"Se a humanidade estiver dividida, a crise da pandemia não poderá ser superada. Se ninguém for deixado de fora, é possível curar um planeta. Para o bem de todos, cuidemos dos refugiados. Se as pessoas continuarem sendo forçadas a abandonar suas casas, continuaremos sendo um mundo em crise". Com esta sincera e lúcida análise, o cardeal Charles Maung Bo, salesiano, arcebispo de Yangon e presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), fez um apelo à comunidade internacional para que a crise gerada pela Covid-19 não derrame todo seu doloroso peso sobre os mais fracos, ou seja, os migrantes, refugiados e as pessoas deslocadas. Ao contrário, deve ser uma oportunidade para construir um mundo mais favorável.
Os migrantes, refugiados e pessoas deslocadas em Mianmar e em toda a Ásia enfrentam situações cada vez mais difíceis: "Eles são obrigados a fugir constantemente, vivem em lugares superlotados e não contam com uma assistência médica adequada", escreveu o prelado em uma carta, divulgada no final de junho.
Os conflitos continuam sendo a principal causa de migração forçada na Ásia, concentrando-se em seu próprio país, Mianmar, onde "guerra, tensões interétnicas e opções políticas causam o deslocamento de milhares de pessoas, que agora morrem de fome no Norte do estado de Rakhine e em outros estados como o Chin". O cardeal lançou um apelo, esperando que "qualquer conflito que cause sofrimento às pessoas possa ser resolvido por meio de diálogo e de uma busca construtiva pela paz".
Referindo-se ao contexto birmanês e a todo o continente, ele acrescentou: "deve ser dada prioridade aos princípios reconhecidos pelo direito internacional, próprios dos países civis no que diz respeito à proteção das pessoas deslocadas", lembrando que "os migrantes e as pessoas deslocadas internamente na Ásia não devem enfrentar discriminação por causa da crise ligada à pandemia da Covid-19 (...). Há uma necessidade urgente de incluir as necessidades dos refugiados, requerentes de asilo e pessoas deslocadas internamente em todas as políticas de resposta a Covid-19, desde os primeiros socorros até auxílio econômico para a sobrevivência".
"Para colocar um fim na crise sanitária, aliviar a fome e a pobreza induzida pela pandemia e impedir a erradicação de pessoas como refugiados e pessoas deslocadas, é preciso enfrentar as verdadeiras causas dos conflitos, parar as ofensivas militares e permitir que as pessoas deslocadas possam retornar às suas aldeias", disse o cardeal.
Por fim, o cardeal salesiano emitiu um alerta sincero às autoridades políticas e religiosas asiáticas, para que "prestem uma atenção especial à difícil situação de migrantes, refugiados e requerentes de asilo que não têm documentos e que os ajudem proporcionando todo o apoio necessário".