Com muita amabilidade, interrogava-os sobre a família, o trabalho, a paróquia, a vida sacramental… Entretinha-os com histórias e brincadeiras, dava-lhes algum presentinho e convidava-os para o oratório dominical. Quando ia embora, deixava-os maravilhados por ter encontrado, como eles diziam, um padre diferente. Dificilmente esses deixavam de frequentar a sua catequese e suas brincadeiras no Oratório de Valdocco.
Nos capítulos 4 e 5 do volume III das Memórias Biográficas encontramos muitos fatos da “pesca” de jovens e meninos para o oratório. O padre Garigliano, seu colega de seminário, nos conta uma delas.
“Um dia acompanhava D. Bosco pelas ruas de Turim, quando na frente da Igreja da Trindade encontramos um jovem malvestido e de aspecto arrogante. E Dom Bosco, amavelmente: - Quem é você? – Quem sou eu?... E o senhor o que quer de mim? Quem é o senhor? – Veja, eu sou um Padre que quer muito bem aos jovens e aos domingos os reúno em um lugar bonito… - Eu sou um pobre jovem desocupado, sem pai e sem mãe, e busco trabalho. – Então, olhe: eu quero ajudá-lo… e como se chama? – Eu me chamo (e disse seu nome) – Então, ouça: domingo espero você junto com os meus meninos… Venha, você vai se divertir, e em seguida eu procurarei um patrão que lhe dê trabalho… vou dar um jeito para que você fique contente. – Não é verdade!
Dom Bosco tirou do bolso uma moeda de dez soldos (metade de uma lira), pôs nas mãos do jovem e lhe disse: - Sim, sim, é verdade. Venha e verá.
O jovem, comovido, olhou a moeda e respondeu: - Dom Bosco! Irei porque, se domingo eu faltar, o senhor vai me chamar de Busiard (mentiroso).
Foi e continuou assiduamente a frequentar o Oratório. Creio que atualmente é um dos Padres da sua Congregação, porque, indo visitar Dom Bosco, eu vi o moço no Oratório com a batina de Clérigo”.
A Família Salesiana continua hoje o trabalho iniciado por Dom Bosco. “O mundo mudou”, e as crianças e os jovens pobres continuam nas praças, nos bares, nas ruas, nos novos areópagos, nos pátios virtuais…
O “coração oratoriano” ainda pulsa em nós, em nossas obras? Como acontecem a abordagem, o papo, o lúdico, as novas linguagens em nossa praxis educativa e pastoral?
Já dizia o poeta: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. A leitura e o conhecimento de nossas origens salesianas nos levam a uma pessoa genial, “rica dos dons de natureza e graça”, imbuída de um grande ideal. Seu tempo era o mesmo de Jesus de Nazaré: não o vivia para si, mas para os seus “pobres jovens”. Enfim, as Memórias Biográficas nos falam constantemente de nosso Pai e Mestre fazendo tudo “para a maior glória de Deus e a salvação das almas”. “Navegar é preciso” em águas mais profundas para que a pesca seja abundante (Lc 5, 4-7)!!!
Padre Osmar A. Bezutte, SDB, é revisor da nova tradução das Memórias Biográficas de São João Bosco (Editora Edebê).