Aos jovens será dedicado o XV Sínodo dos Bispos, a ser realizado em outubro deste ano, em Roma. Com o sínodo, “a Igreja decidiu interrogar-se sobre o modo de acompanhar os jovens a reconhecer e a acolher o chamado ao amor e à vida em plenitude, e também pedir aos próprios jovens que a ajudem a identificar as modalidades mais eficazes para anunciar a Boa Notícia”.
Na esteira deste acontecimento, a Congregação Salesiana coloca como tema de sua Estreia o acompanhamento espiritual dos jovens. Intitulada “Cultivemos a arte de escutar e acompanhar”, a Estreia de 2018 foi escrita pelo padre Ángel Fernández Artime, 10º sucessor de Dom Bosco, e tem por objetivo exortar todos os grupos da Família Salesiana para a novidade do Evangelho presente na vida e na história de cada jovem.
É na realidade peculiar de cada um que aprendemos a conhecer Deus. Neste sentido, somente quando adentramos na vida de cada jovem é que podemos enxergar o rosto jovem de Deus. Essa atitude de escuta e de reconhecimento de Deus na vida do outro não é um dom adquirido de uma vez. Exige tempo, dedicação e gratuidade.
Jesus e a Samaritana
O texto escolhido para ilustrar a Estreia traz dois personagens principais: Jesus e a mulher Samaritana (anônima). A iniciativa de sair de si e de encontrar-se com a mulher é de Jesus. Ele tem sede! O fato de Jesus ter sede contrapõe-se com aquele mesmo personagem que transformou a água em vinho, narrado no capitulo 2 de João, e constitui um paradoxo de difícil entendimento. Deus, em Jesus, revela-se ele mesmo um paradoxo: conversa com a Samaritana, cura em dia de sábado, convida os pecadores para assentarem à mesa com Ele, toca o leproso... Jesus faz-se sedento para nos dizer que Ele mesmo é a água viva que sacia nossa sede e nos restitui a alegria. Como em Caná (Jo 2,1-12), Jesus se apresenta como aquele de quem brota a bebida boa. Sua presença transforma vidas, nos dá alegria.
“Acompanhar os jovens exige sair dos próprios esquemas pré-confeccionados”, afirma o Papa Francisco. A Samaritana é uma mulher, como tantas outras, excluída, sem voz e nem vez. Além de mulher, é Samaritana, isto é, pertence a uma religião diametralmente oposta à dos judeus. Os samaritanos são colocados à margem nas grandes cidades e aldeias. Talvez por isso – por ter preferência pelos excluídos e vulneráveis –Jesus coloca-se ao lado daquela mulher, torna-se um “transgressor da lei”. Sua missão consiste exatamente em amar a todos, sem distinção.
Ambos, Jesus e a Samaritana, estão no poço, trazidos por uma sede insaciável. Mesmo àquela de que se refere Jesus. Não somos, uma vez abastecidos de Deus, saciados de uma vez por todas! É preciso um constante retorno à fonte. Da qual, uma vez abastecidos, somos manancial, canal do qual Ele se serve para chegar a outros. Nos lembra ainda o Papa Francisco: “Para levar os jovens a uma escolha madura é necessário um caminho, que passa às vezes também através de estradas imprevisíveis e distantes dos locais habituais das comunidades eclesiais”.
Do que temos sede?
A Samaritana, como já era de costume, ia até o poço buscar água para matar sua sede. E nós, do que temos sede? Onde temos saciado a nossa sede? Mais do que água, a Samaritana encontrou-se consigo mesma, com seu interior. É preciso encontrar dentro de nós aquele que nos enche de alegria e de sentido. A pergunta de Jesus a André e ao outro discípulo – O que buscais? (Jo 1,38) – é também direcionada a nós, seus discípulos de hoje.
É uma pergunta que deve nos inquietar. Tentar respondê-la é mergulhar nas águas da própria vida. Caso contrário, nossa resposta será sempre superficial. Corre-se o risco de não nos revelar, de não falar de nós, mas passar ao largo da nossa história. Fica-se no externo (bens, títulos, tarefas, fama etc.), na aparente ilusão do ter. É uma atitude de apego, de busca pela segurança que nos acomoda; nos paralisa e nos torna indiferentes à dor do outro. Não, entre os jovens não deve ser assim! Os jovens são sal da terra e luz do mundo; o fermento que age e faz crescer uma sociedade mais justa e fraterna. Nos diz o Papa Francisco: “A fé não é um refúgio para gente sem coragem”.
Neste caminho de escuta da própria vida, nós, salesianos e toda Família Salesiana, somos chamados a ser os amigos e guias dos jovens. Acompanhá-los em seu itinerário vocacional constitui o núcleo central e a força motriz de toda nossa ação pastoral. Que Maria, mulher da escuta atenta e operosa, nos ajude a ouvir e confiar sempre mais no seu Filho Jesus, Mestre Divino. Que Ela se adiante a nós e nos abra o caminho, conduzindo-nos até Cristo.
Leandro Francisco da Silva, SDB, é salesiano, pós-noviço da Inspetoria Salesiana do Nordeste. Reside atualmente em Lorena, SP.