No final da manhã deste sábado, o inspetor da Missão Salesiana de Mato Grosso, padre Ricardo Carlos, enviou comunicado aos diretores das presenças da Inspetoria de Campo Grande. “Com sentimento de gratidão pelo dom da vida missionária salesiana e pelo seu testemunho entre o Povo Boe-Bororo, comunicamos a partida para o jardim salesiano do nosso querido padre Gonzalo Ochoa, ocorrida nessa manhã.”
Natural de Toca, na Colômbia, padre Gonzalo Alberto Camargo Ochoa nasceu em 6 de dezembro de 1929. Professou na Congregação Salesiana aos 24 de janeiro de 1949. Em 1958, veio para o Brasil incorporando-se à Missão Salesiana de Mato Grosso, estabelecendo-se no Colégio Dom Bosco de Campo Grande.
Em 1960, foi destinado à Colônia Indígena de Meruri para o trabalho missionário com o povo bororo. Integrou-se profundamente na vida do Povo Bororo, dominando a cultura e a língua dessa etnia. Desenvolveu, com a comunidade salesiana, inúmeros trabalhos em favor desse povo no âmbito da religião, educação, direitos, promoção do auto sustento e da cultura.
Aos 93 anos de vida e 64 anos de sacerdócio, padre Gonzalo Ochoa se tornou referência para os salesianos, tanto na dedicação ao trabalho como missionário entre os bororo, como na vida sacramental e exercício do ministério sacerdotal. Simples, discreto, profundamente humano e intensamente místico, padre Ochoa apresenta um testemunho de vida e de consagração a Deus. “A vocação sacerdotal é uma iniciativa de Deus. Ele é que vai escolhendo. Na liturgia de hoje, o Evangelho diz que Nosso Senhor, depois de ter passado a noite rezando, escolheu os 12 apóstolos, e depois os mandou pelo mundo anunciar o Evangelho. Daí para cá, ele foi providenciando para que houvesse pessoas destinadas para este fim especial de anunciar o Evangelho pelo mundo. Isso nos dá a certeza de que (a vocação) não é iniciativa da gente, mas de Deus que nos vai escolhendo”, afirmou ao descrever o sentido da própria vocação em entrevista realizada no ano passado.
Na Inspetoria Missionária de Mato Grosso, desenvolvida em suas origens através do dedicado trabalho de salesianos vindos de diversos países, padre Ochoa é o único colombiano. “Eu tinha um irmão padre. Ele se ordenou no mesmo ano que eu comecei a estudar na cidade. Foi ele que me levou para um Oratório na periferia da cidade de Bogotá. E aí eu conheci Dom Bosco através de um assistente salesiano muito inteligente. Nesse Oratório havia muita alegria. Era internato mas tinha também muitos que vinham brincar no fim de semana, e então eu comecei a gostar. Claro que foi meu irmão que me encaminhou para lá, mas só depois que a gente, analisando, vê como que Deus foi me chamar. Daí passei para o aspirantado e fui encaminhando a formação”, revelou em entrevista por ocasião do seu Jubileu Sacerdotal, ao lembrar os primeiros passos da caminhada vocacional.
A humildade não lhe permitiu desfrutar das homenagens recebidas pela longevidade no exercício do sacerdócio. “É um mistério. A perseverança, assim como a vocação, é uma iniciativa de Deus. Acho que perseverança é também uma graça especial de Deus. A gente não merece porque é uma alegria, uma dignidade muito grande, então a gente não se sente merecedor de uma dignidade assim, mas a gente está nas mãos de Deus e Deus vai sustentando a gente”, afirmou lembrando em oração daqueles que não perseveraram na vocação.
Grande parte do mérito pela perseverança e fidelidade ao ministério sacerdotal, padre Ochoa atribuiu à devoção a Nossa Senhora. “Na vocação religiosa, a gente sente um carinho especial por Nossa Senhora. Quando a gente se consagra a ela, consagra a sua própria vocação, a gente vê a sua intercessão, sua proteção continuamente. Sem a devoção a Nossa Senhora (é difícil). Na história de Dom Bosco e de outros tantos milhares de padres que perseveraram, sempre teve a essa presença de Nossa Senhora que sustenta”, declarou.
Em uma época de grandes tribulações, padre Ochoa se disse privilegiado por completar o 61° aniversário de ordenação sacerdotal. Consciente da importância do exemplo aos jovens sacerdotes e outros religiosos a caminho da ordenação, padre Ochoa fez uma recomendação: “saibam consagrar sua vida com humildade nas mãos de Deus e de Nossa Senhora e acreditem na sua missão. Não somos nós que temos muito valor, mas somos instrumentos de Deus na expansão do Evangelho. Se são escolhidos, que se sintam privilegiados para continuar a missão de Cristo de salvar a humanidade”, recomendou.
Os funerais do padre Ochoa serão realizados na Presença Salesiana de Meruri (MT), local em que dedicou praticamente toda a sua vida missionária em favor dos povos originários Boe Bororo. Os detalhes das cerimônias ainda não foram definidos.