Protagonistas de uma humanidade nova

Segunda, 04 Outubro 2021 22:03 Escrito por  Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA
Protagonistas de uma humanidade nova istock.com
Novos processos culturais começam com processos educativos integrais que permitam quebrar as correntes do pessimismo e da rigidez que são completamente contrárias ao bem da humanidade.    

No contexto em que vivemos, de crise global sanitária causada pela Covid-19, precisamos sempre nos lembrar de que é o amor que nos torna irmãos e irmãs. Estamos conectados uns aos outros e ninguém pode ser feliz sozinho.

 

O Papa Francisco tem dado atenção especial à educação, especificando ser ela um grande campo para a construção de uma sociedade mais fraterna, pacífica e solidária. Por isso, encoraja-nos a uma verdadeira aliança educativa.

 

Diante disso, podemos nos perguntar: como o Papa Francisco pensa a educação? Os fundamentos pedagógicos do Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco, são os valores do Evangelho e, também, os valores expressos na Doutrina Social da Igreja.

 

Refletida em todo seu pontificado, a concepção de educação apresentada pelo Papa, está relacionada com sua própria experiência (de educador/consagrado/sacerdote/bispo/Papa) e com sua compreensão sobre a identidade e a missão da Igreja.

 

Retomar o caminho da misericórdia

A sociedade contemporânea vive tempos de pluralismo sociopolítico e cultural. Há uma constatação de extrema seriedade expressa no fato de que a humanidade é portadora de profundas feridas e que não sabe como curá-las. Nesse sentido, precisamos retomar o caminho da ética, da justiça e da sabedoria: as bases da misericórdia.

 

Mais do que urgente é ensinar a misericórdia às crianças. Talvez esse seja um saber para educação do futuro, fundado no diálogo, na democracia, no bem comum e no aprendizado compartilhado em prol de uma sociedade melhor para todos.

 

Porém, é mais do que necessário acabar com o maior de todos os pecados: a corrupção. Transformada em sistema, torna-se hábito mental e modo de viver. O corrupto é aquele que peca e não se arrepende e que finge ser cristão. Disfarça seu vício com a boa educação, com a mentira, com a propina e com a ostentação. Sua autoestima se baseia na fraude, no oportunismo, na indignidade e na total ausência de compaixão.

 

Educar as novas gerações é uma condição essencial para uma cidadania ativa, animada pelos valores do Evangelho, de pessoas disponíveis a fazer da própria vida um dom e um serviço aos outros, a recusar toda forma de corrupção, a cultivar a solidariedade para com os mais pobres, a defender a beleza da criação e da casa comum como patrimônio da humanidade, a promover e defender os direitos da pessoa humana.

 

Opção carismática da Família Salesiana

Todos, sobretudo os mais pobres, podem contribuir de forma revolucionária à construção de um mundo mais aberto à fraternidade, à solidariedade e à paz.

 

A promoção de um novo pacto com as novas gerações é inegável. Tamanha é a importância de envolver as crianças, adolescentes e jovens como sujeitos do processo de mudança, e, também, as escolas, as universidades, os governos, as religiões, as famílias, cada um com seu papel.

 

Lembremo-nos de que educar e evangelizar as futuras gerações, sobretudo os mais pobres, para nós, Família Salesiana, consiste em uma opção carismática irrenunciável. Dom Bosco e Madre Mazzarello doaram suas vidas ao Senhor construindo, junto aos jovens, projetos de uma nova sociedade mais humanizadora, cristã e cidadã.

 

Junto a Madre Mazzarello, as irmãs da primeira comunidade das Filhas de Maria Auxiliadora formaram uma rede educativa, em prol das meninas empobrecidas de Mornese. O objetivo era proporcionar uma educação para aquelas jovens de tal modo que viessem a se tornar boas mães de família, Filhas de Maria Auxiliadora e, sobretudo, boas cristãs comprometidas.

 

Diariamente, eram tecidos por muitas mãos projetos pessoais de vida destinados a servir aos outros, o que beneficiava toda a sociedade. Em um ambiente familiar, de simplicidade, alegria, piedade, relações fraternas, trabalho, estudo e caridade pastoral criativa pulsante, Mornese era conhecida como a casa do Amor de Deus. Espaço educativo alicerçado na maternidade espiritual que educava para a esperança e a fraternidade.

 

Aliança pelo bem comum

Como em Mornese e Valdocco, carecemos reconstruir um novo tecido de comunhão fraterna como o Papa nos pediu na Encíclica Fratelli Tutti. A fraternidade tem os seus fundamentos na tradição, não apenas cristã, mas também humana. Então, estabelecer relações fraternas nos faz criar alianças para alcançar os mesmos objetivos e os mesmos meios, ou seja, o bem comum.

 

Neste sentido, a espiritualidade, como exercício da sensibilidade da consciência e do coração humano no seu relacionamento com Deus, com o ser humano e com a criação, poderá ser uma mediação que continua iluminando tal convivência na direção da busca de superação da decadência humano-ecológica.

 

Desse modo, a experiência de Deus subjaz uma profunda interpelação sobre a responsabilidade ético-moral do ser humano no contexto atual da crise humana e ecológica, isto é, a perversa realidade degradante dos pobres e o envelhecimento depreciativo do mundo criado.

 

Diante desses desafios, o carisma salesiano continua sua missão de mediar a relação catalisadora da fé e da ação para formar bons cristãos e honestos cidadãos. Carrega consigo uma dinâmica interior, que chamamos de amorevolezza, capaz de transformar até aquele jovem mais difícil, pois quem se sente amado, ama e alcança tudo, já dizia Dom Bosco.

 

Um pacto educativo pela educação nos leva a resgatar valores e inspirações que permitam um novo olhar e uma nova relação com a criação, para que as pessoas venham a combater o desrespeito à natureza e cultivem novos hábitos, gerando impactos sustentáveis positivos no planeta.

 

Educar a juventude implica educar as futuras gerações para novos horizontes e possibilidades, por meio da construção de novos projetos de sociedade para uma humanidade nova.

 

Embora Dom Bosco não tenha chegado a elaborar um sistema pedagógico completo em termos teóricos, adotou de forma reflexa nos seus escritos e experimentou de forma consciente no seu trabalho educativo entre os jovens elementos válidos e coerentes que lhe permitiram elaborar, no conjunto, uma proposta educativa articulada e unitária, inconfundivelmente sua e que nos deixou como herança.

 

Dom Bosco soube infundir nos jovens um clima de amizade, alegria, protagonismo, caridade fraterna e responsabilidade pela busca da perfeição. Hoje, quando olhamos para o Oratório de Valdocco, percebemos a experiência paterna e vital entre Dom Bosco e seus jovens.

 

Assumir no cotidiano a missão de formar bons cristãos e honestos cidadãos, segundo o coração de Deus, de Dom Bosco e de Madre Mazzarello, exige de cada um de nós renovar a nossa identidade de apóstolos e de evangelizadores, no espírito do "da mihi animas cetera tolle", devolvendo aos jovens e acompanhando-os na missão que lhes compete: serem protagonistas ativos de uma humanidade nova.

 

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Segunda, 04 Outubro 2021 22:03 Escrito por  Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA
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Novos processos culturais começam com processos educativos integrais que permitam quebrar as correntes do pessimismo e da rigidez que são completamente contrárias ao bem da humanidade.    

No contexto em que vivemos, de crise global sanitária causada pela Covid-19, precisamos sempre nos lembrar de que é o amor que nos torna irmãos e irmãs. Estamos conectados uns aos outros e ninguém pode ser feliz sozinho.

 

O Papa Francisco tem dado atenção especial à educação, especificando ser ela um grande campo para a construção de uma sociedade mais fraterna, pacífica e solidária. Por isso, encoraja-nos a uma verdadeira aliança educativa.

 

Diante disso, podemos nos perguntar: como o Papa Francisco pensa a educação? Os fundamentos pedagógicos do Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco, são os valores do Evangelho e, também, os valores expressos na Doutrina Social da Igreja.

 

Refletida em todo seu pontificado, a concepção de educação apresentada pelo Papa, está relacionada com sua própria experiência (de educador/consagrado/sacerdote/bispo/Papa) e com sua compreensão sobre a identidade e a missão da Igreja.

 

Retomar o caminho da misericórdia

A sociedade contemporânea vive tempos de pluralismo sociopolítico e cultural. Há uma constatação de extrema seriedade expressa no fato de que a humanidade é portadora de profundas feridas e que não sabe como curá-las. Nesse sentido, precisamos retomar o caminho da ética, da justiça e da sabedoria: as bases da misericórdia.

 

Mais do que urgente é ensinar a misericórdia às crianças. Talvez esse seja um saber para educação do futuro, fundado no diálogo, na democracia, no bem comum e no aprendizado compartilhado em prol de uma sociedade melhor para todos.

 

Porém, é mais do que necessário acabar com o maior de todos os pecados: a corrupção. Transformada em sistema, torna-se hábito mental e modo de viver. O corrupto é aquele que peca e não se arrepende e que finge ser cristão. Disfarça seu vício com a boa educação, com a mentira, com a propina e com a ostentação. Sua autoestima se baseia na fraude, no oportunismo, na indignidade e na total ausência de compaixão.

 

Educar as novas gerações é uma condição essencial para uma cidadania ativa, animada pelos valores do Evangelho, de pessoas disponíveis a fazer da própria vida um dom e um serviço aos outros, a recusar toda forma de corrupção, a cultivar a solidariedade para com os mais pobres, a defender a beleza da criação e da casa comum como patrimônio da humanidade, a promover e defender os direitos da pessoa humana.

 

Opção carismática da Família Salesiana

Todos, sobretudo os mais pobres, podem contribuir de forma revolucionária à construção de um mundo mais aberto à fraternidade, à solidariedade e à paz.

 

A promoção de um novo pacto com as novas gerações é inegável. Tamanha é a importância de envolver as crianças, adolescentes e jovens como sujeitos do processo de mudança, e, também, as escolas, as universidades, os governos, as religiões, as famílias, cada um com seu papel.

 

Lembremo-nos de que educar e evangelizar as futuras gerações, sobretudo os mais pobres, para nós, Família Salesiana, consiste em uma opção carismática irrenunciável. Dom Bosco e Madre Mazzarello doaram suas vidas ao Senhor construindo, junto aos jovens, projetos de uma nova sociedade mais humanizadora, cristã e cidadã.

 

Junto a Madre Mazzarello, as irmãs da primeira comunidade das Filhas de Maria Auxiliadora formaram uma rede educativa, em prol das meninas empobrecidas de Mornese. O objetivo era proporcionar uma educação para aquelas jovens de tal modo que viessem a se tornar boas mães de família, Filhas de Maria Auxiliadora e, sobretudo, boas cristãs comprometidas.

 

Diariamente, eram tecidos por muitas mãos projetos pessoais de vida destinados a servir aos outros, o que beneficiava toda a sociedade. Em um ambiente familiar, de simplicidade, alegria, piedade, relações fraternas, trabalho, estudo e caridade pastoral criativa pulsante, Mornese era conhecida como a casa do Amor de Deus. Espaço educativo alicerçado na maternidade espiritual que educava para a esperança e a fraternidade.

 

Aliança pelo bem comum

Como em Mornese e Valdocco, carecemos reconstruir um novo tecido de comunhão fraterna como o Papa nos pediu na Encíclica Fratelli Tutti. A fraternidade tem os seus fundamentos na tradição, não apenas cristã, mas também humana. Então, estabelecer relações fraternas nos faz criar alianças para alcançar os mesmos objetivos e os mesmos meios, ou seja, o bem comum.

 

Neste sentido, a espiritualidade, como exercício da sensibilidade da consciência e do coração humano no seu relacionamento com Deus, com o ser humano e com a criação, poderá ser uma mediação que continua iluminando tal convivência na direção da busca de superação da decadência humano-ecológica.

 

Desse modo, a experiência de Deus subjaz uma profunda interpelação sobre a responsabilidade ético-moral do ser humano no contexto atual da crise humana e ecológica, isto é, a perversa realidade degradante dos pobres e o envelhecimento depreciativo do mundo criado.

 

Diante desses desafios, o carisma salesiano continua sua missão de mediar a relação catalisadora da fé e da ação para formar bons cristãos e honestos cidadãos. Carrega consigo uma dinâmica interior, que chamamos de amorevolezza, capaz de transformar até aquele jovem mais difícil, pois quem se sente amado, ama e alcança tudo, já dizia Dom Bosco.

 

Um pacto educativo pela educação nos leva a resgatar valores e inspirações que permitam um novo olhar e uma nova relação com a criação, para que as pessoas venham a combater o desrespeito à natureza e cultivem novos hábitos, gerando impactos sustentáveis positivos no planeta.

 

Educar a juventude implica educar as futuras gerações para novos horizontes e possibilidades, por meio da construção de novos projetos de sociedade para uma humanidade nova.

 

Embora Dom Bosco não tenha chegado a elaborar um sistema pedagógico completo em termos teóricos, adotou de forma reflexa nos seus escritos e experimentou de forma consciente no seu trabalho educativo entre os jovens elementos válidos e coerentes que lhe permitiram elaborar, no conjunto, uma proposta educativa articulada e unitária, inconfundivelmente sua e que nos deixou como herança.

 

Dom Bosco soube infundir nos jovens um clima de amizade, alegria, protagonismo, caridade fraterna e responsabilidade pela busca da perfeição. Hoje, quando olhamos para o Oratório de Valdocco, percebemos a experiência paterna e vital entre Dom Bosco e seus jovens.

 

Assumir no cotidiano a missão de formar bons cristãos e honestos cidadãos, segundo o coração de Deus, de Dom Bosco e de Madre Mazzarello, exige de cada um de nós renovar a nossa identidade de apóstolos e de evangelizadores, no espírito do "da mihi animas cetera tolle", devolvendo aos jovens e acompanhando-os na missão que lhes compete: serem protagonistas ativos de uma humanidade nova.

 

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