas, que também é especial. Poder trabalhar e ajudar os especiais na parte desportiva é maravilhoso”, afirma.
Em entrevista ao RSE Informa, Tiago dá mais detalhes da Copa, fala sobre a importância do evento em sua vida e comenta a relação entre os valores da Special Olympics e os da pedagogia salesiana.
RSE Informa: Quando e como você conheceu a Special Olympics?
Tiago Siqueira: Eu conheci a Special Olympics Brasil por meio de uma grande amiga, a Lídia Tamy, que era na época diretora de Marketing da SOB (Special Olympics Brasil), e fiz um curso de capacitação para ser treinador de futebol, aqui na cidade de Campos dos Goytacazes. Me identifiquei completamente com as propostas de treinamentos e competições. E logo fui convidado para participar dos jogos nacionais da Escola Naval, no Rio de Janeiro, que foram classificatórios para os jogos de Inverno na cidade de Xangai, na China. E foi uma experiência maravilhosa. Durante o evento fui convidado para ser coordenador de futebol de todo o estado do Rio de Janeiro. Então passei a viajar e ministrar palestras e capacitações para novos profissionais de educação física. Em seguida, fui convidado para ser auxiliar técnico da Seleção Brasileira de Futebol. Eu digo que em todas as profissões devemos fazer tudo com amor, mas, ao trabalhar com pessoas especiais, devemos ter um amor e um carinho extras.
RSE Informa: Como você acha que o esporte pode ajudar pessoas com deficiência intelectual?
Tiago Siqueira: Eu costumo dizer, nas palestras e capacitações que eu ministro, que o diferencial da Special Olympics é que todos podem participar do programa de treinamento da SOB e até mesmo representar o país nas competições internacionais, pois a nossa filosofia é dar oportunidade a todos os atletas, independente do seu nível de habilidade.
E conto um fato verídico de um atleta nosso, R.B., que hoje tem 17 anos. A sua mãe teve complicações no parto e, assim que nasceu, ele teve uma baixa oxigenação no cérebro. O médico chegou para a mãe e disse: 'mãe, infelizmente o seu filho não vai poder andar e nem falar'. Imagina como deve ter ficado a cabeça dessa mãe? E, com o passar dos anos, ela conheceu a SOB e colocou o R.B para treinar atletismo. No ano de 2010, ele correu a maratona Pão de Açúcar ao lado do nosso embaixador, o Robson Caetano, no Rio de Janeiro, e deu uma entrevista para a rede Record. Então eu digo que o esporte, pode sim mudar a vida, não só do atleta, mas de todos que o cercam.
RSE Informa: Fale um pouco sobre suas expectativas para a I Copa de Futebol Unificado da Special Olympics.
Tiago Siqueira: A minha expectativa é a melhor possível, pois durante toda a minha trajetória como professor de educação física sonhei um dia representar o meu país, e poder fazer parte dessa equipe é uma honra. Teremos esse ano a Copa do Mundo na Malásia e no ano de 2015 teremos as olimpíadas em Los Angeles. Somos os atuais campeões do mundo de futebol (Grécia 2012), então os outros 23 países estão se preparando forte para essa competição. Estamos com uma equipe forte e preparada.
Essa proposta tem como estratégia ativar a juventude e envolver os educadores, promovendo a aceitação, mostrando que todos podemos ser agentes da mudança. Assim, podemos reconhecer os jogadores com deficiência intelectual que treinam continuamente, ajudando a construir um mundo mais justo para todos. A unificação quer dizer que uma mesma equipe é composta de atletas com deficiência intelectual e atletas sem deficiência intelectual, sendo que o nível de habilidade de todos é o mesmo. Em 2011, tivemos como atletas parceiros jogadores da equipe sub-23 do Corinthians-SP. Para o mundial da Grécia e a Copa do Mundo na Malásia, teremos os atletas do projeto Zico 10.
RSE Informa: É a primeira vez que você participa de um campeonato desse tipo?
Tiago Siqueira: Sim, esta será a minha primeira vez em uma competição internacional. Não pude ir para a Grécia em 2012, pois a competição realizou-se no mês em que minha filha Lara nasceu e teve que ficar 21 dias na UTI. Será uma oportunidade maravilhosa, pois vou representar o meu país e principalmente os meus filhos que também possuem a deficiência Intelectual. Digo que nada na vida é por acaso. Tive uma filha que tinha a síndrome de West. Ela faleceu neste ano, prestes a completar dois anos (10/02/14). E tenho o Lucas, que também tem a deficiência intelectual, ainda não temos um diagnóstico fechado. A nossa luta é diária, com todas as terapias que ele realiza.
RSE Informa: Para você, qual a contribuição que a Special Olympics pode dar para o trabalho dos professores de educação física?
Tiago Siqueira: Poder trabalhar com esses jovens atletas que sempre ouviam pessoas dizendo que não eram capazes de realizar qualquer tipo de atividade física, ou até mesmo competir em alto nível, poder viajar e conhecer países e outras culturas, poder desenvolver um trabalho embasado em estudos científicos e pesquisas, tudo isso é o sonho de todo professor de educação física.
RSE Informa: Você vê alguma semelhança entre os valores do projeto e os da pedagogia salesiana?
Tiago Siqueira: Os pilares salesianos estão presentes em todas as atividades propostas da Fundação Special Olympics. Desenvolvemos atividades e projetos para a construção do saber fazer, centrado nas relações entre pessoas comprometidas com a transformação da realidade em que estão inseridas, visando sempre a contínua e indispensável formação de uma sociedade mais educativa. Esse é o estilo salesiano de educar, inspirado no amor e nos valores cristãos. Dom Bosco e Madre Mazzarello não excluíam e sim acolhiam e transformavam a vida dos jovens. Eu amo meus alunos, minha gratidão é poder chegar à escola e poder lecionar com prazer. Faço aquilo que mais amo, que é educar. E levo comigo o conselho de Madre Mazzarello: "Não basta começar, é preciso continuar, lutar sempre... todos os dias!”
RSE Informa: Em nome da RSE, agradecemos pela entrevista, pela sua dedicação aos jovens, e desejamos a você boa sorte na Copa da Malásia.
Tiago Siqueira: É com grande prazer que respondo. E com mais alegria, agradeço a Deus por ser um educador salesiano. Para mim é uma honra levar a bandeira da RSE a todas as competições que participo.