Passados muitos anos e tendo às costas uma rica experiência de bons resultados, eu podia afirmar que “com os jovens, torna-se castigo o que se faz passar como tal”. Eu queria que se entendesse que o castigo deve servir para melhorar as coisas e não piorá-las. Uma breve privação de afeto, um olhar tristonho, uma atitude mais reservada e séria, uma palavrinha ao ouvido dita com doçura e paciência, eram meios dos quais me servia para corrigir e delimitar possíveis comportamentos inconvenientes.
Entre os jovens aceitos, nem todos eram como Domingos Sávio. Aconteceu certo dia que um pobre assistente, talvez não muito aceito pelos mais velhos, perdeu a paciência e acabou por distribuir sonoros tabefes na tentativamente de impor-se. Criou-se, então, um clima de surda resistência que podia acabar de um momento a outro em uma perigosa forma de insubordinação descontrolada. Todos esperavam que eu me pronunciasse; e o fiz depois das orações da noite, no momento do “boa noite”. Com o rosto muito sério, passei a dizer qual era o nosso estilo de educação, manifestei a frustração provada ao saber que um deles fosse tratado tão duramente e que por sua vez tivesse cometido uma falta grave de respeito e de obediência para com quem era encarregado de manter a disciplina. Esclarecidas as coisas, terminei dizendo: “De um lado, jamais aconteçam insultos, de outro, jamais violências”. Dera o clássico golpe, um no cravo e outro na ferradura. Depois, fiz uma pausa, o meu rosto abriu-se em um sorriso e retomei a minha fala: “Gostaria, pelo afeto que tenho por todos, fazer também o impossível... Lamento pela surra dada, mas, na verdade, não a posso desfazer”. Conseguira romper o gelo; todos riram, esperei que se fizesse novamente silêncio e desejei a todos boa noite.
A experiência ensinava-me que é muito mais fácil irritar-se, ameaçar, do que tentar persuadir com as boas maneiras. Era um puxar e soltar que, às vezes, cansava, mas eu sabia que certos temperamentos difíceis, rebeldes e descontrolados eu só podia vencer com a caridade, a paciência e a mansidão. Na prática, só se deixavam dobrar pela bondade, pelo coração que dialoga, que corrige com amor e delicadeza. Os jovens em geral erram mais por leviandade do que por malícia. E alguns educadores, levados pela pressa excessiva ou pela impaciência, cometiam erros mais graves do que as faltas dos próprios jovens. Não raramente, eu percebia que alguns que nada perdoavam aos outros eram muito sensíveis e prontos a desculparem a si mesmos. E quando se usam dois pesos e duas medidas de forma arbitrária, os educadores acabam por cometer erros enormes.
Recordava com frequência aos meus salesianos que os jovens são como “pequenos psicólogos” quando julgam seus educadores, professores e assistentes, e a forma, a tonalidade e a imprudência com que aproveitam de sua autoridade. Desejava que meus caros salesianos sempre soubessem esperar o momento oportuno para fazer a correção necessária; jamais levados pela cólera ou pela vingança. E que jamais se esquecessem de que os meninos, os jovens, devem ser conquistados um por um, dia a dia, para encaminhá-los ao Senhor, porque só Ele sabe desenhar neles o rosto divino. E que os meus caros salesianos sempre levassem consigo um remédio indispensável e infalível (embora não se encontre em nenhuma farmácia): antes de dizer sim ao Senhor, os jovens querem e pretendem que outros digam sim aos seus sonhos.
Há tempos eu adotara um método infalível para educar ao bem: estar sempre entre os jovens. Queria os meus salesianos “educadores de pátio”. Abertos ao diálogo, criativos, vigilantes, mas não suspeitosos; presentes, mas não sufocantes; acolhedores e alegres, verdadeiros amigos.
Era o que eu definia como assistência: uma presença qualificada, jamais neutra, sempre propositiva; uma assistência que fosse acolhedora. Um modo de estar com os jovens, ao lado deles. “Estar no pátio” para compartilhar com os jovens sonhos e esperanças, para construir com eles um futuro mais belo e digno, sem barreiras de desconfianças. O pátio, como lugar “sacro” de amizade e de encontro onde nasce a confiança solidária, onde o educador desce da cátedra, não tem mais à mão o diário de classe, onde não vale tanto pelos títulos de estudo obtidos, quanto pelo que é, pelos valores que exprime, pelos ideais que o animam.
O jovem, mesmo o mais rebelde, só se deixa influenciar pela bondade e pela paciência. Por isso, eu sugeria aos meus salesianos: “Mais do que a cabeça de superior, convém ter o coração de pai”.