Dom Bosco, em 1869, estava em Roma, na Itália, para acompanhar a aprovação da sua Pia Sociedade de São Francisco de Sales. O clima entre os Cardeais da Sagrada Congregação não era dos melhores. Estavam influenciados por cartas de muitos bispos que criticavam a nova congregação que surgia em Valdocco, Turim.
Dois fatos aconteceram com os cardeais da tal Congregação. Um foi com o Cardeal Berardi. Ele tinha um sobrinho com febre tifoide, já desenganado pelos médicos. Dom Bosco, já famoso taumaturgo, foi chamado pelo cardeal.
– Eminência, disse Dom Bosco, vim para que o senhor me ajude junto ao Papa a fim de obter a aprovação da nossa Sociedade.
– O senhor me consiga a cura deste sobrinho, e, depois, falarei com o Santo Padre...
Dom Bosco, junto do enfermo, disse aos parentes:
– Tenham fé, rezem a Maria Auxiliadora, comecem uma novena. E o senhor, eminência, se ocupe com a Sociedade de São Francisco de Sales. E disse com seus botões: “Deixemos a Nossa Senhora. Que ela comece”!
Recitando algumas orações, Dom Bosco abençoou o doente. A febre o deixou na hora. O cardeal repetiu a promessa de fazer tudo o que lhe fosse possível em favor da Pia Sociedade, se o sobrinho ficasse curado.
Começaram a novena; após três dias Dom Bosco voltou a visitar o doente. O menino tinha melhorado muito, estando fora de perigo. Restabeleceu-se logo totalmente. A graça de Maria Auxiliadora fora evidente. O Cardeal Berardi, fora de si de alegria, visitou Dom Bosco e prometeu-lhe ir logo até o Santo Padre…
Na audiência com o Papa, contou-lhe o fato acontecido, recomendou-lhe com muita insistência a Pia Sociedade de São Francisco de Sales. Aquele santo Pontífice ficou surpreso e quis ver imediatamente a Dom Bosco.
Outro fato aconteceu com o Cardeal Antonelli. Dom Bosco foi visitá-lo. Sua eminência estava atormentado pela gota. E Dom Bosco: “Como está, eminência?” “Oh, veja como estou: preso na poltrona há alguns dias. A gota voltou. Ela tinha me deixado depois de sua última visita. Agora, de novo, me faz ter dores atrozes”, respondeu o cardeal. Os dois dialogam:
– Eminência, ajude-me em meus assuntos e lhe garanto que se sentirá melhor.
– O que deseja de mim?
Vim aqui parar encomendar-me ao senhor, a fim de que se ocupe da Sociedade de São Francisco de Sales.
– Ih, isso me parece um tanto difícil; porém, prometo recomendá-la ao Santo Padre, assim que puder ter uma audiência com ele.
– Teria necessidade que fosse já.
– Mas o senhor vê em que estado estou; não posso me mexer…
– Tenha confiança em Maria Auxiliadora e vá logo. Somente prometa se empenhar pela aprovação da nossa Sociedade…
– Quando...?! – exclamou o cardeal, surpreso, fixando-lhe nos olhos.
– Amanhã!
– Quer dizer que poderei ir mesmo?
– Sim, amanhã!
– Mas, como poderá ser?
– Tenha fé, fé forte em Maria Auxiliadora, pois do contrário não fazemos nada.
– Está bem, irei amanhã. Mas... e se depois ficar pior?
– Fico responsável eu: amanhã estará melhor. Deixe a coisa com Maria: Ela saberá como fazer.
– Está bem. Irei amanhã. E se acontecer o que me diz, farei tudo o que puder para promover sua Congregação.
No dia seguinte de manhã, o Cardeal Antonelli estava claramente melhor. Foi à audiência com o Santo Padre e lhe narrou seu diálogo com Dom Bosco e a cura.
“Nos perigos, nas angústias, nas incertezas, pensa em Maria, invoca Maria. Que ela nunca abandone os teus lábios, nem o teu coração; e para obteres a ajuda de sua oração, nunca esqueças o exemplo de sua vida. Se a segues, não te podes desviar; se lhe rezas, não te podes desesperar; se pensas nela não podes errar. Se ela te ampara, não cais; se ela te protege, nada temes; se ela te guia, não te cansas; se ela te é propícia, alcançarás a meta…” (S. Bernardo de Claraval, PL 183, 70-71).
Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).