A Bíblia na educação das novas gerações

Quarta, 13 Setembro 2017 13:21 Escrito por  Pe. Marcos Sandrini, SDB
A Bíblia na educação das novas gerações Ivdesign-iStock.com
Setembro é o Mês da Bíblia. Se há um santo que usou a Sagrada Escritura para a educação dos jovens foi Dom Bosco. Durante sua vida, ele não conseguiu colocar a Bíblia nas mãos dos jovens porque era proibido. Mas isto não foi empecilho para que a utilizasse em sua tarefa educativa.  

Já em 1847, escreveu um livro intitulado História Sagrada para uso das escolas útil para qualquer estado de pessoas. No prefácio, colocou dois objetivos. O primeiro era “iluminar a mente” dos seus jovens ouvintes e leitores porque, dizia, “a mente é iluminada pelo conhecimento da Bíblia”. O segundo era “tornar bom o coração”. Em síntese, esses dois objetivos visam educar à Bíblia (mente) e educar com a Bíblia (coração).

 

 

Deste estudo ficam duas certezas. A primeira é que a educação é uma tarefa irrenunciável, universal. A segunda é que a Palavra de Deus é luz para toda pessoa que vive neste mundo. A Bíblia tem a missão de tirar as pessoas da superfluidade e da superficialidade da vida e ajudá-las a buscar o motivo central, radical, que as sustenta. Isso não é fácil. Como vivemos na sociedade do descartável, o que tem valor hoje pode não ter amanhã. Será que nossa vida não tem nenhum valor concreto, forte, que a ajude a ser vivida com profundidade, sabedoria e sabor?  

 

Vamos colocar cinco grandes horizontes de vida que a Palavra de Deus projeta para a educação do povo de Deus. “Ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano” (Sb 12,19). Esta é a meta de toda educação: tornar humanas as pessoas iluminando a mente para tornar bom o coração.

 

Narrativa Bíblica

Vivemos em uma cultura cristã. Nosso povo, nós mesmos, somos cristãos. Nada mais justo que nossa educação aprofunde o que seja ser cristão. Isto é feito levando em conta que também estamos rodeados de outras confissões e religiões. Para que o cristão possa dialogar com os outros, precisa entender a sua fé. Se não nos cuidarmos, daqui a pouco Gênesis é o nome de uma banda de rock; Abraão é o nome de um apresentador de televisão; Natal é só Papai Noel; Páscoa é só coelhinho. Há uma narrativa bíblica que precisa ser conhecida tanto pelos que têm fé na Bíblia como Palavra de Deus como por quem não a tem.

 

Ampliar horizontes

Há situações fortes na vida das pessoas que precisam de aprofundamento. A Bíblia nos ajuda a aprofundar temas como a morte, o nascimento, o crescimento, a dor, a doença, a alegria, a festa. Não basta saber o seu sentido. Participei dos últimos momentos de vida de uma senhora. Antes de falecer ela me disse: “Agora eu entendi que nunca deveria perguntar a Deus o porquê das coisas. Agora eu lhe pergunto o para que dos acontecimentos”. As situações-limite nos ajudam a ampliar nossos horizontes de vida.

 

Tesouros éticos

Todas as religiões têm suas falhas históricas. Algumas, desastrosas. Apesar disso, todas têm tesouros éticos que não podem ser ocultados. Viver o Evangelho é ser mais humano, mais transparente, mais ético. A Bíblia apresenta um ideal moral de vida. “Todo mundo faz assim” não é justificativa para ninguém. É bonito ver um adolescente, um jovem com valores éticos bem definidos de generosidade, de solidariedade e de misericórdia. Mesmo que isto traga “prejuízos” para quem os vive. A Bíblia é uma fonte ímpar de formação da consciência de cada pessoa e de uma comunidade.

 

Pão e beleza

Já dizia o cantor que “a gente não quer só comida”. Toda pessoa precisa de pão e beleza. A Bíblia ajuda as pessoas a olharem o mundo com olhar transparente, generoso, humilde, determinado, justo. Um pedaço de pão é bom. Conquistado e comido na justiça e na dignidade é melhor ainda. “Tempo é dinheiro” diz o provérbio. É necessário, porém, saber “gastar” tempo para apreciar a natureza, uma música, para escutar alguém, para conversar com Deus, para silenciar... “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tm 3,16).

 

Derrubar os ídolos

A grande tarefa da leitura da Palavra de Deus é a de derrubar todos os ídolos. Idolatria é transformar uma criatura em um Deus. Há muitos deuses por aí, exigindo vítimas inocentes, indefesas. Dobrar os joelhos diante das criaturas é apequenar-se, desumanizar-se, ser cruel. Dobrar os joelhos diante de Deus é tonar-se grande, misericordioso, humano. A crueldade que gera dor e sofrimento sem fim para pessoas indefesas é fruto dos grandes ídolos de nossa sociedade. A Bíblia nunca aceitou pessoas que dobram seus joelhos diante de ídolos. Nós dobramos os joelhos (religião), a mente (razão) e o coração (amorabilidade) tão somente ao Deus vivo e verdadeiro.

 

A Bíblia não nos torna pessoas light, incolores, insossas. Pessoas light são fúteis e supérfluas. Caracterizam-se por uma tetralogia desastrosa: o relativismo, o hedonismo, o consumismo e a permissividade. A leitura e a vivência da Palavra de Deus, ao contrário, nos tornam vigorosos, sacrificados, sóbrios e capazes de opções generosas.

 

*Artigo originalmente publicado em Boletim Salesiano – setembro de 2017

 

 
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Última modificação em Terça, 15 Setembro 2020 16:30

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A Bíblia na educação das novas gerações

Quarta, 13 Setembro 2017 13:21 Escrito por  Pe. Marcos Sandrini, SDB
A Bíblia na educação das novas gerações Ivdesign-iStock.com
Setembro é o Mês da Bíblia. Se há um santo que usou a Sagrada Escritura para a educação dos jovens foi Dom Bosco. Durante sua vida, ele não conseguiu colocar a Bíblia nas mãos dos jovens porque era proibido. Mas isto não foi empecilho para que a utilizasse em sua tarefa educativa.  

Já em 1847, escreveu um livro intitulado História Sagrada para uso das escolas útil para qualquer estado de pessoas. No prefácio, colocou dois objetivos. O primeiro era “iluminar a mente” dos seus jovens ouvintes e leitores porque, dizia, “a mente é iluminada pelo conhecimento da Bíblia”. O segundo era “tornar bom o coração”. Em síntese, esses dois objetivos visam educar à Bíblia (mente) e educar com a Bíblia (coração).

 

 

Deste estudo ficam duas certezas. A primeira é que a educação é uma tarefa irrenunciável, universal. A segunda é que a Palavra de Deus é luz para toda pessoa que vive neste mundo. A Bíblia tem a missão de tirar as pessoas da superfluidade e da superficialidade da vida e ajudá-las a buscar o motivo central, radical, que as sustenta. Isso não é fácil. Como vivemos na sociedade do descartável, o que tem valor hoje pode não ter amanhã. Será que nossa vida não tem nenhum valor concreto, forte, que a ajude a ser vivida com profundidade, sabedoria e sabor?  

 

Vamos colocar cinco grandes horizontes de vida que a Palavra de Deus projeta para a educação do povo de Deus. “Ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano” (Sb 12,19). Esta é a meta de toda educação: tornar humanas as pessoas iluminando a mente para tornar bom o coração.

 

Narrativa Bíblica

Vivemos em uma cultura cristã. Nosso povo, nós mesmos, somos cristãos. Nada mais justo que nossa educação aprofunde o que seja ser cristão. Isto é feito levando em conta que também estamos rodeados de outras confissões e religiões. Para que o cristão possa dialogar com os outros, precisa entender a sua fé. Se não nos cuidarmos, daqui a pouco Gênesis é o nome de uma banda de rock; Abraão é o nome de um apresentador de televisão; Natal é só Papai Noel; Páscoa é só coelhinho. Há uma narrativa bíblica que precisa ser conhecida tanto pelos que têm fé na Bíblia como Palavra de Deus como por quem não a tem.

 

Ampliar horizontes

Há situações fortes na vida das pessoas que precisam de aprofundamento. A Bíblia nos ajuda a aprofundar temas como a morte, o nascimento, o crescimento, a dor, a doença, a alegria, a festa. Não basta saber o seu sentido. Participei dos últimos momentos de vida de uma senhora. Antes de falecer ela me disse: “Agora eu entendi que nunca deveria perguntar a Deus o porquê das coisas. Agora eu lhe pergunto o para que dos acontecimentos”. As situações-limite nos ajudam a ampliar nossos horizontes de vida.

 

Tesouros éticos

Todas as religiões têm suas falhas históricas. Algumas, desastrosas. Apesar disso, todas têm tesouros éticos que não podem ser ocultados. Viver o Evangelho é ser mais humano, mais transparente, mais ético. A Bíblia apresenta um ideal moral de vida. “Todo mundo faz assim” não é justificativa para ninguém. É bonito ver um adolescente, um jovem com valores éticos bem definidos de generosidade, de solidariedade e de misericórdia. Mesmo que isto traga “prejuízos” para quem os vive. A Bíblia é uma fonte ímpar de formação da consciência de cada pessoa e de uma comunidade.

 

Pão e beleza

Já dizia o cantor que “a gente não quer só comida”. Toda pessoa precisa de pão e beleza. A Bíblia ajuda as pessoas a olharem o mundo com olhar transparente, generoso, humilde, determinado, justo. Um pedaço de pão é bom. Conquistado e comido na justiça e na dignidade é melhor ainda. “Tempo é dinheiro” diz o provérbio. É necessário, porém, saber “gastar” tempo para apreciar a natureza, uma música, para escutar alguém, para conversar com Deus, para silenciar... “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tm 3,16).

 

Derrubar os ídolos

A grande tarefa da leitura da Palavra de Deus é a de derrubar todos os ídolos. Idolatria é transformar uma criatura em um Deus. Há muitos deuses por aí, exigindo vítimas inocentes, indefesas. Dobrar os joelhos diante das criaturas é apequenar-se, desumanizar-se, ser cruel. Dobrar os joelhos diante de Deus é tonar-se grande, misericordioso, humano. A crueldade que gera dor e sofrimento sem fim para pessoas indefesas é fruto dos grandes ídolos de nossa sociedade. A Bíblia nunca aceitou pessoas que dobram seus joelhos diante de ídolos. Nós dobramos os joelhos (religião), a mente (razão) e o coração (amorabilidade) tão somente ao Deus vivo e verdadeiro.

 

A Bíblia não nos torna pessoas light, incolores, insossas. Pessoas light são fúteis e supérfluas. Caracterizam-se por uma tetralogia desastrosa: o relativismo, o hedonismo, o consumismo e a permissividade. A leitura e a vivência da Palavra de Deus, ao contrário, nos tornam vigorosos, sacrificados, sóbrios e capazes de opções generosas.

 

*Artigo originalmente publicado em Boletim Salesiano – setembro de 2017

 

 
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