Poucas são as citações de Maria, mãe de Jesus, nos Evangelhos. Isso é verdade do ponto de vista quantitativo. Do ponto de vista da qualidade, a presença de Maria nos quatro evangelhos é muito grande e significativa. Ela aparece no momento do encontro com o anjo Gabriel quando Jesus foi concebido. Maria sai em busca de partilha de vida e se encontra com Isabel, mãe de João Batista que, como ela, está vivendo momentos delicados e preciosos em sua vida. Presente está no nascimento e em diversos episódios da infância e adolescência de Jesus. Depois há um silêncio grande... Na vida pública de Jesus há poucos relatos da presença de Maria. Ela se torna intensa ao pé da cruz e no cenáculo, onde há a descida do Espírito Santo. Como se vê, não se trata de presença pouca, mas de presença essencial e substancial. A fé da Igreja sempre proclamou que, assim como Maria esteve presente em todos os momentos da vida de Jesus, também na vida de cada cristão ela é uma presença forte e significativa. Para o cristão, Maria, mãe de Jesus, é um testemunho do silêncio fecundo e da partilha humana.
O silêncio de Maria: viver como se visse o invisível
Embora se fale muito de e sobre Maria na Igreja, ela é marcante pelo seu silêncio. Há pessoas que falam quando silenciam e há as que nada falam quando abrem a boca. Há um ditado que diz que “a palavra é prata e o silêncio é ouro”. Há pessoas que nada falam, mas são presença forte e promotora de valores. O primeiro e maior silêncio de Maria é esconder-se, retirar-se, ocultar-se para que seu Filho possa falar. Ele é quem fala. Ela silencia porque é discípula. A discípula escuta, reflete as palavras e os acontecimentos no seu coração, aprofunda seu sentido, cria e vive convicções.
É difícil encontrar pessoas que não tenham feito essa experiência em sua vida. No meio da multidão rumorosa, de tantas palavras, há pessoas que pouco ou quase nada falam e, no entanto, marcam... Há autores que escrevem três livros por ano e há autores que escrevem um livro na vida. Nem sempre quem mais escreve é quem mais marca. Há músicas de consumo feitas aos montes e das quais amanhã não sobrou nem lembrança. Há músicas pensadas, profundas, silenciosas, que vão vencendo o tempo e marcando gerações.
Assim é Maria, a mãe de Jesus. “Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as em seu coração” (Lc 2,19). O tempo de Deus nem sempre é o nosso tempo. Há coisas que acontecem hoje e que só conseguimos entender amanhã. Este é o tesouro da sabedoria. Maria também foi entendendo, aprofundado e se conformando ao plano de Deus aos poucos com docilidade de coração. Silenciar não é calar. Há quem se cala e não faz silêncio. Silenciar é escutar o mais profundo de tudo e de todos. Assim Maria, como Moisés, “mostrou-se firme como se visse o invisível” (Hb 11,7).
A partilha de Maria: exaltou os humildes
Após a anunciação do anjo Maria subiu às pressas às montanhas para visitar sua prima Isabel, que também estava grávida de João Batista. Esta passagem bíblica é muito usada para significar o serviço generoso de Maria com quem necessita, neste caso, uma mulher grávida. É verdade. No entanto, este fato também é interpretado como o encontro de duas mulheres que precisam partilhar sua vida e o fato relevante que estão vivendo: a maternidade. O Evangelho diz que logo que Isabel viu Maria o menino exultou de alegria em seu ventre (Lc 40). Duas crianças esperadas e ao mesmo tempo inesperadas. Duas crianças concebidas em situações muito especiais. Duas mulheres, uma adolescente e outra avançada em anos, que se encontram para partilhar suas vidas. As mães grávidas testemunham que grandes alegrias ou mesmo grandes sofrimentos são partilhados também pelas crianças concebidas em seu ventre.
O que se dizem estas duas mulheres que vivem situações muito diferentes? Uma vive na periferia, em Nazaré, outra vive no centro do poder religioso, o templo. Dizem, fundamentalmente, duas coisas. Primeiro se dizem uma para a outra palavras de admiração, de apoio e de amparo. O que estão vivendo é tão misterioso que as faz maior do que são. Primeiro, por serem mães como todas as mães. Depois, sobretudo Maria, por serem mães de filhos escolhidos por Deus para levar a história à sua plenitude. Em segundo lugar, elas têm consciência de que seus dois filhos, João Batista e Jesus, trazem uma mensagem totalmente nova. Os que estão nas periferias do poder, nas garras da exclusão, no sufoco da opressão, serão trazidos para o centro, para o meio. Não são os Herodes, os Pilatos, os Sumo Sacerdotes, os Césares que dirão a última palavra, porque, em Jesus, Deus “derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes (Lc 1,52). Maria não apenas é servidora de uma pessoa individual, mas é servidora de toda a humanidade.
O silêncio e a partilha de Maria na Família Salesiana
Na escola de Maria também a Família Salesiana aprende a viver o silêncio fecundo e a partilha generosa. Dom Bosco aprendeu de Maria a escutar o clamor das novas gerações. Ele caminhou com Maria e Maria caminhou com ele pelas prisões, pelas praças, pelas oficinas, pelos povoados, pelos campos, pelas periferias, pelas igrejas e escutou silenciosamente o grito dos pequenos. E no silêncio Dom Bosco foi gestando ações, presenças e instituições que têm como meta a partilha generosa de vida. A criança e o adolescente não são um trampolim para o adulto crescer na vida. O adulto é a alavanca para uma sociedade que sabe partilhar porque, como Maria, coloca a criança e o adolescente no centro, “exaltando os humildes”.
Padre Marcos Sandrini, SDB, é diretor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS.